28/08/2015
PROCURAR
E VIVER O ESSENCIAL
Sexta-Feira
da XXI Semana Comum
FESTA DE SANTO AGOSTINHO
Evangelho: Mt 25,1-13
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1 ”O Reino dos Céus é
como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao
encontro do noivo. 2 Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram
previdentes. 3 As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo
consigo. 4 As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as
lâmpadas. 5 O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e
dormindo. 6 No meio da noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao
seu encontro!’ 7 Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas. 8 As
imprevidentes disseram às previdentes: ‘Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas
lâmpadas estão se apagando’. 9 As previdentes responderam: ‘De modo nenhum,
porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar
aos vendedores’. 10 Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que
estavam preparadas entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se
fechou. 11 Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: ‘Senhor!
Senhor! Abre-nos a porta!’ 12 Ele, porém, respondeu: ‘Em verdade eu vos digo:
Não vos conheço!’ 13Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia,
nem a hora”.
__________________________
I.
SANTO AGOSTINHO
(28/08)
Neste dia celebramos a festa de Santo
Agostinho. Santo Agostinho nasceu em Tagaste (África) em 354. Depois de uma
juventude conturbada, converteu-se aos 33 anos em Milão, onde foi batizado pelo
bispo Ambrósio. Regressando à sua pátria e eleito bispo de Hipona, desenvolveu
uma enorme atividade por meio da pregação e dos seus escritos doutrinais em
defesa da fé. Ele é um dos grandes Doutores da Igreja. E é um mestre, teólogo,
filósofo, moralista e apologista. Morreu em 430.
Não é fácil falar de nossos próprios defeitos
e fraquezas para os outros, muito menos publicá-los. Mas acontece o contrário
com o Santo Agostinho. Agostinho é um santo que não tem medo nem vergonha de
falar com sinceridade e simplicidade de suas fraquezas e que os publicou como
uma confissão num livro se chama “Confissões” de Santo Agostinho. Neste livro Santo Agostinho mostra a
realidade nua e crua de sua alma com sinceridade e simplicidade. Vale a pena
ler as confissões de Santo Agostinho!
Santo Agostinho recebeu uma educação cristã
de sua mãe, Santa Mônica. Mas essa educação materna e o amor à verdade, que
sempre existiu na alma de Agostinho, não o livraram de cair em graves erros e
de levar uma vida moral muito afastada de Deus. Mas ele confessou: “Ninguém
está tão só do que aquele que vive sem Deus. O homem, para onde se dirija, sem
se apoiar em Deus, só encontrará dor”. Por isso ele escreveu: “...fizeste-nos
para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti.
Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o primeiro: invocar-te ou
louvar-te; conhecer-te ou invocar-te. Mas, quem te invocará sem te conhecer?
Por ignorá-lo, poderá invocar alguém em lugar de outro..... Quem o procura, o
encontra, e tendo-o encontrado, o louvará. Que eu te busque, invocando-te; e
que eu te invoque, crendo em ti: tu nos foste anunciado” (Confissões,I,1). “Quando
estiver unido a ti com todo o meu ser, não mais sentirei dor ou cansaço. Minha
vida será verdadeiramente vida, toda plena de ti” (X,39).
Depois de ter passado anos em busca da
verdade sem encontrá-la, chegou à convicção, com a ajuda da graça que a sua mãe
implorou constantemente, de que só em Cristo é que encontraria a verdade e a
paz para a sua alma. Finalmente ele se converteu. Ele se lamentou porque tarde
demais encontrou Deus: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde
demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de
fora... Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Tua luz afugentou a
minha cegueira. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz”
(Confissões, X,27). “O céu e a terra estão gritando: “Fomos feitos por Deus”.
Tudo isso quer nos ensinar que nada e ninguém
é perdido nesta vida, enquanto a nossa fé em Deus continua forte e inabalável
em qualquer situação. Santa Mônica e Santo Agostinho são grandes provas de tudo
isso. O senhor nunca nos nega a sua ajuda. E se tivermos a desgraça de
ofendê-lo gravemente, Ele nos esperará em cada instante, como esperou durante
tantos anos pelo regresso de Santo Agostinho a exemplo do filho pródigo que
voltou para sua casa.
Outros conselhos de Santo Agostinho:
·
“Escuta primeiro ao que fala dentro e desde dentro, fala
depois aos que estão fora” (In ps. 139).
·
“A
ignorância mais refinada é a ignorância da própria ignorância” (Conf.
5,7). “Com relativa freqüência a ignorância põe máscara e capa de
simplicidade” (idem 2,9). “O reconhecimento da própria ignorância
é a primeira prova de inteligência” (Serm.301,4,3).
·
“Quanto mais curioso torna-se o homem por conhecer a vida
alheia, tanto mais relaxado se torna para consertar a sua própria” (Conf.10,3).
“Quanto menos atenção o homem presta aos seus
próprios pecados, tanto mais curioso ele se torna em relação aos alheios. Não
podendo desculpar-se a si mesmo, trata de salvar a pele acusando os outros”
(Serm.19,2). “Amando ao próximo tu limpas os
olho para ver a Deus” (In Joan.17,8). Quanto mais amas, mais alto tu sobes (In ps.
83,10)
·
Não Andes averiguando quanto tens, mas o que
tu és
(Serm. 23,3). Dentro do coração sou o que
sou (Conf. 10,3). Conserve o que
tens dentro e não terás de temer nada de fora (In ps. 35,17).
O homem não se torna bom por possuir coisas boas.
Ao contrário, o homem bom torna boas as coisas que possui, ao usá-las bem
(Epist. 130,2,3).
·
O homem não se movimenta pelos pés, mas
pelos afetos. Até os próprios pés ele move por afetos (In ps. 9,15).
Quanto mais cresce teu amor, maior é tua perfeição.
A perfeição da alma é o amor (In epist. Joan. 9,2). Amando o próximo limpas os olhos para ver Deus (In
Joan. 17,8). Tempera tua ciência com amor e
tua ciência será útil. Não por si mesma, mas pelo amor (In Joan.
18,6). O homem novo canta um cântico novo
quando vive uma vida nova, a vida do amor. Cantar é sempre sinal de felicidade
e coisa de amantes (Serm. 34,1,1).
II.
REFLEXÃO
SOBRE O EVANGELHO
Os capítulos 24-25 de Mt constituem o quinto
e o último discurso de Jesus neste Evangelho. Este quinto discurso é conhecido
como o “Discurso escatológico” (discurso apocalíptico). Mt elabora notavelmente
o discurso escatológico de Mc (Mc 13) e o amplia com uma série de parábolas e
com uma impressionante descrição do julgamento final (Mt 25,31-46), cuja
principal intenção é orientar os cristãos sobre como preparar a vinda do
Senhor.
A linguagem destes capítulos pode provocar
temor. Mas, na verdade, trata-se de uma linguagem apocalíptica que era
relativamente freqüente entre alguns grupos judeus e cristãos. Chama-se de
linguagem apocalíptica porque tem como objetivo manifestar uma revelação
escondida (apocalypsis). Em muitas
ocasiões esta revelação é dirigida a grupos ou comunidades que vivem uma
situação de perseguição, com a intenção de animá-los e encorajá-los em suas
lutas e tribulações. Por isso, não há motivo nenhum de alguém ver nestes textos
uma ameaça, e sim, uma mensagem de esperança.
A parábola das dez virgens é uma das mais
belas parábolas do evangelho, pois ela nos faz penetrar mais profundamente no
coração de Jesus. Jesus é o Prometido. Jesus vem nos encontrar para salvar. Ele
quer nos introduzir em sua família.
A vida cristã é uma marcha ao encontro com
Alguém que nos ama. Deus ama a humanidade e a humanidade vai ao encontro de
Deus. O homem foi criado para a intimidade com Deus, para o intercâmbio de amor
com Ele. Mas a visita ou a vinda é imprevista, a hora é imprecisa; não se sabe
quando a visita vai acontecer. Por isso, é importante estar vigilante.
Se olharmos do ponto de vista da prudência,
pois a parábola trata das cinco virgens prudentes (phronimoi) e outras cinco insensatas (morai), esta parábola nos faz lembrar também da conclusão do Sermão
da Montanha que compara um homem néscio a um homem prudente (Mt 7,24-27). Na
literatura sapiencial o prudente é aquele que age de acordo com as exigências
de Deus; o insensato, ao contrário, age conforme sua própria cabeça (cf. Ecl
2,12-17). Da conclusão do Sermão da Montanha sabemos que um que é néscio
construiu a casa sobre a areia e o outro que é prudente sobre a rocha. A casa
do néscio desmoronou, pois sem nenhuma base sólida, enquanto a do outro fica
firme diante da tempestade, pois foi construída sobre a rocha.
Na parábola das dez virgens encontra-se
novamente o contraste entre prudente e néscio. Sabemos que a prudência
determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar. Ela separa a ação do impulso, o essencial do
secundário. “A prudência é um amor que
escolhe com sagacidade”, dizia Santo Agostinho.
A palavra “prudência” provém do latim
“prudens-entis” que, na acepção própria, significa precavido, competente.
Prudência é virtude que faz prever, e procura evitar as inconveniências e os
perigos; cautela, precaução. A prudência é a capacidade de ver, de
compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. A prudência oferece a possibilidade
de discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro do falso, o
sensato do insensato a fim de guiar o bom rumo de nossas ações. O prudente
jamais se precipita no falar nem no agir sem conhecimento da causa ou da
realidade. Tendo conhecimento da causa ou da realidade ele fala com cautela. A
prudência é a faculdade que nos permite vermos e aprendermos a realidade tal
como é. A prudência é o modo de viver dos sábios, pois o homem sábio é sempre
guiado pela prudência. Por isso, o sábio dificilmente machuca os outros.
As cinco virgens levam o azeite suficiente,
pensando na chegada atrasada do noivo, enquanto que as outras cinco não pensam
nisso. Como é importante estar preparado, tanto para as surpresas agradáveis
como para as desagradáveis na vida. Mas muitas vezes somos pegos de surpresa. O
azeite é a Palavra de Deus vivida no dia a dia que se resume no amor. Diz Santo
Agostinho: “Coisa grande, verdadeiramente muito grande significa o azeite
(óleo). Só pode ser amor”.
Nesta parábola lemos que as cinco virgens
insensatas gritam: “Senhor! Senhor!
Abre-nos a porta!” (v.11). Mas a porta continua fechada. Quem vive segundo
a Palavra de Deus tem a chave na mão para abrir a porta (do céu). As palavras
da profissão “Senhor, Senhor” só salvam quem as professa, se ele viver de
acordo com essa profissão. Chamamos e professamos Deus de Senhor porque
queremos que ele assenhore nossa vida, e guie nossos atos e decisões, que ele
seja o centro de nossa vida, que a vontade dele prevaleça na nossa vida, pois
tudo que Deus quer é só salvar. Quem de nós não quer ser salvo?
As cinco virgens prudentes estão de
prontidão e prestam atenção às coisas essenciais. Enquanto que as cinco
insensatas pensam em tudo, menos naquilo que é essencial, ou, de fato, tem
importância. Há pessoas que perdem o rumo por causa das coisas efêmeras e não
se lembram dos valores autênticos como caridade, justiça, paz, verdade,
retidão, honestidade, reconciliação etc. pelos quais vale a pena
comprometer-se. O homem é tão ocupado com as mil coisas que não deixam mais do
que efêmeras satisfações que se esgotam logo que se produzem. Um sábio diz que
há esquecimento por falta de memória, mas há esquecimento por falta de amor.
Esquecemos Deus não por falta de memória, mas por falta de amor para com ele. “Quando lhe convém, o homem esquece que é cristão” (Santo
Agostinho. In ps. 21, 2,5)
O que nos chama a nossa atenção é o aparente
egoísmo e aparente falta de solidariedade das cinco virgens prudentes que não
dividiram seu azeite para as insensatas, e a aparente falta de amor do noivo
que não abriu a porta para as cinco insensatas também chama a nossa atenção. A
parábola quer destacar uma responsabilidade pessoal que não é substituível por
ninguém diante de Deus no fim dos tempos. Ninguém pode prestar contas em nome
de outra pessoa diante de Deus nesse momento. Cada um é único diante do Deus
único. As qualidades interiores, as qualidades do espírito que temos ou não as
temos, não podem ser emprestadas ou repartidas diante da seriedade do momento.
É insubstituível o compromisso pessoal da vigilância.
O juízo particular é tema que desperta não
só responsabilidade, mas também esperança e otimismo. Deus não empurra ninguém
para o céu ou para o inferno. É a própria pessoa quem decide sobre isso durante
sua vida. Não é uma sentença divina que vai declarar a pessoa culpada ou
inocente, e sim é o modo de vida da pessoa que vai condicionando sua opção por
Deus. “Nunca esqueças: a
única razão para ser cristão é a vida eterna” (Santo Agostinho. De civ.
Dei 5,25). “Põe na terra as
coisas terrenas, mas teu coração, no céu” (Santo Agostinho. In Joan.
18,6). “Buscas a Deus na Igreja, ou buscas a ti mesmo?” (Santo
Agostinho. Serm. 137,9).
Pe. Vitus Gustama,svd
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