FÉ VERDADEIRA EM DEUS
SERENA NOSSO CORAÇAO
Sexta-Feira da IV Semana da Páscoa
16 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 14,1-6
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 1 “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus,
tende fé em mim também. 2Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se
assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, 3e
quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim
de que onde eu estiver estejais também vós. 4E para onde eu vou, vós
conheceis o caminho”. 5Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos
para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
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Os capítulos 13 a 17 do evangelho
de João constituem um “Discurso de despedida” de Jesus. Como os patriarcas do
AT e outros grandes personagens ao saber de sua morte iminente se despedem de
sua família fazendo recomendações importantes para eles (cf. Gn 49,1-28;
50,24-25; Dt 33; 1Rs 2,-9 etc.), assim também Jesus faz a mesma coisa para seus
discípulos. Nestes capítulos encontramos vários ensinamentos de Jesus para quem
quiser segui-lo.
Na ultima Ceia os discípulos
estavam tristes e desorientados ao saber da despedida do seu Mestre que iria
morrer. Por isso, antes de passar deste mundo ao Pai Jesus diz no texto do
evangelho deste dia: “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e
tende fé em mim também”. Segundo a concepção do AT, a fé é um apoiar-se do
homem no fundamento vital divino que lhe confere vida e existência; um
entregar-se sem reservas, e confiado na promessa, bondade e lealdade de Deus.
Justamente neste sentido não é possível crer em tudo. Ou o homem crê em Deus ou
crê em nada que terminará no nada. Evidentemente não é possível crer em nada do
mundo, e sim somente em Deus, pois só Deus, o Criador do universo, é capaz de
responder aos anseios profundos do homem.
Qual é a maior mensagem de consolo
ou de esperança que Jesus oferece aos discípulos e a todos nós através do
evangelho de hoje? É o convite para viver a fé: “Não se perturbe o vosso
coração. Tendes fé em Deus e tende fé em mim também” (v.1). “Ter fé em
Deus” e “ter fé em Jesus” não se trata de dois tipos de fé. Mas trata-se de uma
só e única fé. No capítulo anterior Jesus já disse: “Quem crê em mim, não é em
mim que crê, mas em quem me enviou...” (Jo 12,44). E na primeira carta de São
João temos esta idéia expressa negativamente: “Todo aquele que nega o Filho também
não possui o Pai. O que confessa o Filho também possui o Pai” (1Jo 2,23).
Em segundo lugar, a exortação que Jesus
dirige aos discípulos para que tenham fé nele é algo mais que uma petição de um
voto de confiança. A fé é a força que supera tudo. A fé é capaz de vencer o
mundo: “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4).
“Mundo” aqui significa tudo que se opõe ao plano ou à vontade de Deus. A
verdadeira fé em Deus é capaz de vencer as influências nefastas do mundo, pois
quem se mantém na profissão da verdadeira fé vive no mundo de Deus, e Deus está
por cima do mundo. Por isso, mais tarde Jesus dirá aos discípulos: “No mundo
tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33). Para
que possamos vencer o mundo como Jesus o venceu, temos que nos unir a Jesus, ou
temos que ter fé nele.
Em terceiro lugar, ao dizer “não se
perturbe o vosso coração, mas tendes fé em Deus e em mim também”, Jesus quer
nos mostrar outra função ou outro efeito da fé é o coração sereno, coração
cheio de paz. Quanto mais profunda for nossa fé em Deus, mais sereno se tornará
nosso coração.
Hoje como em qualquer momento Jesus
diz a cada um de nós: “Não perca sua calma. Acredite em Deus. Acredite em mim.
Eu estou perto de você, dentro de você, em teu coração. Feche seus olhos, entre
dentro de tua alma, tome minha mão, eu estou com você”. Jesus é o nosso bom
companheiro que nos acompanha mesmo que estejamos rodeados pelas dificuldades.
“Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”.
Precisamos ouvir estas palavras permanentemente. Ao dizer isso Jesus quer nos
dizer que nosso Deus não é indiferente nem frio, e sim um Deus sensível aos
nossos anseios e aos nossos sofrimentos. Mas Jesus pede um ato de fé em sua
pessoa, uma fé sem reserva. A paz profunda que supera toda perturbação vem da
fé.
“Não se perturbe o vosso
coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. A verdadeira fé em Deus
sempre resulta em ter um coração sereno e pacífico, porque a fé é participação
na vida divina, adesão a Deus como único Senhor, o apoiar-se total e
exclusivamente em Deus. A fé consiste em nos alicerçamos unicamente em Deus, no
seu poder infinito e no seu infinito amor. O poder de Deus e seu amor não estão
sujeitos a qualquer manipulação humana. Não há outro caminho para alcançar a
paz e a serenidade do coração senão o caminho do pleno abandono à vontade de
Deus, isto é, ao seu amor infinito. A palavra “abandono” significa a renúncia
aos planos e idéias próprios. Santa Teresa do Menino Jesus dizia: “Tem que ser
como uma criança e não se preocupar com nada”(Conselhos e Lembranças). Nesta
curta frase está contido todo um programa. Abandonar-se significa não se
preocupar com nada, porque Deus nos ama e de tudo se ocupa. Somente quando isso
acontecer, o nosso coração poderá começar a se impregnado da verdadeira paz.
Não podemos nos desfazer dos perigos que geram o medo, mas é muito importante
eliminar esse medo através de um ato consciente de abandono ao Senhor.
Quando São Paulo suplicou a Jesus
que afastasse da sua vida uma grande dificuldade, algo que contrariava os seus
planos, o Senhor respondeu-lhe: “Basta-te a Minha graça porque é na fraqueza
que a Minha força se revela totalmente”(cf. 2Cor 12,9). E Santa Teresa
escreveu: “A confiança e a fé se aperfeiçoam na angústia”. E Para a Santa
Margarida Maria Alacoque, a grande apóstola do coração de Jesus, o Senhor disse
com grande ardor: “Deixa-Me agir”. Uma abertura de nosso coração permite ao
Senhor viver em nós em toda a Sua plenitude. Quando assim for, poderá Ele fazer
de nós a Sua obra-prima. O abandono a Deus é a suprema forma de confiança e de
apoio no Senhor.
A ausência desta fé suscita a
angústia e o pavor. Quando confiarmos apenas nas nossas forças, quando
contarmos apenas com as nossas capacidades, com aquilo que possuímos ou somente
com as relações que mantemos com as pessoas com as quais estamos ligados, mais
cedo ou mais tarde ficaremos desiludidos. A confiança total em Deus nascida da nossa
fé na Sua Palavra é a única resposta adequada ao Seu insondável amor por nós.
“Para onde eu vou, vós conheceis
o caminho”. O caminho para o Pai é a prática do amor fraterno. Jesus é o
Filho, mas os que o seguem serão também filhos, irmãos de Jesus. Para isso, os
que seguem a Jesus precisam praticar o amor fraterno para fazer parte da
família de Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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