27/08/2015
ESTEJAMOS VIGILANTES
Quinta-Feira Da XXI Semana Comum
SFESTA DE ANTA MÔNICA
Evangelho: Mt 24,42-51
Naquele tempo disse
Jesus aos seus discípulos: 42 “Ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá
o Senhor. 43 Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria
o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44
Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o
Filho do Homem virá. 45 Qual é o empregado fiel e prudente, que o senhor
colocou como responsável pelos demais empregados, para lhes dar alimento na
hora certa? 46 Feliz o empregado, cujo senhor o encontrar agindo assim, quando
voltar. 47 Em verdade vos digo, ele lhe confiará a administração de todos os
seus bens. 48 Mas, se o empregado mau pensar: ‘Meu senhor está demorando’, 49 e
começar a bater nos companheiros, a comer e a beber com os bêbados; 50 então o
senhor desse empregado virá no dia em que ele não espera, e na hora que ele não
sabe. 51Ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos hipócritas. Ali haverá
choro e ranger de dentes”.
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I. Santa Mônica
Também celebramos hoje a festa de Santa
Mônica, mãe de Santo Agostinho (a festa de Santo Agostinho no dia 28 de
agosto). Ela nasceu em Tagaste, África, em 331, de uma família cristã. Ainda
muito jovem casou-se com Patrício, legionário pagão, com quem teve três filhos:
Agostinho, Navígio e uma filha (que morreu como superiora do mosteiro de
Hipona, em 424).
A vida de Mônica não foi muito tranqüila,
mas terminou feliz. Em primeiro lugar, ela teve aflições pelo marido. Ela
suportou infidelidades conjugais, sem jamais hostilizar, demonstrar
ressentimento contra o marido por isso. Além disso, o marido era um homem de
comportamento esquentado. Mônica se mostrava calma e paciente por causa de sua
vida espiritual profunda. “Depois que ele se refazia e acalmava, ela
procurava o momento oportuno para mostrar-lhe como se tinha irritado sem
refletir”, escreveu Santo Agostinho sobre sua mãe, Mônica, diante do
marido, Patrício (Confissões, IX,19). Era assim que ela conquistava o
marido. O que tem por trás disso é a
fidelidade de Mônica a Deus dia a dia. Por isso, Mônica teve a consolação de
levar o marido à fonte batismal em 371, um ano antes da morte dele.
Após a morte do marido, Patrício, Mônica se
viu sozinha diante da conduta desordenada do filho Agostinho, que aos 16 anos
abandonou a vida digna de um filho de Deus. Trata-se de outra aflição que
Mônica tinha. Agostinho era um filho rebelde à graça de Deus, inteligente, mas
indiferente. Por ele, Mônica rezou e chorou. Ela suplicou a Deus com
insistência e não cansou de pedir a ajuda das pessoas sábias. Um dia ela pediu
o conselho do bispo Ambrosio de Milão (festa 07/12). Dele ela recebeu esta
resposta: “Vai em paz, mulher, e continua assim; não te preocupes,
contenta-te com rezar por ele; é impossível que perca o filho de tantas
lagrimas”. Esse pensamento se expressa na coleta da festa: “Ó Deus,
consolação dos que choram, que acolhestes, as lagrimas de Santa Mônica pela
conversão de seu filho, Agostinho....”. Mônica mais uma vez alcançou a graça de
ter conseguido de Deus a conversão de Agostinho. Agostinho recebeu o batismo em
387.
Mônica e Agostinho passaram juntos o verão
na Itália, aguardando a partida de Mônica para a África. As últimas palavras de
Mônica para Agostinho eram estas: “Meu filho, quanto a mim, não existe nada
que me atraia nesta vida. Nem sei mesmo o que estou fazendo aqui, e por que
ainda existo. Uma única coisa que me fazia desejar viver ainda um pouco era
ver-te católico antes de eu morrer. Deus me concedeu algo mais e melhor: ver-te
desprezar as alegrias terrenas e só a Ele (Deus) servir. Por isso, o que é que
estou fazendo aqui?” (cf. Confissões, 25). “Maravilhados diante da
coragem dessa mulher (Mônica), dádiva tua, perguntaram-lhe se não tinha medo de
deixar o corpo longe de sua cidade natal. E ela respondeu: ‘Para Deus nada é
longe, nem devo temer que no fim dos séculos ele reconheça o lugar onde me
ressuscitará’”, recordou Santo Agostinho (Confissões, 28).
E dentro de pouco tempo ela morreu (em
Óstia) antes de embarcar de volta à pátria. Era o ano de 387 e tinha 56 anos de
idade. “Pelo nono dia de doença, aos cinqüenta e seis anos de idade, quando
eu tinha trinta e três, essa alma fiel e piedosa libertou-se do corpo.
Fechei-lhe os olhos, e uma tristeza infinita invadiu-me a alma. Estava prestes
a transbordar em torrentes de lágrimas”, assim escreveu Santo Agostinho
sobre a morte de sua mãe, Mônica (Confissões, 28-29).
Agostinho ficou tão admirado pela virtude de
sua mãe, Mônica, até chegou a escrever: “Não quero calar os sentimentos que
me brotam na alma a respeito de tua serva, que me deu a vida temporal segundo a
carne e que, pelo coração, fez-me nascer para a vida eterna”. (Confissões
IX, 17). No seu livro “Confissões”, Agostinho dedicou o cap. IX para falar da
virtude de sua mãe, Mônica.
Creio que muitas mães de hoje, que sofrem
pela mesma causa ou outras causas, vêem-se em Santo Mônica e se identificam com
ela. Mônica quer dar a mensagem de esperança para todas as mães sofredoras que
continuem a acreditar em Deus e permaneçam na oração serena. Deus pode tardar,
mas nunca falha. É preciso aprendermos a viver ao ritmo de Deus, pois com Sua sabedoria
infinita Deus dá o que nos é digno no tempo certo. É importante mantermo-nos
fieis até o fim. E o próprio Jesus afirma: “E Deus, não faria justiça a seus
eleitos que clamam a Ele dia e noite, mesmo que os faça esperar?” (Lc 18,7).
II. Evangelho
“Não enganes a ti mesmo. Gostes ou não, não és
mais que um convidado, um transeunte, um peregrino neste mundo. Podes, pois,
adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em
residente” (Santo
Agostinho. In ps. 120,14)
O conjunto de Mt
24,1-25,46 forma o quinto Discurso de Jesus no evangelho de Mateus: o Discurso
sobre o fim do mundo. Trata-se de um discurso apocalíptico-escatológico.
O termo “apocalipse” é muito longe da linguagem moderna que suscita imediatamente idéias de
catástrofe, de desastre total, de comoções cósmicas aterradoras. No entanto, a
linguagem apocalíptica quer expressar a fé e a esperança numa orientação divina
da história humana e da criação. Os autores de apocalipses, diante do
desenvolvimento de fatos inevitáveis, de catástrofes, de ruínas e de mudanças
históricas, cantam sua esperança no cumprimento das promessas movidos pela fé
no triunfo de Deus, aparentemente impossível, porém seguro: Deus triunfará
sobre o mal. Conseqüentemente eles querem transmitir a força, o ânimo e a
perseverança em seguir os mandamentos do Senhor, pois no fim a última palavra
será a Palavra de Deus e não a do homem.
Na primeira parte
do quinto discurso de Jesus (Mt 24,4-41), ao revelar o futuro dos discípulos,
um futuro “presente”, Jesus quer ajudá-los a entender como devem viver na
história a missão que lhes é confiada para pregar o Evangelho do Reino a todas
as nações (24,14; 28,18-20), confiando em Sua Palavra (Mt 24,25).
O quinto discurso
é chamado também de “o discurso escatológico”. “Escatologia” é o discurso sobre o que
ocorrerá no fim. Quando falamos de realidades futuras e finais (escatologia), o
texto assinala duas expressões: “Vinda do Senhor” e “Fim do mundo”. Quando
intentamos a viver à espera do encontro com o Senhor, que terá lugar para o
final da história, então dizemos que estamos dando um “sentido
escatológico” para nossa existência. O
mandato será: “Vigiai porque não conheceis nem o dia nem a hora”. O discurso
termina falando do “encontro” com o Senhor glorioso (Mt 25,31-46).
O texto do
evangelho de hoje começa com a seguinte ordem: “Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Esta é a mensagem que a Palavra de Deus dirige a cada um de nós hoje.
“Ficai atentos! Estejais vigilantes!”. Por um lado, é a certeza da
vinda-regresso do Senhor. Por outro lado, a incerteza do “quando” desta vinda.
Esse fato põe, de manifesto, a importância do tema sobre a vigilância. São João Crisóstomo dizia: “Se os
homens conhecessem o momento de sua morte, eles se preparariam com grande
empenho e cuidado para essa hora”. Jesus nos disse isto com parábolas que encontramos neste quinto
discurso.
“Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia
virá o Senhor”. Ficai atentos! Estejam vigilantes! Velar ou vigiar, em sentido
estrito, significa renunciar ao sono da noite para terminar um trabalho urgente
e importante ou para não ser surpreendido pelo inimigo. Em um sentido mais simbólico
significa lutar contra a negligência para estar sempre em estado de
disponibilidade. É viver uma vida atenta à voz do Senhor e vigilante diante dos
sinais da realidade.
Vigiar significa
não distrair-se, não adormecer-se. Vigiar faz parte inseparável da própria
atenção. O cristão não pode ser alienado. Ser vigilante faz parte do
discipulado. Quem é vigilante nota com facilidade o que está acontecendo ao
redor. A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor mantém o
coração alerta e a disponibilidade para ajudar. No meio de uma sociedade que
parece muito contente com os valores que tem, o cristão é convidado a viver na
esperança vigilante. Vigiar significa ter o olhar posto nos “bens de cima”.
Vigiar é viver despertos, em tensão, mas não com angústia e sim com seriedade.
O cristão precisa se esforçar por buscar sempre as “coisas do alto”, os valores
que o edificam e salvam, como a fraternidade, o amor, a solidariedade, o
projeto de Deus, entre “as coisas de baixo”, como egoísmo, ganância, exploração,
arrogância, ódio e assim por diante. Em outras palavras, nós cristãos temos que
ser protagonistas não somente da espera do Reino, mas também de sua construção
desde agora neste mundo.
A vigilância
perseverante nos leva a ser considerados bem-aventurados pelo Senhor quando
vier: “Feliz o empregados cujo senhor o encontrar agindo assim quando
voltar” (Mt 24,46). Será que o Senhor vai me considerar bem-aventurado
quando ele chegar? É a pergunta que nos faz vigilantes e nos faz revermos
nossas atitudes. Estou suficientemente atento e disponível para escutar os
sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas?.
A vigilância, para um cristão, não é
opcional. O futuro de cada homem é imprevisível. A imprevisibilidade do futuro
reclama vigilância. O homem prudente, sensato não considera a atitude vigilante
como algo simplesmente possível, uma entre outras muitas opções. A vigilância é
a melhor opção. Vigiar para ser capazes de dominar os acontecimentos, no lugar
de ser dominados por eles. Vigiar para não perder jamais a paz. Vigiar para
descobrir a escritura de Deus nas páginas da história. Vigiar para saber
descobrir a ação do Espírito no nosso interior. Vigiar para manter íntegras a
fé, a esperança e a caridade. A vigilância não é um opcional e sim uma
necessidade vital. Vigiar é viver como o lavrador que semeia e está sempre
pensando em ter boa colheita, e como o desportista que, desde o primeiro
esforço, sonha em chegar primeiro à meta.
Um cristão não pode ser nem estar alienado.
Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e preparado para
servir dia e noite. Servir para o cristão não é opcional, é lei constitutiva da
vida cristã. O Senhor voltará com toda segurança no nosso encontro derradeiro.
O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer alerta, sempre em
tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão com o Senhor no
gozo e no amor.
É sábio quem vive na vigilância permanente e
sabe olhar para o futuro. Não é porque não saiba gozar da vida presente e
cumprir suas tarefas de hoje e sim porque sabe que é peregrino nesta vida e o
importante é assegurar-se sua continuidade na vida eterna. É viver com uma meta
e uma esperança. Por isso, o trabalho neste mundo para o cristão é um
compromisso pessoal para transformar-se a si mesmo e para transformar o mundo
em que vive.
A fé é sempre um
êxodo, uma saída, o começo de um caminho até o futuro de Deus que nos traz a
salvação. Quem crê está sempre de passo, vive como um estrangeiro, como um
nômade. Assim viveu Abraão, inclusive na terra que Deus lhe havia prometido (Gn
17,8; 20,1; 21,23; 24,37). A “terra prometida” é o símbolo da cidade futura, da
cidade que Deus constrói para os que a buscam e põem nela toda sua esperança.
No campo aberto pela promessa de Deus, o homem de fé se arrisca investindo toda
sua vida e gera nova vida sobre sua debilidade ou fraqueza.
O cristianismo não está preocupado pela
futurologia que se sustenta nas possibilidades humanas, nas previsões e
tendências atuais para prever o futuro, e sim radicalmente pelo futuro que
provem da promessa de Deus. Para Deus promessa significa certeza: “As minhas
Palavras não passarão”, disse Jesus (Mc 13,31). Para Jesus o depois se inicia
como algo já presente no agora. Isto que dizer que já agora temos que viver
como viveremos depois, como rezamos no Pai-Nosso: “assim na terra como no
céu”.
P.
Vitus Gustama,svd
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