VIVER COMO JUSTOS SOB O
IMPULSO DO ESPÍRITO DIVINO
Terça-Feira da VI Semana da Páscoa
27 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 16,5-11
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 5 “Agora, parto para aquele que me enviou, e nenhum de
vós me pergunta: ‘Para onde vais?’ 6Mas, porque vos disse isto, a
tristeza encheu os vossos corações. 7No entanto, eu vos digo a
verdade: É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o
Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei. 8E quando vier, ele
demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: 9o
pecado, porque não acreditaram em mim; 10a justiça, porque vou para
o Pai, de modo que não mais me vereis; 11e o julgamento, porque o
chefe deste mundo já está condenado”.
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Continuamos acompanhando o longo discurso
de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17).
“Agora, parto para aquele que me
enviou, e nenhum de vós me pergunta: ‘Para onde vais?’ Mas, porque vos disse
isto, a tristeza encheu os vossos corações”, disse Jesus no evangelho deste
dia.
Jesus anuncia aos discípulos a sua
morte iminente (partida) que provoca uma reação negativa nos discípulos:
tristeza (Jo 16,6) e perturbação (Jo 14,1). Mas esta partida (morte) traz, ao
mesmo tempo, conseqüências positivas: a vinda do Paráclito (Jo 16,7) e a
reunião definitiva (Jo 14,2-3).
Jesus fala da sua morte, que só
mais tarde os discípulos vão poder entender seu significado à luz do Espírito
Santo (cf. Jo 16,12-13). Como aconteceu com qualquer um de nós. Muitas coisas
na vida só podemos entender seu significa ou sua insignificância quando a idade
vai avançando e as experiências vão se acumulando. Só quando encontramos nossas
veias de coração entupidas é que podemos entender que o cigarro que fumávamos
com muita paixão, a gordura da carne que consumimos com muito apetite, a bebida
alcoólica que engolimos freqüentemente fazem mal para nossa saúde e encurtamos
nossa presença neste mundo, e diminuímos nosso tempo nesta terra para ajudar os
demais com nossos dons.
Os discípulos vão dar testemunho de
Jesus, somente quando entenderem quem é Jesus, o que significou a sua presença
no mundo, e qual foi o sentido da sua morte e da sua ressurreição. Quem pode
possibilitar-lhe este entendimento é o Espírito Santo prometido por Jesus. Mas
Jesus alerta os discípulos que vão sofrer perseguições por causa desse
testemunho.
Neste texto do evangelho de hoje
Jesus afirma que a sua morte é uma partida para Aquele que o enviou. Este
retorno Àquele que o enviou mostra que a causa pela qual Jesus lutava e vivia
era a de Deus que é a salvação do mundo (Jo 3,16). Por isso, sua volta para
Deus é para ser glorificado. A morte, para Jesus, é o momento da glorificação.
É a “hora” de Jesus (cf. Jo 2,4; 12,23). A morte de quem vive de acordo com a
vontade de Deus resumida no amor fraterno (ágape) é o momento de glorificação e
não é um momento de tristeza. O homem morre não quando deixa de viver e sim
quando deixa de amar.
Os discípulos continuam sem
compreender a morte como ida ao Pai. Também não pedem explicações a Jesus a
respeito. Eles se sentem tristes ao pensar na separação que eles interpretam
como desamparo (Jo 14,18). Para eles sem Jesus na sua presença física eles se tornam
indefesos no mundo e diante do mundo.
“Quando vier o Defensor,
ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: o
pecado, porque não acreditaram em mim; a justiça, porque vou para o Pai, de
modo que não mais me vereis; e o julgamento, porque o chefe deste mundo já está
condenado”.
O papel do Paráclito (o Defensor) é
convencer o mundo no sentido de demonstrar, de provar, de culpar e de condenar.
O Paraclito (o Espírito) executará a sentença de Deus contra o mundo. Para João
o juízo “final” não acontecerá nos últimos dias, mas já agora pelo fato de que
a decisão escatológica já se concretizou na cruz e na ressurreição de Jesus. O
Espírito convencerá o mundo sobre o pecado que consiste na incredulidade e no
fato de fechar-se ao amor do Criador (Jo 3,16) manifestado em Jesus Cristo.
O sistema injusto condena o justo
como criminoso. O sistema injusto se faz juiz contra os justos e honestos. É a
inversão de valores em nome do interesse e das vantagens individuais. Mas o
Espírito vai reabrir o processo para pronunciar a sentença contrária. Os que se
fizeram juízes serão os culpados e culpáveis. E o condenado pelo sistema
encontrará a verdade em Deus e o próprio Deus, que não pode ser subornado, será
o ponto de referência diante do qual cada um se condena ou se culpa. Diante da
verdade a própria mentira se condena. Deus se constitui em juiz e inverte o
juízo dado pelo mundo.
O “mundo” neste texto se designa ao
círculo dirigente que condenou Jesus; o mundo no sentido das forças sociais,
históricas e econômicas opostas ao plano divino, ao plano da fraternidade. Trata-se
da personificação das forças malignas da história: a injustiça exercida sobre
os inocentes, a opressão dos pobres, a tirania dos sistemas totalitários.
Jesus declara aos discípulos que o
Espírito de Deus realizará este juízo da história no qual brilhará a justiça e
a bondade divinas a favor dos seus: “Os justos brilharão como o sol no Reino de
seu Pai” (Mt 13,43; cf. também Dn 12,3; Sb 3,1-9).
O mundo prefere suas trevas de
pecado à luz poderosa da bondade e da verdade divinas que fazem o homem feliz
permanentemente. O pecado do mundo
consiste em impedir, reprimir ou suprimir a vida impedindo a realização do
projeto criador (Jo 1,10), e esse pecado alcançou seu ápice na recusa de Jesus
(Jo 15,22). O Espírito mostrará aos discípulos a justiça de Deus e que o mundo
é o réu de seu pecado, de ter recusado a presença de Deus em Jesus que salva.
Portanto, qualquer cristão não pode
abandonar uma vida correta e justa em nome de qualquer pessoa ou de qualquer
interesse material. O Espírito suscita homens particularmente sensíveis aos
valores autênticos e a Eucaristia os capacita para comprometer-se efetivamente
na contestação dos pseudo-valores. O homem animado pelo Espírito não pode
tolerar compactuar com a maldade nem em nome dum beneficio econômico nem em
nome de uma posição social. A justiça humana pode desviar a verdade em nome dos
interesses pessoais, mas ainda resta a justiça divina diante da qual a verdade,
a justiça, a honestidade e a lealdade estarão em destaque. Por isso, “a vida
dos justos está nas mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá... Os que
confiam em Deus compreenderão a verdade e os que são fieis habitarão com Ele no
amor” (Sabedoria 3,1.9). “No Reino de seu Pai, os justos resplandecerão
como o sol” (Mt 13,43ª).
P. Vitus Gustama,svd
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