04/09/2015
JEJUM
QUE MUDA NOSSA MENTALIDADE
É PRECISO RENOVAR-SE PERMANENTEMENTE
Sexta-Feira
da XXII Semana Comum
Evangelho: Lc 5,33-39
Naquele tempo, 33 os fariseus e os mestres da
Lei disseram a Jesus: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus,
jejuam com frequência e fazem orações. Mas os teus discípulos comem e bebem”.
34 Jesus, porém, lhes disse: “Os convidados de um casamento podem fazer jejum
enquanto o noivo está com eles? 35 Dias virão em que o noivo será tirado do
meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão”. 36 Jesus contou-lhes ainda
uma parábola: “Ninguém tira retalho de roupa nova para fazer remendo em roupa
velha; senão vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combinará com a
roupa velha. 37 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque, senão, o vinho
novo arrebenta os odres velhos e se derrama; e os odres se perdem. 38 Vinho
novo deve ser posto em odres novos. 39 E ninguém, depois de beber vinho velho,
deseja vinho novo; porque diz: o velho é melhor”.
____________________
Pela terceira vez em Lc 5 Jesus entra em
controvérsias com os fariseus (cf. Lc 5,12-16; 5,27-32; 5,33-39). O tema da
controvérsia desta vez é o do jejum.
O jejum é algo antigo escrito na Lei de
Moisés (Lv 23,26-32; Nm 29,7-11). O jejum era praticado dentro do contexto de
expectativa ou de preparação. Isto significa que o jejum revela um tempo de
expectativa ou de preparação. Os fariseus e os discípulos de João Batista
necessitavam fazer jejuns, pois estavam no tempo de espera. Os discípulos de
Jesus não precisam fazer o jejum, nesta perspectiva, pois o Messias esperado
está com eles: Jesus Cristo. Nesse sentido perdeu a razão de fazer o jejum. Com
a chegada de Jesus, o Messias esperado, termina o tempo de espera ou de
preparação. Agora é o tempo de festa. “Os convidados de um casamento
podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo
será tirado do meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão”,
afirmou Jesus.
Em qualquer controvérsia, Jesus sempre se
apresenta como um independente diante das regras e das observâncias legais
conforme as tradições. A independência de Jesus choca os que estão apegados ao
pé da letra todas as leis. Jesus entra no espírito da lei, naquilo que possa
edificar o ser humano, pois a pessoa humana é o foco de todo trabalho de Jesus
(cf. Jo 3,16; 10,10). Por isso, em outra ocasião ele diz: “O sábado existe para
o homem e não o contrário”.
O jejum sempre tem sentido de “privação” ou
de “renúncia”. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento pelo
sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. Ao se
controlar diante de um alimento ou da bebida, o homem é disciplinado para se
controlar diante de outras provações ou desafios da vida. através do jejum o
homem faz uma passagem significativa do autocontrole físico para o autocontrole
psicológico, mental e espiritual. Pode-se também fazer uma passagem contrária:
a força espiritual faz com que o homem seja capaz de se controlar diante do
alimento ou bebida ou as demais coisas. O verdadeiro jejum sempre beneficia ao
homem para seu bem (físico e espiritual simultaneamente: Mens sana in
corpore sano- Mente sã em corpo são).
A prática do jejum está ligada, no AT, à espera
da vinda do Messias. A prática do jejum aceleraria a chegada do Messias. Os
fariseus e os discípulos de João Batista praticam o jejum. Por isso, questionam
o comportamento dos discípulos de Jesus que não o praticam. A resposta de Jesus
aqui é bem clara: se seus discípulos não praticam o jejum é porque não tem nada
que esperar porque o Messias já chegou e está com eles. Eles estão vivendo esta
intimidade. Esta intimidade será rompida no momento da paixão e da morte de seu
Mestre.
Estamos em outro contexto. Por isso, o jejum
ganha seu novo significado. Quando soubermos dar ou preparar o espaço para Deus
na nossa vida, este espaço não será ocupado por outra coisa. Ao darmos esse
espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva. Por isso,
ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa vontade de não deixar nenhuma
coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida. Podemos possuir as
coisas, mas as coisas jamais podem nos possuir para não perdermos nossa
liberdade. Mesmo não querendo, um dia largaremos tudo. É preciso que aprendamos
a ser livres todos os dias, desde já. Sou livre quando a graça pesa mais do que
as regras e não o contrario. Sou livre quando o amor e a humanidade pesam mais
do que a religião. Sou livre quando eu estou no coração de Deus de Amor (1Jo
4,8.16) para eu ser capaz de amar com total liberdade e amar para libertar o
outro da escravidão de uma vida sem sentido apesar de tratar-se de uma crença.
Tanto cristã como humanamente o jejum faz bem
a todos. Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais; é
saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior
das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador. Jejuar
não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios.
Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, de mente e da
imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e
se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é
certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo.
Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda,
nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos
necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo,
nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a
tem. Sou livre quando a graça pesa mais do que as regras e não o contrario.
Por isso, o jejum cristão não consiste apenas
em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus
salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para
viver e sobreviver como um ser humano. Jejuamos para nos tornarmos sensíveis à
fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na
resolução dos problemas dos pobres, dos necessitados e dos carentes do
essencial e básico.
O profeta Isaias descreve qual é o verdadeiro
jejum que agrada a Deus (Is 58,6-9).
Deus não quer o jejum formalista que não tem em conta a vida do outro, e
muito menos a justiça. Nada valem as ações que excluem o amor do próximo. O
verdadeiro jejum, no pensamento do profeta, remete ao comportamento capaz de
renunciar à ganância, à avareza para começar a ser generoso; capaz de renunciar
ao tempo pessoal para ir ao encontro do necessitado (doente, prisioneiro, idoso
etc.) para estar com ele a fim de aliviar uma parte de sua dor. O jejum
verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com
o faminto. Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade
com os necessitados. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As
manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na
misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do
essencial como um ser humano para viver. O verdadeiro jejum é um verdadeiro
compromisso com os irmãos necessitados e empobrecidos ou injustamente são
presos.
Por isso, pode-se dizer que o que importa no
jejum não é somente a privação de alimento e sim a seriedade da fé nas tarefas
da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens ao
mesmo tempo. O jejum não se concebe sem caridade e sem uma mudança de vida para
uma vida mais fraterna. O jejum que Deus quer é o cumprimento dos deveres
morais e humanos com o próximo.
Além disso, no evangelho de hoje Jesus faz
uma declaração que tem o mesmo conteúdo: “Ninguém põe o vinho novo em odres velhos”
(Lc 5,39). O vinho representa o tempo messiânico, o tempo da graça, o novo
tempo. Ficar com o vinho velho significava ficar com as tradições dos
antepassados, rejeitando os novos tempos, as renovações necessárias para a
salvação. Continuar com o vinho velho significa aceitar a continuidade dos
tempos de opressão, de exploração, de exclusão, de desigualdade e de segregação.
jesus vem cumprir as profecias (Lc 4,18)
ao inaugurar o novo tempo. O apego ao passado com uma postura de fechamento
significa bloquear crescimento e avança para uma direção certa. Qualquer instituição
ou grupo que não se renovar, antecipa sua morte ou seu fim, pois o código do
desenvolvimento e do crescimento é a renovação e a mudança.
Aceitar Jesus em
nossa vida comporta mudanças importantes. Não se trata somente de “saber” de
quantas verdades a respeito de Jesus, mas trata-se de mudar nosso estilo de
vida segundo o estilo de vida de Jesus. Significa viver com alegria interior.
Significa também novidade radical. Jesus rompe moldes. É aquilo que São Paulo
chama de “revestir-se de Cristo Jesus”. Quais são nossos “odres velhos” que não
servem mais para “guardar” os tesouros de Deus? Quais são nossos “odres velhos”
que precisamos abandonar?
Uma mentalidade
velha, caduca nunca nos aproximará do novo e do avançado. A mentalidade velha é
sinônimo de mediocridade, de
estancamento e de pobreza. “A maior descoberta de uma geração é que os seres
humanos podem mudar sua vida modificando suas atitudes mentais” (Albert
Schweitzer). Precisamos abandonar uma mente de escravo porque ela é nostálgica,
isto é, acredita que o passado foi melhor. Um homem com mentalidade de escravo
é briguento, gozador, fanfarrão e vive criticando a tudo e a todos. Uma pessoa
com uma mente de escravo se conforma com a mediocridade e não se permite
aprender. A mente de escravo utiliza mecanismos de defesa que não nos permitem
visualizar onde está a falha para saber em que devemos melhorar. Quem for capaz
de fazer uma observação inteligente dos fatos, ele alcançará os melhores
resultados. Quem tem mente de escravo usa a gentileza e a cortesia com os que
estão acima (superiores), mas agride, maltrata e abusa emocionalmente dos que
estão abaixo (inferiores).
Todos temos forças
para mudar. Basta praticar a vontade de mudar. Dizia Victor Hugo: “A ninguém
faltam forças; o que falta a muitos é vontade”. A vida é uma questão de
decisão, e você se faz a cada decisão que toma. Decidir supõe sempre escolher,
preferir e abandonar. “Quando um homem não sabe para onde navega, nenhum vento
lhe é favorável” (Sêneca).
“Ninguém põe vinho
novo em odres velhos; porque, senão, o vinho novo arrebenta os odres velhos e
se derrama; e os odres se perdem “, disse-nos o
Senhor hoje. Em que consiste você precisa mudar? Às vezes Deus não muda nossa
situação, porque Ele quer mudar, primeiro, nosso coração, nossa mentalidade. O coração
aberto é a chave para a mente aberta.
P.Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário