AMOR CRISTÃO TEM SUA ORIGEM NO AMOR DIVINO
Quinta-Feira da V Semana da Páscoa
22 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 15,9-11
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 9 “Como
meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu
guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos
disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja
plena”.
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Com a metáfora da videira e os ramos, no texto do evangelho
do dia anterior, Jesus nos convidava para permanecermos nele a fim de podermos
dar fruto (cf. Jo 15,1-8). O texto do evangelho de hoje continua o mesmo tema,
mas se enfatiza sobre a permanência em Cristo no amor, guardando os mandamentos
do Senhor. Neste texto se estabelece uma misteriosa e admirável relação
tríplice. E o Pai é a fonte de toda essa relação. O Pai ama a Jesus e Jesus ama
ao Pai. Jesus, por sua vez, ama aos discípulos e estes devem amar a Jesus
através do amor mútuo entre os discípulos (Jo 15,12) e permanecer no amor de
Jesus, guardando seus mandamentos como Jesus que permanece no amor ao Pai
cumprindo Sua vontade.
“Como meu Pai me
amou, assim também eu vos amei”, disse Jesus aos discípulos. É
maravilhosa esta afirmação e é profundo seu conteúdo. O amor com que Jesus nos
ama é o mesmo amor com que Ele é amado pelo Pai. A nossa união com Jesus é
comparável à de Jesus com o Pai. Como cristão eu preciso viver esta verdade na
minha vida cotidiana com muita alegria. Deus Pai ama o Filho incondicionalmente
(cf. Mt 3,17; Mc 1,11; Lc 3,22). E Jesus nos ama da mesma maneira:
incondicionalmente. Ao viver esta verdade nós não teremos mais medo de viver
nossa vida e de encarar seus problemas, pois Jesus nos ama incondicionalmente
até o fim. O amor nos tranqüiliza, o amor nos dá segurança, o amor nos leva ao
encontro do outro, o amor nos impulsiona para ajudar os outros na sua
necessidade, e o amor nos leva até o céu (cf. Mt 25,34-40). Jesus nos ama
condicionalmente para que nos amemos uns aos outros incondicionalmente (cf. Jo
15,12), pois nisto seremos reconhecidos como discípulos do Senhor (cf. Jo
13,35). O amor transforma qualquer um num verdadeiro seguidor de Cristo.
“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Isto
quer dizer também que o amor cristão nasce e começa em Deus. Originalmente é
coisa de Deus e não nossa. A iniciativa é de Deus: “Amamos porque Deus nos
amou primeiro” (1Jo 4,19). Deus é amor (1Jo 4,8.16), origem e motor do
amor. O Filho, Jesus, se origina do Pai num processo de amor que é o Espírito.
Este amor em Deus é comunidade, Trindade. E este amor vai se manifestando na
criação, na encarnação, na filiação, na amizade, na alegria definitiva do
encontro derradeiro. Deus é sempre a origem e o término.
E o sinal mais evidente, a encarnação desse amor é Jesus: “Deus
amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). Jesus é a medida do amor
de Deus e o exemplo a seguir. Todas as palavras de Jesus, todas as obras de
Jesus são manifestação do amor do Pai por nós todos. Jesus é o amor de Deus
feito rosto humano.
E este amor que nasce no Pai e passa por Jesus termina
necessariamente nos irmãos. O amor cristão tem dois pólos: Deus e os irmãos (o
homem). Quem não ama o irmão, não conhece Deus, não conhece Jesus, não entendeu
o que é a fé cristã. Sem amor a Deus e ao irmão, não há fé cristã.
Amor cristão é, então, um amor circulante: o amor que vem do
Pai para o Filho, Jesus e de Jesus para
nós e de nós para os irmãos.
“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. É
maravilhoso o que Jesus nos diz hoje. Há alguém que me ama com o amor divino:
Jesus Cristo. O amor com que Jesus me ama é o mesmo amor com que Ele é amado
pelo Pai. Diante de Deus sou amado e sou amado eternamente, porque Aquele que
me ama é eterno: “Eu te amei com amor eterno, por isso, conservei para ti o
amor”, diz Deus através do profeta Jeremias (Jr 31,3). Posso estar rodeado
pelas dificuldades ou problemas, mas eu sei que há alguém que me ama. A certeza
desse amor eterno por mim me dá força para lutar e para melhorar minha vida. A
certeza desse amor eterno me dá serenidade em tudo. De fato, eu não estou sozinho
na minha luta de cada dia, pois há alguém que me ama: “Como meu Pai me amou,
assim também eu vos amei”. Na minha oração só posso dizer a Jesus:
“Obrigado, Senhor Jesus, porque me ama eternamente”.
Mas a relação com Deus não é algo automático. Por isso,
Jesus acrescenta: “Permanecei no meu amor”. A palavra “permanecer” é uma forma de
acreditar em Jesus, de deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, de deixar-se
envolver pela ternura. É uma entrega total em Jesus para que Ele possa operar
totalmente em nós a fim de que possamos ser reflexos do mesmo amor para o mundo
ao nosso redor.
“Se guardardes os meus mandamentos, vós permanecereis no meu
amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor”. Este “Se” é inquietante para nós,
porque é a responsabilidade de nossa liberdade. Eu sei que Deus me ama, mas
será que eu permaneço no amor de Deus? Eu sei que sou filho (a) de Deus, mas
será que eu vivo como tal? Eu sei que faço parte da família de Deus, mas será
que estou dela e nela? São Paulo nos esclarece sobre este tema ao nos dizer: “Não
devais nada a ninguém, a não ser o amor mutuo, pois quem ama o outro cumpriu a
Lei... A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a
plenitude da Lei” (Rm 13,8.10). Tudo isto significa que o amor divino com
que eu sou amado deve também transparecer e circular na minha relação com os
outros. Nisto mostrarei que eu permaneço no amor divino.
O amor fraterno quando for vivido na sua profundidade leva a
pessoa à alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). O amor nos dá alegria e alegra os
demais homens. A verdadeira alegria brota do amor e da fidelidade com que se
guardam na vida concreta as leis do amor. Sentiremos essa alegria na medida em
que permanecermos no amor a Jesus, guardando os mandamentos de amor, seguindo o
estilo de sua vida. Quando eu perco a alegria de viver será que isso é sinal de
que eu perco minha consciência de que Deus me ama? Quando eu vivo na permanente
tristeza e no isolamento dos demais, será que isso é sinal de que não mais
deixo o amor de Deus circular em mim? O maior causador da alegria na
convivência é o amor mútuo. Se vivermos tristes, será que isso acontece por
causa da falta de nossa permanência no amor divino? Será que abandonamos o amor
na nossa vida, por isso é que ficamos tristes o tempo todo? Será que nosso amor
está nem morno nem quente, como diz o livro de Apocalipse (Ap 3,16)?
P. Vitus Gustama,svd
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