CORAÇÃO QUE SABE AMAR É
A MORADA DIVINA
Segunda-Feira da V Semana da Páscoa
19 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 14,21-26
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 21 “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora,
quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”.
22 Judas – não o Iscariotes – disse-lhe: “Senhor, como se explica que te
manifestarás a nós e não ao mundo?” 23 Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama,
guardará minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a
nossa morada. 24 Quem não me ama não guarda a minha palavra. E a palavra que
escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. 25 Isso é o que vos disse
enquanto estava convosco. 26 Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará
em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho
dito”.
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O texto do evangelho de hoje faz
parte da conversa de Jesus com os seus discípulos na véspera de sua morte ou
faz parte do longo discurso de despedida de Jesus de seus discípulos (Jo
13-17).
A morte de Jesus vai ser um ir ao
encontro do Pai celeste. Esse modo novo de ver situação deve constituir para os
discípulos motivos de alegria e não de medo, pois Jesus Cristo não vai
abandoná-los. O Santo Espírito vai acompanhá-los no mundo, uma nova forma da
presença de Jesus no meio deles. E este Espírito Santo vai facilitar os
discípulos na compreensão das palavras de Jesus, que até então sem condições
para encontrar seu sentido. Jesus é a mensagem e o Mensageiro de Deus, o
Profeta e a Palavra de Deus e é Deus (cf. Jo 1,13). Em Jesus e por Ele tudo
ficou dito, tudo o que Deus tinha que nos dizer. Mas nem tudo ficou
compreendido. Por isso, a nova presença de Jesus no Santo Espírito vai ajudar
os discípulos a compreenderem tudo que foi dito por Jesus.
“Se alguém me ama, guardará a
minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”,
Jesus disse no evangelho de hoje.
Jesus nos convida a uma comunhão
vital: nossa fé e nosso amor a Jesus nos introduzem num admirável intercâmbio.
Se tivermos fé e amor, o próprio Deus fará Sua morada em nós e nos
converteremos em templos de Deus e de Seu Espírito.
Deus faz sua morada em nós em
virtude de uma dupla exigência: guardar sua palavra e amá-lo de verdade no
próximo (amor fraterno). Deus está presente em cada um de nós na medida em que
ama o próximo. A morada de Deus, a casa de Deus, sua residência já não é um
templo, Deus não mora na parede das igrejas, e sim que sou eu mesmo morada de
Deus na medida em que vivencio o amor fraterno, na medida em que sou fiel à
palavra de Jesus. Em outras palavras, o amor cria comunhão e comunidade tanto
no nível humano como no nível divino. Com efeito, sem o amor não haveria
nenhuma comunhão com os outros e conseqüentemente com Deus, pois “Deus é amor”
(1Jo 4,8.16).
Mas esta presença de Deus no homem
não é estática; é a presença de seu Espírito, seu dinamismo de amor e vida que
faz o homem participar de Seu próprio amor. Se Deus faz sua morada no coração
de quem ama, isto significa que Deus se afasta de mim quando houver em mim o
desamor, a injustiça, o ódio, a exploração dos irmãos, a falta de perdão e
assim por diante.
Por isso, não basta ficar-me no
nível de idéias, de sentimentalismo, de pensamentos e sim que esse novo
pensamento, essas novas idéias tenham que provocar em mim uma mudança de vida.
Não basta abrir a mente, tenho que abrir também a porta de meu coração, de
minha vida vivendo o amor fraterno para tornar-me morada de Deus. O homem que
ama é um homem divinizado. “Sem amor o rico se torna pobre; com amor o pobre
se torna rico” (Santo Agostinho). A prática cristã do amor é o sinal mais
claro e evidente de nossa pertença à Igreja de Jesus. Quem ama como Jesus amou,
entra no recinto do amor de Deus Pai e mergulha no mistério salvador de Deus: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e
faremos nele a nossa morada”. Amar a Jesus é deixar-se guiar por suas
palavras e inspirar-se em seu modo de viver. Ele vive por amor e para o amor. É
um amor universal que não exclui ninguém. Quem se entrega a este projeto de
amor será transformado em morada de Deus.
A afirmação de Jesus é, na verdade,
um convite ao progresso interior que nos torna semelhantes a Deus pela
fidelidade à palavra, e faz reconhecer, nesta fidelidade, a morada das pessoas
divinas. O amor fraterno nos aproxima de Deus. A partir do momento em que
alguém amar, ele será a nova morada de Deus.
Se em Jo 14,3 Jesus disse que iria
preparar para os fiéis uma morada no céu, agora neste texto (vv.22-23) fica claro
que a morada do Pai e de Jesus no meio de nós começa aqui e agora, na medida em
que observamos o mandamento de Jesus: mandamento do amor fraterno. Se no
passado Deus se manifestava em lugares e fenômenos naturais, agora fica muito
claro que as pessoas que amam como Jesus são manifestação da presença de Deus.
Assim, a separação entre o homem e Deus é superada, e a busca do Pai, tema
essencial do Discurso é satisfeita pelo próprio Pai. O nosso Deus não é o Deus
distante, mas aquele que se aproxima do homem e vive com ele, formando uma
comunidade com os homens, objeto do seu amor.
Por isso, buscar a Deus não exige
ir encontrá-lo fora de próprio homem, mas deixar-se encontrar e amar por Ele. A
“morada” de Deus está em nós mesmos e entre nós, se estivermos unidos a Jesus e
ao Pai na fidelidade e na prática do mandamento do amor. A resposta ao amor a
Jesus se expressa no amor aos outros homens (guardar minha palavra). E o Pai e
Jesus respondem à fidelidade do discípulo dando-lhe a experiência de sua
companhia e seu contato pessoal.
Toda vez que alguém, ao escutar a
mensagem do amor, a repete para si mesmo e a põe em prática, insere-se na
família de Deus e passa a ser, com Jesus, uma manifestação de Deus ao mundo. A
comunidade cristã e o “mundo”, então, distinguem-se entre si pela presença ou
ausência do amor. O amor torna-se a razão de diferença entre os discípulos e o
mundo. Sem amor, o homem continua carnal, incapaz da autêntica experiência de
Deus. Deus escolhe para sempre viver no coração que ama.
Jesus também nos convida a
permanecermos atentos ao Espírito, nosso verdadeiro Mestre, a memória de
Cristo, a memória para os cristãos. Como memória de Cristo o Espírito vai nos
revelando a profundidade de Deus que nos conecta com Cristo: “O Defensor, o
Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos
recordará tudo o que eu vos tenho dito”. Esse Espírito tem uma função de
“pedagogo” de nossa fé porque ele é quem nos prepara para o encontro com Cristo
e com o Pai e ele é quem suscita nossa fé e nosso amor. Ele desperta a memória
da Igreja.
P. Vitus Gustama,svd
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