OUVIR A PALAVRA DE DEUS ATENTAMENTE PARA
VIVER E TRABALHAR CORRETAMENTE
Terça-feira, 09 de Outubro de 2012
Texto de Leitura: Lc 10,38-42
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Estamos no contexto de um banquete
ao ler o texto do evangelho lido neste dia. Não se diz se havia muitos ou
poucos convidados; o que se diz é que uma das irmãs (Marta) andava atarefada
“com muito serviço”, enquanto a outra (Maria) “sentada aos pés de Jesus, ouvia
a sua Palavra”. Marta, naturalmente, não se conformou com a situação e
queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus: «Marta,
Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é
necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada»,
constitui o centro do relato e nos dá o sentido da catequese que, com este
episódio, Lucas nos quer apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de
qualquer outro interesse.
A posição de Maria: “sentada aos
pés de Jesus” é a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (cf. Lc
8,35; At 22,3). Lucas mostra, neste episódio, que Jesus não faz qualquer
discriminação: o fato decisivo para ser seu discípulo é estar disposto a
escutar a sua Palavra. Por isso, Jesus aproveita a ocasião para repreender, não
o útil serviço que Marta está prestando, e sim a excessiva inquietação e
preocupação que lhe marcam negativamente o agir: “Marta, Marta, tu te inquietas e te
agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma
só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
Muitas vezes, este episódio foi
lido à luz da oposição entre ação e contemplação; no entanto, não é bem isso
que aqui está em causa. Lucas não está, nesta catequese, explicando que a vida
contemplativa é superior à vida ativa; que o “fazer coisas”, que o “servir os
irmãos” não seja mais importante do que a oração; mas significa que tudo deve
partir da escuta da Palavra, pois a escuta da Palavra de Deus é que nos projeta
para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós. Por isso, a
contraposição de Marta e Maria não está a nível de vida ativa e vida
contemplativa e sim a nível de escuta ou não escuta da Palavra de Deus. Não se
contrapõe duas formas de vida e sim duas atitudes que podem dar-se em uma mesma
forma de vida, seja ativa ou contemplativa. A escuta da Palavra de Jesus é uma
exigência fundamental do amor a Deus.
A vida cristã é esforço, mas também
recepção, acolhida. No processo pessoal e comunitário há caminho e repouso, há
missão e comunhão, há luta e festa. Estes aspectos não devem ser contemplados
como sucessivos e desvinculados entre si e sim como acentos e perspectivas de
uma mesma realidade invisível: a fidelidade a Jesus Cristo e à Sua Palavra.
“Maria escolheu a melhor
parte e esta não lhe será tirada”. A fidelidade à Palavra de Deus é um
valor jamais comprometido em si mesmo seja qual for a situação do cristão. Para
outras coisas podem existir impedimentos, dificuldades internas e externas:
enfermidade, situação social, cultura, economia e assim por diante. Mas a
fidelidade à Palavra de Deus é o valor sempre “assegurado”. “Esta parte não
lhe será tirada”.
É claro que a atitude de Marta que
quer atender Jesus com toda classe tem seu mérito. Porém, Lucas quer sublinhar
que há outra atitude fundamental que deve ter na vida de cada cristão é a
escuta da Palavra de Deus que é maior do que qualquer coisa, pois trata-se da
Palavra d’Aquele que criou todas as coisas. Não há oposição entre ação e
contemplação, mas tudo deve ter sua raiz profunda na escuta atenta da Palavra
de Deus. Assim, podemos chegar a ser contemplativos na ação ou ativos na
contemplação.
Lucas faz, então, de Maria um modelo
de discípulo de Jesus em razão da escuta da Palavra de Jesus para viver e fazer
as coisas conforme a vontade de Deus. Este é o objetivo central do texto que
Lucas quer inculcar a seus leitores. Mal poderemos seguir a Jesus, mal poderemos
cumprir o que ele nos pede, se não escutarmos, se não estivermos atentos à Sua
palavra. É impossível viver como cristão sem escutar, serenamente, a Deus. A
escuta da Palavra pode nos ajudar a re-centrararmos a nossa vida e a
redescobrirmos o sentido da nossa existência.
P. Vitus Gustama,svd
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