15/08/2015
JESUS E CRIANÇAS
OLHAR
AMOROSO DO PAI DO CÉU PARA TODOS
Sábado
da XIX Semana Comum
Evangelho: Mt 19, 13-15
Naquele tempo, 13 levaram crianças a Jesus,
para que impusesse as mãos sobre elas e fizesse uma oração. Os discípulos,
porém, as repreendiam. 14 Então Jesus disse: “Deixai as crianças e não as
proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. 15 E depois de impor
as mãos sobre elas, Jesus partiu dali.
______________
Algumas mães apresentam a Jesus seus
pequenos filhos/crianças para serem abençoados (as) e curados (as) por ele. Os
discípulos não gostam e as repelem porque as crianças menos de doze anos eram
tidas como seres sem valor algum. Os discípulos não querem que Jesus seja
atrapalhado nas coisas muito importantes. Para eles cuidar de crianças é uma questão secundária.
Os escribas também não davam atenção para as crianças como também nem davam
atenção para as mulheres, pois são propriedades de seus “donos” (pais e maridos
respectivamente). Por isso, as crianças representam todos os pobres, excluídos
e insignificantes ou sem valor para o olhar da sociedade.
Jesus se posiciona contra para esta visão distorcida.
Por isso, ele afirma: “Deixai as
crianças e não as proibais de virem a mim, porque delas é o Reino dos Céus”.
Através desta afirmação Jesus mostra sua
posição bem clara: uma criança não é inferior a um adulto, nem a um rei ou a
qualquer nobre, pois todos são filhos e filhas de Deus, pois Deus é o Pai de
todos (cf. Mt 6,9-13). Além disso, para Jesus as crianças são privilegiadas na
pedagogia do Reino, pois elas vivem sem maldade, nem violência, nem ódio. Maldade,
violência, ódio fazem parte do mundo de adultos. Ao acolher as crianças Jesus
também quer nos mostrar sua valorização da vida em todas as suas situações e
etapas. Trata-se da pedagogia includente. Por isso, sobre as crianças Jesus impõe
as mãos, na forma da bênção e do envio (era costume na tradição antigo: Nm
6,24-27).
Se a sociedade fica sem o olhar de estima
para as crianças, Deus os tem um olhar amoroso. Jesus exige aos discípulos para
que as crianças possam chegar até Jesus: Deixai
elas virem a mim. Jesus também aproveita nessa exigência a oportunidade
para dar uma lição importante para os discípulos: “Delas é o Reino dos céus”. Isso quer nos dizer, literalmente, que o
apelo e as promessas de Deus também são para elas. Ninguém está excluído das
promessas (bênçãos) de Deus. Deus quer salvar todos.
“Delas é o Reino dos céus”. Essa frase nos
mostra que Deus tem para as crianças ou para os pequeninos uma elevada conta.
Além disso, por serem puras, as crianças são o reflexo do Reino dos céus,
segundo Jesus. As crianças são tabernáculo vivo no qual o pecado e a maldade
não entram.
Os pobres, isto é,
os mais carentes, os necessitados são objeto de particular predileção por parte
do Senhor (cf. Lc 4,16-21). As crianças, os pequeninos são mais pobres dos
pobres: são pobres de idade, de formação, de força (indefesos). A Igreja (todos
os batizados) como Mãe deve exercer sua maternidade acolhendo, abrigando e
velando sobre todos, especialmente sobre os mais necessitados.
“Deixai
as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. As palavras de
Jesus soam como uma reclamação ligeira. Para os adultos as “coisas de crianças”
representam um segundo plano. Quando avançamos na idade e com a experiência da
vida, os adultos começam a ver as “coisas de crianças” como comportamentos
superados esquecendo-nos de algo importante numa criança: a pureza, a
simplicidade, a sinceridade de sentimentos que são justamente as virtudes que
Jesus valoriza mais. Se nós somos complicados, ambíguos e pouco coerentes, tudo
isso não será uma consequência de não sabermos conservar as virtudes de nossa
infância?
Seremos mais felizes e mais serenos, se
pusermos em Deus nossa confiança e segurança como uma criança nos seus pais. Se
tivermos fé firme em Deus e deixarmos Deus tomar conta de nossa vida (com nossa
colaboração), e se mantivermos a pureza, a simplicidade e a sinceridade, nós
encontraremos novamente a serenidade de nossa infância e viveremos com mais
alegria e leveza.
“Deixai
as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. O Reino anunciado
por Jesus se funda na igualdade das pessoas. É um reino de comunhão e
fraternidade. Portanto, não pode admitir a exclusão de quem quer que seja.
Jesus diz que está reservado um lugar especial no Reino de Deus para as
crianças. O Reino de Deus pertence a quem se pareça com as crianças. Não é que
o ideal do discípulo seja ser ingênuo e infantil, e sim, ser capaz de confiar
plenamente em Deus, não busca segurança por si mesmo, não ter o coração
corrompido pela maldade. As crianças são, com efeito, protótipo de pessoas que
têm fé e confiança em Deus muito mais que a inocência ou a pureza. Santo
Ambrósio perguntou: “Por que se diz que as crianças são aptas para o
Reino dos céus? Talvez porque geralmente não têm malícia, não sabem enganar nem
se atrevem a enganar-se; desconhecem a luxúria, não desejam as riquezas e
ignoram a ambição”. Se hoje em dia as criança têm o espírito de
ganância é porque estão sendo contaminadas por seus pais ou pelos adultos. Se
assim for, é hora para reeducar as crianças na graça e na sabedoria como foi
educado Jesus por Sua mãe Maria (cf. Lc 2,52)
Para sermos como crianças, é necessário que
nos disponhamos a mudar profundamente (conversão), e que assimilemos o
ensinamento divino. Para isso, temos de cultivar em primeiro lugar uma firme
vontade de nos comportarmos como filhos e filhas de Deus, dóceis à vontade de
Deus com humildade e simplicidade de espírito.
Na vida cristã, a maturidade se dá
precisamente quando nos fazemos crianças diante de Deus, filhos pequenos que
confiam e se abandonam nele como uma criança que se abandona nos braços de seu
pai. Então encararemos os acontecimentos do mundo como são, no seu verdadeiro
valor. Esta piedade filial fortalece a esperança e a certeza de chegar à meta,
e nos dá paz e alegria nesta vida. Perante as dificuldades da vida, não nos
sentiremos nunca sozinhos. Esta certeza será para nós como a água para o
viajante no deserto. Sem ela, não poderíamos prosseguir a viagem.
O texto do evangelho de hoje convida cada um
de nós a “vir a Jesus”, isto é a crer nele para que possamos possuir o Reino,
entrar nele e recebê-lo como uma criança: com sua pequenez.
“Deixem que as crianças venham a mim” não é
somente um convite a fazer-se como crianças e sim uma declaração e uma
verdadeira promessa feita a todos os que são como as crianças que fazem parte
do Reino de Deus.
Que tenhamos um coração de uma criança
diante de Deus, nosso Pai: uma confiança total e sem limite. Somente a partir
da própria debilidade assumida é que é possível reconhecer o senhorio de Deus
sobre a história humana e sobre nossa vida. Os autossuficientes e aqueles que
consideram que podem tudo estão impossibilitados de reconhecer a realidade da
graça de Deus. A qualidade essencial que nas crianças se destaca é a humildade,
a impotência diante da vida, a necessidade que tem de seus pais. Tudo isto deve
ser também nossa atitude diante de Deus. Sejamos como crianças em espírito
simples e humilde.
O Senhor Jesus nos
reúne ao redor da Mesa eucarística como irmãos seus (cf. Mt 12,48-50) para que
juntos celebremos o Banquete do Reino dos céus que se iniciou entre nós estando
ainda nós neste mundo. Para Jesus, nosso Senhor, não há espaço nenhum para
qualquer diferença social. Ele ama a todos igualmente e ninguém pode se sentir
um discriminado, um excluído, um desprezado por causa de sua pobreza, de seu
pecado, de sua etnia, de sua cultura ou de sua nação. O Senhor experimentou
nossas dores e fez suas nossas feridas (cf. Mt 8,17). Ele recorreu o caminho de
entrega no amor até as últimas consequências.
Se quisermos dar-lhe
um novo rosto à humanidade devemos seguir seus passos, carregando nossa própria
cruz de cada dia até sermos glorificados junto com Ele. Na Eucaristia somos
permanentemente convidados a ser nossas as palavras de nova e eterna aliança:
“Isto é meu Corpo que se entregue por vós; isto é meu Sangue que é derramado
para o perdão dos pecados”. Em outras palavras, ser vida para os outros.
·
“Ensine as crianças, então não será necessário ensinar os
adultos” (Abraham Lincoln).
·
“Se uma criança não conseguir aprender do jeito que nós as
ensinamos, deveremos ensiná-las do jeito que as crianças podem aprender”
(anônimo).
·
“O modo com que conversamos com nossas crianças, se tornar-se-á
sua voz interior” (Peggy O´Mara).
P.Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário