CRER NO PÃO DA VIDA
Quarta-Feira da III Semana da Páscoa
07 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 6, 35-40
Naquele tempo, disse Jesus à
multidão: 35 “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais
fome e quem crê em mim nunca mais terá sede. 36 Eu, porém, vos disse que
vós me vistes, mas não acreditais. 37 Todos os que o Pai me
confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei. 38 Pois eu desci do céu não
para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39 E esta é a vontade
daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os
ressuscite no último dia. 40 Pois esta é a vontade
do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu
o ressuscitarei no último dia”.
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O “discurso do Pão da Vida” que
Jesus dirige a seus ouvintes depois da multiplicação dos pães (Jo 6,1-15) entra
em seu desenvolvimento decisivo. Esta catequese de Jesus tem duas partes muito
claras: uma que fala da fé nele, e outra da Eucaristia. Na primeira, Jesus
afirma “Eu sou o Pão da vida”; na segunda ele dirá, mais tarde: “Eu darei o Pão
da vida”. Ambas estão intimamente relacionadas, e formam parte da grande pagina
da catequese que o evangelista João nos oferece em torno do tema do Pão.
Hoje escutamos a primeira parte.
Repetimos a ultima frase do texto do evangelho do dia anterior: “Eu sou o Pão
da vida” que tem como conteúdo a fé em Jesus: “Quem vem a mim não terá mais
fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. Notam-se, neste versívulo, os
verbos usados: “Quem vem a mim”, “quem crê em mim”, “quem vê o Filho e crê
nele”. Trata-se de crer no Enviado de Deus. Aqui, nesta primeira parte, Jesus é
chamado de “Pão” não no sentido eucarístico, e sim mais no sentido metafórico:
para uma humanidade faminta, Deus envia-lhe seu Filho como o verdadeiro Pão que
sacia.
A expressão “Eu sou o Pão da vida”
se refere à dádiva (cf. Jo 3,16). A vida eterna simbolizada por este Pão é a
própria vida. Jesus é o lugar e o fundamento da doação da vida dada por Deus ao
homem. Não se trata do direito do homem em receber esta vida, mas trata-se da
dádiva radical vinda de Deus para a humanidade. Este dom é, ao mesmo tempo, a
doação e a comunicação que Deus faz de si mesmo em Jesus Cristo para a
humanidade. Em Jesus Deus está totalmente à disposição do homem. Jesus
compartilha a vida de Deus com o homem para que este seja salvo. Em Jesus, Deus
quer estar à disposição do homem, quer se doar e compartilhar sem medida. Jesus
se dispõe para me salvar, para eu poder chegar à eternidade. Mas eu preciso
crer em Jesus, o Pão da Vida. O efeito do crer em Jesus é claro: quem crê n’Ele
“jamais terá fome”, “não ficará perdido”, “será ressuscitado no ultimo dia”,
“terá vida eterna”.
“Eu sou o Pão da vida”. É uma
formula de uma força extraordinária. A palavra ou os ensinamentos de Jesus são o
verdadeiro alimento para nossa vida de cada dia. Ele próprio é o Pão da vida
para nossa vida. Através desta afirmação Jesus pretende algo exorbitante e
radical: ele se apresenta como a fonte suprema da salvação, em múltiplas formas
que evocam o “Eu sou o que sou” do mesmo Deus (cf. Ex 3,14):
·
Eu sou o Pão da Vida (Jo 6,35. 48-51)
·
Eu sou a Luz do mundo (Jo 8,12; 9,5)
·
Eu sou a Porta das ovelhas (Jo 10,7-9)
·
Eu sou o Bom Pastor (Jo 10,11-14)
·
Eu sou a Ressurreição e a Vida (Jo 11,25)
·
Eu sou a verdadeira Videira (Jo 15,1-5)
“Eu sou o pão da vida: aquele que
vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede”.
O paralelismo das duas frases
permite aclarar a uma pela outra. Quem vem a Jesus, quem crê em Jesus não
necessita ir para outra parte a fim de saciar-se. Já não tem mais fome nem sede
de outra coisa. Jesus é fonte de equilíbrio e de gozo, fonte de sossego. A
maioria de nossas tristezas e de nossos desequilíbrios acontece porque ainda
não sabemos nos apoiar sobre a rocha da Palavra substancial do Pai que é Jesus
Cristo.
Ver, vir, crer: para que nossa
Eucaristia seja frutuosa, antes temos que entrar nesta dinâmica de aceitação de
Cristo, de adesão a sua forma de vida. O que nos prepara a “comer” e a “beber”
com fruto o alimento eucarístico é o mesmo Cristo, que nos é dado primeiro como
Palavra vivente de Deus, para que “venhamos”, “vejamos” e “creiamos” nele.
Assim teremos a vida em nós. A Eucaristia tem pleno sentido quando se celebra
na fé e da fé. A fé chega a seu sentido pleno quando desemboca na Eucaristia e
conseqüentemente na partilha com os irmãos aquilo que temos e somos.
“Crer”, “ver” e “vir a Jesus” são
apresentados aqui como equivalentes: com isso se põe em evidência o fato de que
a fé é uma atitude vital de adesão para a pessoa de Cristo, muito mais do que
ser o “assentimento intelectual a uma suma de verdades dogmáticas abstratas.
“Crer” é dar o próprio coração
(Credo= latim:Cor, cordis: coração; Dare: dar). Credo significa
eu dou o meu coração para Deus. O coração é o centro para o homem. A entrega do
meu coração a Deus se expressa ou se concretiza no amor fraterno: “Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).
“Ver” Jesus é reconhecer suas
relações profundas com o Pai a ponto de os dois se tornarem um só (cf. Jo
14,7.8b.10-11; 17,21-23). Ver Jesus também significa reconhecer no irmão outro
Cristo com quem o Senhor se identifica, especialmente com o necessitado (cf. Mt
25,40.45)
“Vir a
Jesus” é imitá-lo, é reproduzir sua atitude, é viver sua vida de doação, é ser
seu discípulo.
“Crer”, “Ver” e “Vir” são verbos
referentes à fé em Jesus. A fé é o elemento sustentador para a vida e a
salvação do homem. na comunhão com o Pão da Vida (Jesus), a fome de vida do
homem é saciada como também sua sede de vida. A promessa de Jesus, para quem
crê nele, de que “não terá mais fome e nunca mais terá sede” significa a
vitória do homem sobre a morte e esta vitória já está presente na vida de quem
crê em Jesus, o Pão da Vida.
“Eu sou o Pão da Vida. Quem vem
a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. Dá-me Tua
força, Senhor, para que eu possa ir até a Ti. Dá-me Tua firmeza para que eu
possa crer em Ti em todos os momentos de minha vida. E dá-me Tua capacidade para
que eu possa ver-Te em todos os acontecimentos da minha vida.
P. Vitus Gustama,svd
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