26/08/2015
PUREZA NO CORAÇÃO, RETIDÃO
NA AÇÃO
Quarta-Feira da XXI Semana Comum
Evangelho: Mt 23, 27-32
Naquele tempo, disse
Jesus: 27 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois
como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de
ossos de mortos e de toda podridão! 28 Assim também vós: por fora,
pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e
injustiça. 29 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós
construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, 30
e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido
cúmplices da morte dos profetas’. 31 Com isso, confessais que sois
filhos daqueles que mataram os profetas. 32 Completai, pois, a medida de
vossos pais!”
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“Ai
de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados:
por fora aparecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de
toda podridão”.
Mais acusações de Jesus contra a hipocrisia
dos fariseus e escribas: aparecer por fora o que não é por dentro. Este “ai”
tem a mesma finalidade dos “ais” anteriores: desvendar o abismo entre realidade
e aparência. A aparência de justiça encobre a realidade de malícia, e por isso,
o que aparece por fora é apenas uma hipocrisia.
Antigamente, hipócrita era quem, simulando
virtudes, nobres sentimentos e boas qualidades, enganava as outras pessoas no
intuito de conquistar a estima delas. Um hipócrita sempre quer parecer bom. Ele
refugia na simulação de possuir virtudes. Ele não se preocupa em ser bom, mas
em parecer bom. “Onde não há virtude não há retidão”, dizia Santo
Agostinho. “A simulação de uma virtude é sacrilégio duplo: une à malicia a
falsidade”, acrescentou Santo Agostinho.
Jesus critica duramente a distância que há em
nós entre o “parecer” e o “ser”; entre o que deixamos que apareça de nossa vida
e o que ocultamos. Se alguém falar muito de si pode ser uma forma de se
ocultar. “Quem não sabe julgar o que merece crédito e o que merece ser
esquecido presta atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial”
(Buda). Jesus quer que tenhamos o mesmo cuidado tanto de nossa aparência como
de nosso interior. A dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom,
mas em ser bom. De uma pessoa de bondade só saem as coisas boas. Mas um coração
não convertido nunca produz frutos bons para a convivência.
Para denunciar a hipocrisia dos mestres da
Lei e dos fariseus, Jesus serve-se, no evangelho de hoje, de uma expressão
forte. Ele chama os fariseus e escribas de “sepulcros caiados”: belos por fora,
cheios de podridão por dentro.
Os sepulcros, na cultura judaica, eram
cuidadosamente pintados de branco, de modo a serem bem visíveis. Desta forma,
evitava-se o contato das pessoas com o túmulo e, por extensão, com o cadáver
nele sepultado. Se os sepulcros fossem tocados por inadvertência, impedia a
pessoa de participar das atividades religiosas, pois ficou impura. É assim o
formalismo: pecar sem saber. O formalismo cobre a consciência de que a pessoa
está cometendo o pecado.
Jesus compara a vida dos mestres da Lei e os
fariseus a um sepulcro. Não adianta querer esconder cadáveres no porão, porque
eles acabam cheirando mal. Como sepulcros caiados, eles parecem justos por
fora, mas por dentro estão repletos de hipocrisia e de maldade. De que adiantam
a beleza exterior e esplendor externo quando há miséria interior?
Mas Jesus não se deixa enganar porque ele
conhece o coração de cada ser humano. O olhar de Jesus é o de Deus: não fica na
superfície, mas penetra profundamente, atinge o coração e vê o que está no
íntimo do homem, a parte mais recôndita da alma. É iníquo quem atua contra a
Lei de Deus e tem seu coração longe d’Ele.
O cristão que lê o texto do evangelho de hoje
precisa voltar a ler conjuntamente Mt 6,1-6.16-18 onde Jesus disse três vezes
aos seus discípulos que não vivam como hipócritas, e precisa ler novamente Mt
7,1-5 onde Jesus chama “hipócrita” o discípulo que espera dos demais o que ele
mesmo não quer fazer. Isto significa que o perigo de ser como os fariseus está
sempre presente na comunidade.
Não estamos isentos do exibicionismo e da
hipocrisia dos escribas e fariseus. Se cada um de nós empregar na busca do bem
todo o tempo e todas as energias que desperdiça em mendigar os louvores dos
outros, talvez tenha a consciência tranqüila e a satisfação de ser admirado.
Mas, preferindo os louvores em vez do bem, ele está convulsionando a ordem das
coisas e acabará ficando com o coração vazio.
A dignidade da pessoa humana não consiste em
parecer bom/boa, mas em ser bom/boa. O verniz encobre o mal, mas não o suprime;
um sepulcro pintado de branco parecerá menos lúgubre, mas continuará um
sepulcro.
Nós andamos, muitas vezes, preocupados com o
que os outros pensam de nós. Mas na verdade devemos trabalhar pela pureza de
nosso interior para que nossos atos e ações também sejam puros e não
simplesmente para agradar ninguém. E nós mesmos também queremos, muitas vezes,
que os outros se comportem como desejamos. Na verdade precisamos estar em
sintonia com o querer de Jesus Cristo. Jesus quer que estejamos preocupados com
a justiça, a fidelidade e a misericórdia, como ele falou no evangelho do dia
anterior.
“Ai de vós, mestres
da Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e
enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de
nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’. Com isso,
confessais que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Completai, pois, a
medida de vossos pais!”, assim terminou o
texto do evangelho de hoje.
Os filhos se julgam
melhores, mais inteligentes e mais justos que os pais. Mas na verdade eles são mais
perversos e cegos do que seus pais ou antepassados. Por causa dessa
perversidade matam os atuais profetas.
Esta última acusação
é o ato de ruptura de Jesus com Israel e é um olhar panorâmico sobre toda sua
história, uma história de sangue e de recusa contínua de todos os enviados de
Deus como se manifestou na parábola dos vinhateiros assassinados (Mt 22,1-14).
Mas os contemporâneos de Jesus não se sentem responsáveis: “Se tivéssemos
vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos
profetas”. No entanto, sua atuação é uma hipocrisia total, pois eles
repetem o passado e enterram para sempre a voz dos profetas que se faz ouvir em
Jesus e estão prontos para enterrar a voz de todos os enviados de Jesus,
matando-os. Desta maneira, eles completam a obra de seus pais.Os contemporâneos
de Jesus fingem ser bonzinhos, mas seu coração está cheio de maldade que se
manifesta no assassinato dos enviados de Deus.
A pergunta que cada um de nós deve fazer,
como mensagem do evangelho deste dia: “Será que nossa aparência de piedade é
autêntica/verdadeira ou falsa?”. O nosso modo de viver é que vai dar a resposta
exata para esta pergunta. Porque é que você vira inimigo de alguém quando ele
fala a verdade? A mentira dói, mas a verdade liberta. É tão prazeroso viver com
o coração limpo, pois podemos ter um sono sadio, a leveza para viver e lutar
diariamente. Devemos estar conscientes de que qualquer manipulador ou hipócrita
trabalha para adormecer sua vítima. A vítima somente perceberá mais tarde que
ele estava sendo manipulado. O manipulador ou hipócrita sempre usa palavras
sedutoras. O manipulador ou hipócrita sempre quer controlar a vida de suas vítimas. Para
isso ele usa toadas as armas para convencer. Aprender a nos cuidar é um
trabalho difícil, mas não impossível e devemos fazê-lo. Devemos aprender a
distinguir o que nos faz bem do que nos faz mal para podermos escolher
corretamente. Saber escolher bem é não sacrificar nossa dignidade.
P. Vitus Gustama,svd
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