12/08/2015
CORREÇÃO
FRATERNA É OCASÃO DE SALVAÇÃO PARA O
PRÓXIMO
Quarta-Feira da XIX Semana Comum
Evangelho: Mt 18,15-20
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 15 “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em
particular, à sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. 16 Se
ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a
questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. 17 Se
ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja
tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. 18 Em verdade vos
digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes
na terra será desligado no céu. 19 De novo, eu vos digo: se dois de vós
estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isto vos
será concedido por meu Pai que está nos céus. 20 Pois onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles”.
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Estamos
acompanhando o quarto discurso de Jesus no evangelho de Mateus (Mt 18). Neste
quarto discurso o que se enfatiza é a vida comunitária na fraternidade.
A passagem do
evangelho de hoje quer dar resposta às seguintes questões: que atitude tomar em
relação a quem erra? Em outras palavras, como corrigir o irmão que peca/erra? Trata-se,
então, da correção fraterna.
A correção fraterna
é uma norma antiquíssima, como lemos em Lv 19,17: “Deves repreender teu próximo, e assim não terás a culpa do pecado”.
Com a correção fraterna nos tornamos um para o outro ocasião de salvação.
Somente entre irmãos é que pode haver a correção. É por isso que s chama a
correção fraterna. Ser irmão significa sentir-se responsável pelo crescimento
do outro e, portanto, gozar de seu bem ou capacidade, e sentir seu mal. É ir
além da indiferença e do medo, da inveja, da rejeição e do ciúme.
Nós não praticamos
a correção fraterna a partir da agressividade e da condenação imediata de quem
errou. A correção fraterna deve ser guiada pelo amor e pela compreensão na
busca do bem do irmão: estender a mão para ajudá-lo, dirigir-lhe uma palavra de
ânimo e ajudá-lo na sua recuperação.
A correção fraterna
é uma atividade espiritual, pois deve ser feita à luz do Espírito de Deus para
não transformá-la em censura e juízo que exprimem mais superioridade que
fraternidade. A correção fraterna é um modo de ser e crescer juntos, de ligar a
própria vida à vida de quem me está “próximo”, de conceber a fraternidade como
evento de salvação. A correção fraterna me faz descobrir o irmão e me faz irmão
para o outro. A correção fraterna faz alguém pôr-se ao lado do outro para
caminhar junto.
A Igreja, todos
nós, não constitui uma comunidade de perfeitos, mas de pessoas em busca da
perfeição. Ninguém de nós é perfeito, e não é porque seguimos a Jesus é que
estejamos livres de cometer erros. São João diz: “Se dissermos: ‘Não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade
não está em nós... Se dissermos: ‘Não pecamos’, fazemos dele um mentiroso, e a
sua palavra não está em nós” (1Jo 1,8.10). Todos nós, membros da Igreja de
Jesus Cristo, somos convidados a manifestar nossa responsabilidade para com o
irmão que erra ou peca. Não se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna
para que se estabeleça o amor. A lei do amor, com certeza, obriga a um esforço
para reconduzir o irmão que erra ao bom caminho.
O pecador ou um
irmão que errou não descobrirá o perdão de Deus se não tomar consciência da
misericórdia de Deus que atua na Igreja (entre os seus membros) ou em cada
comunidade e na assembleia eucarística. Todos nós somos corresponsáveis na
comunidade.
Por isso, há uma
coisa que absolutamente não deve ser feita (mas infelizmente, a primeira que se
faz): espalhar a notícia do erro cometido. Porque isto é difamação. A difamação
presta-se somente a humilhar quem errou, a irritá-lo, a fazê-lo teimar no mal.
É mesmo que perder para sempre a oportunidade de recuperar o irmão. A difamação
pode destruir o homem, como diz o Eclesiástico: “Um golpe de chicote deixa marca, mas um golpe de língua quebra
completamente os ossos” (Eclo 28,17). A difamação (língua) pode matar um
irmão, pode arruinar uma família e pode destruir um casamento. Há quem pense
que por ter falado a verdade pode ficar tranquilo. A questão é de que modo se
transmite a verdade. A verdade que não produz amor, mas que provoca perturbação
e desunião, que gera discórdias, ódios e rancores, não deve ser dita. A verdade
nua e crua, às vezes, provoca o efeito contrário do amor. A verdade que mata
opõe-se à vida. Como dizia São Francisco de Sales: “Uma verdade que não é caridosa procede de uma caridade que não é
verdadeira”. A verdade, então, está submetida à caridade. Precisamos
levar em consideração o grande respeito e prudência em ditar a verdade. O que
se diz e como se diz devem ser levados sempre em consideração.
Por isso, o texto
do evangelho de hoje nos apresenta algumas etapas sobre como corrigir um irmão que
errou. Primeiro, através do diálogo
secreto, isto é, a conversa particular com o irmão que errou/pecou. Neste diálogo
particular poderia perguntar a razão pela qual o irmão pecou e apresentar os
motivos reais para a recuperação. A intenção é recuperação do irmão, como uma
ovelha perdida. Isso significa que tudo tem que ser feito no espirito fraterno.
Segundo, quando o primeiro
passo não deu certo, é bom procurar duas testemunhas que têm boa índole, bom caráter,
maturidade e boa intenção para recuperar o irmão que pecou e são capazes de
guardar o segredo em função da integridade do irmão que pecou. Duas ou três são
um número suficiente para representar a comunidade e, ao mesmo tempo, o número
para tornar o fato público, mas jamais pode ser divulgado o fato para manter a
integridade do irmão que pecou. Terceiro,
quando nem o segundo passo deu certo, uma comunidade inteira (he ekklêsia) deve unir as forças
para salvar o irmão que errou/pecou. Se ele negar este esforço, é porque o irmão
que não quer se converter já virou pagão. Mesmo assim sempre é bom continuar a
orar por este irmão para que cedo ou tarde Deus possa iluminá-lo para voltar ao
caminho certo.
Além da correção
fraterna o texto do evangelho de hoje fala também da oração partilhada ou
comunitária. Segundo Jesus, a oração eficaz somente pode ser fruto da superação
da própria agressividade, do próprio egoísmo e dos interesses individuais.
Quando houver concórdia entre os membros de uma comunidade, isto é, união dos
corações, quando há preocupação recíproca (um cuida do outro), quando reinar a igualdade,
pois todos são do mesmo Pai celeste, a oração se tornará eficaz e chegará até
Deus: “Eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre
qualquer coisa que quiserem pedir, isto vos será concedido por meu Pai que está
nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali,
no meio deles”.
Acreditamos que em
Deus não há espaço para as pessoas que pensam só em si mesmas, que se preocupam
só com sua própria vida espiritual, pois no Reino de Deus não há espaço para os
egoístas, pois Deus é Amor. Ele quer encontrar um povo, quer relacionar-se com
pessoas que vivem em comunidade vivida na fraternidade. Pois onde dois ou três
estarem reunidos em nome do Senhor Jesus, ele está no meio deles (v.20). Neste
versículo se exprime a certeza de que Deus está no meio da comunidade quando
ela se reúne no seu nome e quando a comunidade faz tudo no Espírito do Senhor.
A presença de Jesus no coração de uma comunidade fraterna é o que qualifica a
oração cristã. Quando os que crêem rezam juntos, revelam a própria fé,
reconhecendo-se irmãos e irmãs, e assim proclamam ao mundo o seu pertencer ao
Cristo ressuscitado. Assim os discípulos que rezam juntos criam interiormente
um movimento de comunhão, fazem crescer um só coração e uma só alma (cf. At
4,32).
Precisamos manter
nossa consciência de que a Igreja é o lugar da misericórdia, pois o Deus em
quem ela acredita é amor (1Jo 4,8.16). “Sede misericordiosos, como também vosso
Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A ofensa cria, ao contrário, a divisão na
comunidade. Lembremo-nos de que cada um tem que ser ocasião de salvação para o
outro. Como cristão eu devo me tornar ocasião de salvação para meu próximo. E
tu deves te tornar ocasião de salvação para mim. Somente assim seremos todos
salvos na misericórdia divina (cf. Carta de São Tiago 2,13).
P. Vitus Gustama,svd
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