07/08/2015
SEGUIMENTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
SER CRISTÃO CONVICTO
E CONSCIENTE
Sexta-Feira da XVIII Semana Comum
Evangelho:
Mt 16,24-28
Naquele tempo, 24
Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo,
tome sua cruz e me siga. 25 Pois quem quiser salvar a sua vida vai
perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 26
De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro mas perder a sua vida?
Que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o Filho do Homem
virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de
acordo com a sua conduta. 28 Em verdade vos digo: Alguns daqueles que
estão aqui não morrerão antes de verem o Filho do Homem vindo com seu Reino”.
_________________
As exigências do
seguimento de Jesus das quais fala o evangelho deste dia são repetidas seis
vezes com variantes maiores e menores nos quatro evangelhos (Mt 16,24ss; Mc
8,34ss; Lc 9,23s; Jo 12,24ss; Lc 14,27; Mt 10,38s). Essa repetição nos indica a
importância dada pela Igreja dos apóstolos a essas exigências.
Os discípulos já
fizeram uma opção inicial por Jesus. Agora, diante das implicações do
seguimento se encontram diante de uma situação da escolha definitiva. Para ser
discípulo de Jesus não é suficiente a chamada; é necessária uma resposta clara
depois de ter consciência das condições que a chamada impõe.
Ao apresentar para
os discípulos as condições do seguimento, Jesus não impõe, mas propõe: “Se alguém quer...”. São João Crisóstomo
comentou: “Ele disse: Eu não forço nem obrigo ninguém a me seguir, deixo a
cada um dono de sua própria escolha; por isso, digo: Se alguém quer...”. O
seguimento não é uma imposição. Todos têm a liberdade de aceitar ou de recusar.
Mas quem quer seguir verdadeiramente a Jesus, tem que assumir as exigências
propostas por ele. Tudo tem que ser tomado na base da liberdade, da obediência
da fé e por amor.
A primeira
condição é a renúncia a si mesmo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo...”
(v.24).
Pela renúncia e
pela cruz, Jesus não propõe uma destruição e sim um desenvolvimento, uma
expansão total e eterna. Por isso, renunciar a si mesmo ou negar-se a si mesmo
significa que a pessoa deixa de encontrar em si mesma “seu centro” (egoísmo),
mas aberta diante de Deus e do próximo. A renúncia não tem seu fim em si mesma.
A renúncia é a condição de uma vida em plenitude. A própria vida se converte em
uma vida de entrega com a possibilidade de sofrimento (cruz) sem nenhum tipo de
gratificação humana, pois a vida se entrega unicamente Àquele que é capaz de
dar sentido. Somente a pessoa que não se fecha ou não se encerra em si mesma
pode verdadeiramente realizar em plenitude sua própria vida em Deus.
Por isso, renunciar
a si mesmo não significa uma resignação cansada diante da vida nem uma “entrega
dos pontos” nem por falta de opções. Antes de tudo significa a libertação da
própria liberdade do egoísmo a que estava atada e que agora se entrega
inteiramente a Deus. O seguidor é chamado a colocar o próprio eu no centro do
interesse do Reino de Deus. O centro de sua vida está doravante na vontade de
Deus, manifestada para ele na pessoa e na missão de Jesus Cristo. E esta
entrega tem de ser livre para poder ser feita na alegria, no entusiasmo e na
generosidade. O seguidor é chamado à renúncia, a arriscar a própria vida,
porque só assim poderá, como Cristo, chegar à glória que é a meta de todo
caminho da cruz. Mas toda renúncia deve ter como base o amor. O sacrifício, a
renúncia de si mesmo que não seja animado pelo amor, que não seja uma
manifestação de amor, que não seja uma expressão de doação de si mesmo, que não
leve à comunhão com os outros é apenas uma tortura auto-infligida. A renúncia
que Jesus pede não é uma ação negativa. Ele pede amor, doação de si mesmo. Tudo
tem que ser feito por amor. Sem o amor, viveremos uma vida dupla. E este tipo
de vida, não traz a alegria verdadeira nem para si nem para os outros.
Renunciar a si mesmo é que faz qualquer um discípulo ou seguidor de Jesus. Renunciar
é saber abrir mão de tantos interesses pessoais em função do bem comum ou do
bem de todos. Por isso, a renúncia é enriquecedora. Em cada renúncia crescemos
na direção do bem. Quem não aprender a renunciar, infantiliza-se.
A segunda
condição é o “carregar a sua cruz”: “Se alguém quer me seguir, tome
a sua cruz e me siga” (v.24b). Ser cristão não significa curtir a dor. “Carregar
a cruz” é uma expressão que os primeiros cristãos utilizaram muito para
expressar sua união com Jesus na sua morte e ressurreição. É uma expressão
relacionada ao mistério pascal de Jesus Cristo. A cruz de Jesus é o maior sinal
de seu amor por nós.
Viver fielmente os ensinamento de Jesus pode ter consequências
de sofrimento. Quem vive de acordo com a justiça e a honestidade, será
perseguido por quem vive na corrupção, na desonestidade e na injustiça. Ser
verdadeiro seguidor de Jesus jamais será isento de sofrimento ou cruz. Não dá
para parar de sofrer. A Igreja de Jesus é a Igreja dos mártires. A cruz é a consequência
de colocar o bem acima de qualquer interesse pessoal. É uma morte do eu para
que o outro possa viver. Jesus pede ao seguidor o esvaziamento total de si
mesmo, até a morte física, se for preciso. Quem não tiver esta disponibilidade,
ainda não é verdadeiramente seguidor de Cristo. Todo aquele que quer seguir a
Jesus incondicionalmente deve estar pronto para percorrer todos os passos da
Paixão, pois o “mundo” tenta crucificar e eliminar os seguidores de Cristo por
todos os meios, como aconteceu com Jesus.
Depois dessas
condições, Jesus mostra os motivos em forma de ditos paradoxais.
Em primeiro lugar
Jesus afirma que quem busca egoisticamente, a todo custo, usando quaisquer
meios, aproveitar, gozar e conservar a própria vida acaba desperdiçando-a e
perdendo-a: “Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem
perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt 16,25; cf. Mt 10,39; Mc 8,35; Lc
9,25;17,33; Jo 12,25).
Nossa vida não é
feita para ser guardada e sim para ser entregue e doada. Amar não é “sentir
emoção”, não é desejar possuir o outro. Amar é esquecer-se de si mesmo para
dar-se ao outro. Isso supõe muita renúncia. Toda vez que alguém tomar para si o
outro, ele deixa de amá-lo. Não podemos dizer que amamos o outro quando
queremos dizer somente para desfrutar do outro. Isso seria apenas amar a nós
mesmos. Amaremos de verdade quando formos capazes de nos renunciar, de nos
esquecer, de morrer a nós mesmo em beneficio daqueles aos quais amamos. Quem
amou muito e até o fim foi Jesus (cf. Jo 13,1; 15,13). E somos chamados de
seguidores de Jesus. Somos cristãos, isto é, somos de Cristo.
Querer guardar
para si a própria vida é o caminho mais seguro para perdê-la. Pelo contrário,
quem vive em função do serviço desinteressado aos outros na bondade e no amor,
ele acaba encontrando a vida na sua plenitude, acaba ganhando a vida eterna. A
vida só se encontra, doando-a. O próprio Jesus é o exemplo desta doação. Ele se
doou até o fim a Deus e aos homens. O homem muitas vezes somente dá um pouco de
sua vida. O verdadeiro cristão se doa tudo por amor.
No v. 26 Jesus
repete o paradoxo anterior: “De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo
inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”
Possuir os bens deste mundo não seria um mal em si mesmo, mas torna-se o maior
dos males quando, por causa de tais posses, o cristão é impedido de seguir a
Cristo ou de viver os valores do Reino de Deus. Jesus, certamente, rejeitou o
“mundo inteiro” que o Tentador lhe oferecera, pois o preço da oferta era a
idolatria (Mt 4,8s). “Desapeguemos o coração de todas as
criaturas. Quem está agarrado a alguma coisa da terra, ainda que mínima, nunca
poderá voar e unir-se todo a Deus” (S. Afonso de Ligório). Ainda que
alguém ganhasse o mundo inteiro (riqueza, glória, poder), a vida é efêmera. Em qualquer
momento o homem pode encerrar sua existência neste mundo e cessará seu direito
de usufruir o que ele ganhou. Podemos possuir as coisas, mas as coisas não podem
nos possuir para que seja mantida nossa liberdade interior. Podemos usar as coisas, mas as coisas não podem
nos usar. Na ótica da fé, todas as riquezas do mundo são insignificantes quando
o que está em jogo é a vida em plenitude (eterna) que Jesus oferece aos que o
seguem.
Jesus nos ensina o
caminho do amor. Não há amor verdadeiro sem renúncia. Para amar tem que
aprender a sacrificar-se. Quem busca a si mesmo e seus próprios interesses,
nunca experimentará o verdadeiro amor que faz feliz a alma. Somente poderemos
ser cristãos se nos amarmos uns aos outros (cf. Jo 15,12). Amar de verdade
supõe o sofrimento, supõe cruz. uma boa maneira de fazê-lo é servir aos outros
ao meu redor com pequenos detalhes e não queixando-me diante dos inconvenientes
típicos de cada jornada.
O fundamento
último da nossa opção pelo seguimento incondicional de Cristo é a certeza, dada
pela fé, de que o Filho do Homem virá um dia na sua glória (v.27). Ele terá a
última palavra sobre o homem. Essa palavra será uma palavra da graça divina
para quem segue a Jesus incondicionalmente por amor. O juízo final torna-se,
então, a medida para avaliar a existência histórica e ao mesmo tempo a bússola
que orienta a vida do cristão nas escolhas justas e sensatas na vida diária
neste mundo.
P.
Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário