BOM SAMARITANO: DE QUEM SOU PRÓXIMO?
Segunda-feira,
08 de outubro de 2012
Texto de
Leitura: Lc 10,25-37
O que está em jogo no texto do
evangelho lido neste dia que nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei:
“O que fazer, a fim de conseguir a vida eterna?”.
A resposta é previsível e evidente,
de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus
o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Certamente a maravilhosa
parábola do bom Samaritano é um reflexo sobre como deve viver concretamente a
lei do amor a Deus e ao próximo.
A dúvida do mestre da Lei vai, no
entanto, mais fundo: “Quem é o meu próximo?”. Na época de Jesus, os mestres de
Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia
opiniões diversas. Porém, havia consenso entre todos sobre o sentido exclusivo
do próximo. De acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de
Deus (cf. Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv 19,11.13.15-18). No entanto, Jesus tinha
outro conceito sobre quem é o próximo. É precisamente para explicar a sua
perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
“O que acontecerá comigo se eu não
obedecer à lei ritual diante do homem meio morto?”. Esta é a pergunta do
sacerdote e do levita nesta parábola. Mas Jesus convida cada cristão a fazer a
seguinte pergunta: “O que acontecerá com meus irmãos se eu não fizer nada por
eles?”. Esta é a pergunta do bom samaritano. Por isso, o bom samaritano se
solidariza, se aproxima, e se arrisca pelo irmão, pelo necessitado.
O samaritano é um dos que a
religião tradicional considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e
longe da Igreja. No entanto, foi ele quem parou, sem medo de correr riscos ou
de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o
salvou. Apesar de ser um “herege”, um “excomungado”, mostra ser alguém atento
ao irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus. “Amando
ao próximo você limpa os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho). “O
amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos mantém como devedores”
(Santo Agostinho).
A base da fé é, certamente, estar
aberto à realidade humana, ser capaz de pensar no outro e na sua necessidade,
de respeitar a vida do outro, de sentir o que o outro sente ou o que o outro
pode sentir. O samaritano reage com uma atitude de homem para homem, e se
converte, deste modo, em realizador da misericórdia. Para Jesus o importante
não é saber quem é meu próximo e sim fazer-se próximo dos demais, aproximar-se,
ajudar o outro. O verdadeiro amor não faz exceção com ninguém. O amor aproxima
e nos faz descobrir o próximo. Por isso, para quem ama, qualquer ser humano é
seu próximo, independentemente de sua crença, política, ideologia e assim por
diante. A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem
limites ao próximo. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Quem
tem sensibilidade e é capaz de desfazer-se de seus planos para se mostrar
solidário, estará no caminho da vida eterna. Quem, pelo contrário, desvia-se do
próximo carente de solidariedade, desvia-se do caminho que conduz a Deus. O
“próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido
ou desconhecido, da mesma nação ou doutra qualquer; o “próximo” é qualquer
irmão caído nos caminhos da vida que necessita de nossa ajuda e de nosso amor
para poder se levantar novamente. Neste gesto do bom samaritano, a Igreja de
todos os tempos reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a missão de
levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida. É a missão de
cada cristão, seguidor de Cristo. O próximo é aquele em cujo caminho eu me coloco.
É preciso que estejamos conscientes
de que perderemos o tempo se nós buscarmos Deus tão somente nas práticas
religiosas ou rituais, mas distantes da vida e dos irmãos. Ambos devem se
complementar. O encontro com Deus na oração deve levar necessariamente cada
cristão ao encontro com os irmãos. O amor cria vida para quem ama e amado.
Vale a pena repetir a pergunta para
que cada um de nós possa estender a reflexão: “De quem sou próximo?”. Será que
sou próximo de acordo com o critério de Jesus a exemplo do bom samaritano?
P. Vitus Gustama, svd
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