AMAR COMO ESTILO DE VIDA A EXEMPLO DE JESUS,
NOSSO AMIGO
Sexta-Feira
da V Semana da Páscoa
23 de Maio de 2014
Evangelho: Jo 15,12-17
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 12“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros,
assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que
dá sua vida pelos amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já
não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu
chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não
fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para
irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que, então, pedirdes
ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno:
amai-vos uns aos outros”.
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Continuamos ainda a acompanhar o
discurso da despedida de Jesus dos seus discípulos no evangelho de João (Jo
13-17). No evangelho de hoje Jesus fala do amor como o maior mandamento para
seus seguidores e Jesus se apresenta como amigo dos discípulos e de todos os
seus seguidores. Creio que este mandamento é tão importante a ponto de ser
apresentado duas vezes no evangelho de João: Jo 13,34-35 e Jo 15,12-14. “Meu
amor é meu peso”, dizia Santo Agostimho (Conf. 13,9). “Quanto
mais cresce teu amor, maior é tua perfeição. A perfeição da alma é o amor”,
acrescentou Santo Agostinho (In epist. Joan. 9,2).
Amar Como
o Estilo De Vida
“Amai-vos uns aos outros como Eu
vos amei”.
Este é o mandamento do Senhor! Não se trata de uma lei (nomos), e sim de
um estilo de vida (entolé). Aqui a palavra “mandamento” tem a ver com o
estilo de vida. Para o evangelista João “amar” é um estilo de vida. Trata-se de
uma coisa que faz parte da vida cotidiana de cada seguidor de Cristo.
Mas que tipo de amor que Jesus
recomenda? Que tipo de amor que ele fala como o estilo de vida? Em que sentido
o amor como o estilo de vida?
Jesus se põe a si mesmo como modelo:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). De
que maneira Jesus nos amou? O amor de Jesus é gratuito, generoso, universal,
incondicional e sem limites: “Jesus amou os seus, e os amou até o fim”
(Jo 13,1). Jesus amou ao longo dos dias e dos anos; amou até a morte e além da
morte. Sem limites: até dar tudo, gastar tudo, despojar-se de tudo. O amor de Deus não se deixa
condicionar (cf. Jo 3,16), e nem sequer impor limites pelos maus comportamentos
do homem: “Deus faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a
chuva sobre justos e injustos”, diz Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5,45). Ele se entregou pelos demais ao longo de sua
vida até o extremo: a morte na cruz: “Ninguém tem amor maior do que
aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). É o amor concreto. É
amar não com palavras apenas, e sim com obras, com a compreensão, com a ajuda
oportuna, com a palavra amável, com a tolerância, com a doação gratuita de si
mesmo, com o perdão (cf. Lc 23,34). O amor autêntico exige sempre o sacrifício
e o total esquecimento de si. É amar por amor. São Bernardo afirma: “O
amor basta por si só e por causa de si. Seu prêmio e seu mérito se identificam
com ele mesmo. O amor não requer outro motivo fora de si mesmo. Amo porque amo;
amo para amar”. Se assim é, podemos dizer que você vive não
quando respira, mas quando ama. Do ponto de vista cristão a capacidade de viver
o amor fraterno é o critério da maturidade cristã.
Para nós, cristãos, a atitude de
amor aos demais deve ser uma conseqüência prática de nossa comunhão profunda
com Cristo. O cristão é reconhecido, fundamentalmente, pelo amor que vive: “Nisto
todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”,
disse-nos Jesus (Jo 13,35).
Somos Amigos
De Jesus
“Eu vos chamo amigos”, diz o
Senhor.
·
A amizade é uma predisposição recíproca que torna
dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro (Platão).
·
Sem amigo, nada é agradável [Sine amico nihil
amicum] (Santo Agostinho).
·
A amizade é o conforto
indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o
que se pensa, nem medir o que se diz (George Eliot).
·
A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar
ao amigo de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades (Millôr
Fernandes).
·
O amigo é o melhor terapeuta nas experiências de
abandono e humilhação (Anselm Grün).
·
Refugiado em peito amigo, sumindo vai pesar antigo
(Johann Wolfgang Goethe).
·
Não me alegro tanto pela andorinha que me traz a
mensagem da primavera e que à renovação eterna canta hinos, mas alegro-me bem
mais pela mensagem do amigo que me traz o que preciso para a vida (Friedrich
Rückert, poeta).
·
Com um amigo ao lado, nenhum caminho é longo demais
(ditado japonês).
Para ser amigo do outro é preciso
ser amigo de si mesmo, no sentido de que é preciso colocar em ordem o próprio
coração e direcioná-lo para o bem. Um coração bom está sempre do lado do bem. Um
coração bom nos leva a praticarmos a bondade. Dizia Cícero que a amizade é
“doadora da alegria de viver tanto para os nossos amigos como para nós mesmos”.
Por isso, ter ou não ter amigo depende de ser ou não ser amigo de si mesmo.
Quem é muito humano para si próprio, será muito humano para o outro. É o ponto
de partida para uma amizade.
Quando alguém reclama que não tem
amigo ou amiga, é preciso se perguntar: “Será que eu sou amigo de mim mesmo?
Será que sei me tratar? Será que eu me respeito e me amo?”. Somente poderemos
ser felizes quando aprendermos a fazer o outro feliz. Somente podemos ser
próximos dos outros, se aprendermos a ser próximos dos outros.
“Eu vos chamo amigos”, diz o
Senhor. Jesus chamou seus discípulos de amigos porque partilhou tudo com eles o
que ouviu de seu Pai: experiências, conhecimentos, salvação, amor etc.. Jesus
abriu aos discípulos Seu coração. Isto significa que o discípulo, o cristão não
é um simples subalterno. O cristão é um amigo pessoal de Jesus Cristo. O amigo
não é um simples conhecido ou um sócio, e sim alguém com quem se compartilha a
intimidade, o mais profundo de nosso ser: “Eu vos chamo amigos, porque vos
dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). O amigo sempre está
disposto a fazer o que o amigo lhe pedir: “Vós sois meus amigos se fizerdes
o que eu vos mando” (Jo 15,14). O amigo demonstra a verdade de seu amor
estando disposto a entregar a própria vida se for necessário: “Ninguém tem
amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). O
verdadeiro amigo inclui a doação da vida pelo amigo. Para Jesus a noção de
amizade é muito profunda. “Amigo é alguém que te conhece a fundo e, apesar
disso, te ama” (Hublard). “A amizade é como todos os títulos honoríficos:
quanto mais velha, mais preciosa”, dizia Goethe. “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon).
“Eu vos chamo amigos”, disse-nos
Jesus. É uma mensagem consoladora. É uma mensagem que dá força e ânimo. De
fato, eu não estou sozinho (a). Eu estou bem acompanhado (a). Eu estou
acompanhado (a) pelo Salvador do mundo: Jesus Cristo. Se o cristão viver
verdadeiramente esta fé, ele jamais se sentirá só independentemente da situação
em que se encontra. O cristão não é solitário, e sim solidário. “O mundo é tão vazio
quando pensamos apenas nas montanhas, rios e cidades; mas saber que cá e lá
existe alguém que comunga conosco, com o qual também nós convivemos
tacitamente, isto faz deste globo terrestre para nós um jardim habitado”
(Johann Wolfgang von Goethe).
“Vós sois meus amigos, se
fizerdes o que eu vos mando”, disse Jesus. Será
que você pode ser considerado como amigo de Jesus? Para ser amigo do outro é
preciso ser amigo de si mesmo. Você é amigo de si mesmo?
Lembremo-nos do recado do Pequeno
Príncipe: “Você
precisa me cativar. As pessoas já não têm tempo de aprender coisa alguma.
Compram tudo nas casas comerciais. Mas, como não existem lojas de amizade, as
pessoas não têm mais amigos. Se quiser um amigo, cative-me” (Saint-Exupéry:
O Pequeno Príncipe).
P. Vitus Gustama,svd
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