ESTAR COM CRISTO PARA
ESTAR COM O PAI DO CÉU
Sábado da IV Semana da
Páscoa
17 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 14,7-14
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 7“Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.
E desde agora o conheceis e o vistes”. 8Disse Filipe: “Senhor,
mostra-nos o Pai, isso nos basta!” 9Jesus respondeu: “Há tanto tempo
estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu
dizes: ‘Mostra-nos o Pai”? 10Não acreditas que eu estou no Pai e o
Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é
o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. 11Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao
menos, por causa destas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos
digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do
que estas. Pois eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome,
eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. 14Se
pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei.
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O texto do evangelho lido neste dia
faz parte do discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de
João (Jo 13-17).
Quando Jesus disse aos discípulos: “Se
vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e
o vistes”, logo Filipe pediu: “Senhor, mostra-nos o Pai,
isso nos basta!”.
O pedido de Filipe para Jesus mostrar
o Pai tem um tom de ousadia do ponto de vista judaico. Segundo a visão bíblica
é impossível ver Deus e ao mesmo tempo o homem que viu Deus permanece vivo (Cf.
Ex 33,20). Por isso é que, na Bíblia, todas as pessoas ficaram apavoradas
diante de qualquer manifestação divina (teofania), pois há possibilidade de
morrer.
Diante da pergunta de Filipe, Jesus
responde que o Pai não é acessível ao olhar comum. O Pai é acessível através de
uma contemplação (contemplar significa olhar, observar com atenção para descobrir
seu significado). E a contemplação se apóia no sinal por excelência: o Filho,
Jesus Cristo e suas obras, pois Jesus é a Palavra de Deus feita carne (cf. Jo
1,14; Mt 1,23). Jesus é tão unido ao Deus Pai a ponto de ser reflexo total de
Deus diante dos homens. Jesus e o Pai são um só (cf. Jo 14,10; 17,21-22). Para
contemplar o Pai é preciso descobrir o mistério do Filho: descobrir sua relação
com o Pai, seu papel mediador e a significação de suas obras. Todas as obras de
Jesus apontam para Deus. Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer: “Eu
estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,10). Tudo de Jesus fala do Pai ou leva
o homem ao Pai. Entre Jesus e o Pai há uma total sintonia. O ultimo critério de
identificação e sintonia são as obras. E a obra da redenção feita por Jesus nos
faz compreendermos Deus como um Pai cheio de amor, de ternura e de misericórdia
para nós (cf. Jo 3,16).
E esta contemplação do Pai na
pessoa e na obra do Filho deve ser estendida nas obras de cada cristão: “Quem
acredita em mim, fará as obras que eu faço” (Jo 14,12). A vida e as obras
de cada cristão devem levar os outros a contemplarem Deus, devem ter uma função
de levar as pessoas para Deus. As obras boas que o cristão faz falam por si de
Deus para o mundo. Desse modo cada cristão se converterá em sinal da presença
do Pai no mundo que aponta sempre para Deus. Neste sentido pedir “em nome de
Jesus” (Jo 14,14) equivale, efetivamente, a solicitar a presença de Cristo no
atuar do cristão para que ele possa ser verdadeiramente sinal da presença de
Deus no mundo.
Somente para aquele que não sabe
qual é o destino de sua vida não existe um caminho certo e seguro. Mas se ao
final de nossa existência terrena queremos estar com Cristo gozando da gloria
do Pai, não há outro caminho a não ser o próprio Cristo. Nele nos é manifestado
nosso Deus como Pai amoroso e misericordioso, próximo de nós e disposto a nos
salvar e nos e a nos levar a participarmos de Sua vida eterna. Não somente as
palavras de Jesus que nos fazem entendermos quem é Deus para nós, mas também
suas obras nos fazem experimentarmos o amor que Deus tem para nós. Ir atrás das
pegadas de Cristo é caminhar com Sua Igreja, Sua esposa que é a pegada de Seu
amor e de Sua entrega que Ele deixou para a humanidade para que possa ir ao encontro
definitivo com o Pai com segurança.
“Não acreditas que eu estou
no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim
mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras”,
disse Jesus a Filipe.
Jesus era um homem de Nazaré de
carne e de osso, que pisava o solo de Palestina, um homem que tinha amigos,
relacionamentos humanos, que comia e bebia com seus amigos, que tinha cansaço,
fome e sede. Mas era um homem equilibrado por excelência. Era um homem humilde
(Mt 11,29). Era um homem sem ambição nem orgulho, pois toda vez que a multidão
queria torná-lo rei, ele se afastava para estar em contato com o Pai no
silencio e na oração prolongada (cf. Jo 6,15). Era um homem que se rebaixava
diante de seus amigos para lavar-lhes seus pés (cf. Jo 13,1-20). Mas esse homem
é, ao mesmo tempo, estava em comunhão plena com Deus, se identificava com Deus,
que fazia tudo conforme a vontade de Deus: “Eu estou no Pai e o Pai está em
mim”. Jesus era um homem cheio de Deus. As suas amizades com outras pessoas
não atrapalhavam sua comunhão plena com Deus. Ao contrário, era tão profunda
sua comunhão com Deus a ponto de ter sido tão profunda também sua amizade com o
homem (cf. Jo 15,15). Por ter sido o homem de Deus, Jesus era um homem do povo
e para o povo.
Ser cristão é ser outro Cristo no
mundo. Se Cristo Jesus era um homem cheio de Deus, logo cada cristão deve ser
uma pessoa cheia de Deus. Se Cristo Jesus foi o homem de Deus e por isso, era
um homem do povo e para o povo, logo o cristão deve ser também um homem de Deus
para que se torne um homem do povo e para o povo. Conseqüentemente, nenhum
cristão pode ser uma pessoa egoísta e isolada. Cada cristão é de Cristo e o
Cristo é do povo: “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (1Cor 3,23).
“Quem acredita em mim, fará as
obras que eu faço e fará ainda maiores do que essas” (Jo 14,12). Não se
trata das obras maiores do que as que Jesus fez. Mas trata-se da expansão de
sua mensagem por todo o mundo. Jesus limitou sua atividade em Palestina com um
pequeno numero de discípulos. Agora, através das obras boas praticadas pelos
cristãos espalhados pelo mundo Cristo se faz presente no mundo. Nossas obras se
tornarão maiores, se as fizermos no espírito de Cristo e não de acordo com o
nosso gosto. Toda obra no espírito de Jesus tem como objetivo edificar os
outros na sua dignidade. É ser vida para os demais como Cristo é vida dada a
todos nós. Ao fazer as obras pelo bem de
todos, o cristão poderá aplicar para si a frase de Jesus de outra maneira: “Eu estou
em Cristo e Cristo está mim”. Ser cristão significa ser outro Cristo. Se o
mundo não percebe na minha maneira de viver e de proceder que sou cristão é
porque eu não estou mais em Cristo nem Cristo está em mim. Desta maneira Santo
Agostinho tinha razão ao dizer: “De que vale ter o nome de cristão se
tua vida não é cristã? Há muitos que se denominam médicos e não sabem curar.
Muitos se dizem vigilantes noturnos não fazem mais que dormir a noite inteira.
Assim também muitos se chamam cristãos, mas não o são em seus atos. Em sua
vida, moral, fé, esperança e caridade são muito diferentes do que declara seu
nome” (In epist. Joan. 4,4).
“Senhor, mostra-nos o
Pai, isso nos basta!”, pediu Filipe a Jesus. Em outras palavras: Onde está
Deus? No seu livro O Deus Em Quem Não Creio, Juan Arias
dá algumas respostas. “Deus está na tua vida vazia. É tudo o que desejarias lá
meter para a encher... Deus é o sol que desejarias ver brilhar quando as trevas
irromperam nos teus olhos... Está naqueles olhos cheios de luz que, só ao
olhá-los e amá-los, te tornaram mais criança, mais inocente, mais livre, mais
poeta e mais concreto; mais terno e mais seguro; menos “tu” e mais “próximo”.
Deus está nessa sede de limpeza que faz sentir a tua boca seca e pegajosa,
depois de qualquer infecção do espírito ou da carne. Está à porta de cada
desilusão; são essas mãos invisíveis em que não crês, mas que desejarias
apertar, cheias de fidelidade, quentes de compreensão, eletrizadas por um afeto
que resiste ao tempo...Deus está no palpitar intato de cada novo ser...Está no
conjunto de sentimentos que vibram em todo o ser da mulher que acaba de ser
mãe...Deus está ali; naquele cantinho mais secreto da tua vida, aonde ninguém
chega, em que uma voz que não sabes donde vem, nem para onde vai, te diz o que
não querias ouvir, te recorda o que desejarias ter esquecido, te profetiza o
que nunca desejarias saber. Nessa voz que não ouves, mas que te desaprova.
Nessa voz que não é tua, mas que nasce em ti e que nem o sono, nem o barulho,
nem a bebida, nem a carne conseguem fazer calar...Está nesse abismo profundo da
tua incredulidade...Está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te
reconcilias com a tua consciência e que te dá a sensação de renasceres...Deus
está nessa força misteriosa que nos mantém vivos, que nos impede de
enlouquecer, que nos evita o suicídio depois de certas provas dramáticas da
vida, depois de certos desgostos mais cruéis e trágicos do que a morte...Deus
está sobretudo onde reina o amor”.
Cristão, onde está teu Deus?
Mostra-nos teu Deus é o pedido do mundo para cada cristão. Qual sua resposta?
P. Vitus Gustama,svd
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