01/09/2015
VIVER COM A AUTORIDADE DE JESUS
Terça-Feira da XXII Semana Comum
Evangelho: Lc 4,31-37
Naquele tempo, 31 Jesus desceu a
Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí os ensinava aos sábados. 32 As pessoas ficavam
admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 33 Na sinagoga, havia
um homem possuído pelo espírito de um demônio impuro, que gritou em alta voz: 34 “Que queres de nós,
Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de
Deus!” 35
Jesus
o ameaçou, dizendo: “Cala-te, e sai dele!” Então o demônio lançou o homem no
chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 36 O espanto se apossou
de todos e eles comentavam entre si: “Que palavra é essa? Ele manda nos
espíritos impuros, com autoridade e poder, e eles saem”. 37 E a fama de Jesus se
espalhava em todos os lugares da redondeza.
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Estamos nos
primeiros dias da pregação publica de Jesus segundo o evangelho de Lucas. Recusado pelo seu
povo em Nazaré, Jesus vai a Cafarnaum cuja população era uma mistura de várias
nacionalidades. Segundo Lucas, em Cafarnaum Jesus inicia oficialmente a sua missão.
Jesus inicia a missão oficial com a cura dos enfermos, pois ele foi consagrada “com a unção para anunciar a Boa Nova aos
pobres; para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da
vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”
(Lc 4,18-19). Em Cafarnaum Ele fala com autoridade para as pessoas e desperta a
admiração de todos, pois Ele prega e liberta.
É importante anotar nesse início de sua missão
que quem reconhece que Jesus é o Messias (o Ungido) é satã. Satã declara Jesus de
Nazaré como o Santo de Deus. Esse satã foi derrotado por Jesus nas tentações (cf.
Lc 4,1-13). Enquanto que os seus, no episódio de Nazaré, não o aceitam porque não
o conhecem profundamente. É uma ironia do evangelho para os homens.
Todos os evangelhos
sinóticos (Mt, Mc, Lc) colocaram em destaque a autoridade extraordinária, o
prestigio que emanava da pessoa e da palavra de Jesus (Mt 7,29; Mc 1,22; Lc
4,32). Naquela época tinha bastante “escolas”, grupos de escribas ou de
letrados que faziam comentários sobre a Sagrada Escritura. Agora Jesus faz seus
próprios comentários que totalmente são novos (sem nenhuma influência de alguma
escola). Do fundo de si mesmo surgem pensamentos magistrais revestidos de
autoridade que causa a admiração no povo. O evangelista Marcos registrou a
admiração do povo diante do ensinamento de Jesus com as seguintes palavras: “Estavam espantados com o seu ensinamento,
pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não como escribas” (Mc 1,22). No seu ensinamento, Jesus não se apóia nas tradições de
escolas rabínicas, pois Ele é enviado de Deus, o Filho de Deus em quem repousa
o Espírito de Deus (Mc 1,9-11); Ele a própria Palavra de Deus (Jo 1,1-3.14).
Jesus apela diretamente para a consciência de seus interlocutores.
A autoridade de Jesus não está a serviço de
uma instituição, mas está a serviço do ser humano para que este reconheça sua
própria dignidade, seu valor e sua vocação à vida comunitária de irmãos. A nova
forma de Jesus ensinar “com autoridade” apela para valores e atitudes
fundamentais do ser humano: apela à capacidade de convivência como irmãos do
mesmo Pai do céu, apela ao reconhecimento respeitoso e tolerante do outro,
apela ao desenvolvimento da auto-estima como condições para uma autêntica
libertação da situação de marginalização em que vive a grande maioria. Onde
não houver um mútuo respeito, não haverá espaço para a mútua admiração. O
Pai que está no céu nos faz irmãos aqui na terra. Ao aceitar o Espírito de Deus
o homem se liberta de suas escravidões e se torna irmão do outro.
Por esta razão, Lucas nos relatou também um
homem endemoninhado que se encontrou dentro do templo. Um endemoninhado é um
homem possuído por uma ideologia que aliena completamente a liberdade e o faz
falar como instrumento de outro. Este personagem representa uma parte do
público (ele fala em plural: “Que queres de nós, Jesus
Nazareno? Vieste para nos destruir?”), que se alarma
diante do messianismo que Jesus pretende expor. Esta parte do público tem medo
de que o patriotismo nacionalista perca terreno. Se Jesus continuar falando
assim (com autoridade), a libertação de Israel vai fracassar. Assim pensa esse
grupo.
Jesus não se deixa instrumentalizar. Ele
liberta com conjuração o homem possuído por aquela ideologia de morte e lhe
devolve sua condição de um homem livre, que pensa por si próprio. Com a Palavra
ungida com o Espírito criador de Deus Jesus humaniza o homem no meio de tantos
oportunistas que se arrogam o poder de Deus em beneficio de seus interesses
mesquinhos. “Todo aquele que, ocupando uma posição de autoridade, aproveita
para divertir-se, para aumentar seu patrimônio, ou para conseguir lucros pessoais,
não é um servidor dos demais, mas um escravo de si mesmo”, dizia Santo
Agostinho (Serm. 46,2). Jesus não quer que o cérebro desse homem vire um
arquivo para pensamentos alheios. Jesus quer que ele tenha coragem de criar os
seus próprios pensamentos e não apenas memorizar os pensamentos alheios.
Por isso, o episódio do homem possuído por um
espírito impuro, mais do que demonstrar autoridade de Jesus sobre as forças do
mal, quer mostrar como Jesus integra ao seio da comunidade aquele que era
excluído e recusado como muitos outros em nome de um poder que desumaniza ou em
nome de uma instituição desumanizante.
Se você quer saber quanta autoridade tem, não
se pergunte a quantos você submete, mas a quantos você ajudou a crescer. O medo
que os outros têm de você não mede sua autoridade, mas seu poder autoritário. A
autoridade põe respeito, o autoritarismo põe medo nas pessoas. Quando alguém
acredita que a força de sua autoridade está em seu poder e não em seu amor, ele
desautoriza a si mesmo como pessoa. Se ou quando alguém precisa apelar para a
força e para o poder para ser autoritário é porque como pessoa já não tem mais
autoridade. Os títulos e os cargos podem até confirmar a autoridade que cada um
tem, mas não lhe dão a que não tem.
Jesus fala como quem tem autoridade, assim o
evangelista Marcos registrou. O que significa para nós falar com autoridade? Há
palavras ou ações que nos aproximam de Jesus. Quais são estas palavras?
Sempre que pronunciarmos uma palavra viva,
aquela que não é fingida, aquela que sabe detectar em cada momento aquilo do
qual o outro está necessitando, aquela palavra que faz o outro melhorar e
crescer, aquela que não semeia a discórdia, a palavra que humaniza, estaremos
falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra compassiva, aquela
que consola nos momentos de dificuldade, a palavra que anima quem está
desesperado, a palavra sincera de querer ajudar, estaremos falando com
autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra solidária, aquela que coloca
as coisas no seu devido lugar, aquela que sai do coração para aliviar a dor do
outro, aquela que serena, estaremos falando com autoridade. Sempre que
pronunciarmos uma palavra de esperança que diz que nem tudo está perdido, que o
melhor está para vir porque Deus está conosco (Mt 28,20) e que “para Deus nada
é impossível” (Lc 1,37), estaremos falando com autoridade.
É bom cada um de nós fazer um exame de
consciência para saber se fala com autoridade como Jesus ou não? É bom cada um
se perguntar se está próximo de Jesus no modo de viver e de tratar os demais ou
não? Hoje em dia precisamos muito mais das pessoas com autoridade e carisma do
que das pessoas com o poder. Além disso, é preciso levarmos em conta de que
Jesus é reconhecido pelo demônio como o Santo de Deus. Será que conhecemos
Jesus profundamente? Será que levamos a sério a causa de Jesus que consiste em
criar a comunhão de irmãos livre de todo tipo de opressão e de escravidão? De que
maneira nós ainda oprimimos e escravizamos nosso próximo que é nosso irmão?
P.
Vitus Gustama,svd
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