DIA DE FINADOS
“Aqueles que nos deixaram não estão ausentes e sim invisíveis.
Eles têm seus olhos cheios de glória, fixos nos nossos, cheios de lágrimas”
(Santo Agostinho)
02 de Novembro
O
dia de finados é o dia de saudade e o dia da esperança. Por que saudade? Por
que esperança?
Sabemos
que morrer é o acontecimento universal; é algo a que todos nós teremos que
chegar. Morrer é uma certeza para quem nasceu e vive. Mesmo sabendo disto,
enquanto estivermos vivos nesta terra, temos bastante saudade dos que nos
precederam.
O
dia de finados é o dia de saudade porque ele nos leva às nossas raízes
familiares. Ele leva as pessoas à memória familiar. Cada um de nós sempre tem
algum lugar especial no coração para a lembrança daqueles que conviveram
conosco, mas partiram antes de nós. Por isso, neste dia as lágrimas rolam dos
olhos espontaneamente. A lágrima é a única linguagem que é capaz de expressar
toda a nossa emoção. Neste dia, cada um leva as flores ao cemitério para
enfeitar o túmulo do ente querido por um dia e acende umas velas. Levar flores
aos túmulos é um rito muito significativo. Além de ser uma expressão de
gratidão e de reconhecimento pelo que Deus realizou, por sua graça naqueles que
nos precederam na fé, as flores simbolizam, principalmente, o jardim, o
paraíso, a felicidade eterna, que todos desejam aos seus entes queridos, como
também nós desejamos para nós mesmos que estamos peregrinando neste mundo.
Se
a morte é a certeza, a imortalidade é a esperança. Por isso, o dia de finados é
também, e principalmente, o dia da esperança. O filósofo Aristóteles chama a
esperança como “sonho de quem está
acordado”. De onde vem esta esperança? Ela vem das próprias palavras de
Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá”(Jo 11,25) e da sua
própria ressurreição: “Se Cristo não
ressuscitasse seria vã a nossa pregação e seria vã a vossa fé”(1Cor 15,14). Por
isso, crer em Jesus Cristo, o Ressuscitado, significa jamais parar de existir.
A partir da ressurreição do Senhor em quem acreditamos, não vivemos mais para
morrer e sim morremos para viver. A vida não mais pertence à morte e sim a
morte pertence à vida. A vida é real, enquanto que a morte é passageira. Temos
que abraçar o que é real, e largar o que é passageiro. Dizia muito bem
Tertuliano, um dos padres da Igreja dos primeiros séculos: “A esperança cristã é a ressurreição dos mortos; tudo o que somos nós o
somos enquanto acreditamos na ressurreição”. A ressurreição de Cristo
coloca o ser humano na dimensão de salvação, anunciando que a vida é mais forte
do que a morte, que a nova vida nasce da morte, assim como cada dia é precedido
pela noite.
Diante
da morte o cristão é chamado a interpretar a vida, aceitando suas dores e
alegrias, os apegos e as separações, as tristezas e as esperanças. O risco é de
contentar-se em existir, em vez de celebrar a vida. Fomos criados para além dos
horizontes materiais, pois somos o templo do Espírito de Deus(1Cor 3,16-17). A
fé na ressurreição nos convida a valorizar o tempo, a fazer o bem para
deixarmos marcas positivas no próximo, amar o que se é como dom daquele que nos
criou e redimiu: Jesus Cristo, doador da vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”(Jo
10,10).
A
teologia da esperança nos leva à verdade que nós existimos no mundo, mas acima
do mundo, no tempo, mas acima do tempo. O nosso Credo termina com uma afirmação
de esperança: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. E o prefácio
da missa destaca a crença cristã: “Senhor,
para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada...” Por
isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser
vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os
cemitérios, caminhemos para Deus”
O
destino do homem é a união plena com Deus. E na espera desse destino, o homem
vive sobre a Terra com fé. A fé é ter
confiança em Deus apesar das próprias dúvidas, ter a coragem de agir apesar dos
próprios medos, esperar no amanhã apesar do sofrimento de hoje. São Paulo
adverte: “Não fiquem tristes como os outros que não têm esperança”(1Ts 4,13).
Tudo isso partiu da ressurreição de Cristo.
A
ressurreição de Cristo é o início de uma nova humanidade que olha as coisas e a
vida com o conhecimento e os olhos de Deus. A partir dos olhos de Deus nada
fica sem sentido.
Neste
Dia de Finados, cada ser humano é convidado a considerar sua peregrinação
terrena não como um fim em si, mas como caminho que guia à vida sem fim: a vida
com Deus. Ele também é convidado a viver sua existência cotidiana como um
mistério a ser descoberto e não apenas como um problema para resolver. Quanto
mais se mergulha no mistério da vida, mais se descobre o mistério do homem e o
mistério de Deus.
Para
nós que ainda não partimos, vamos nos esforçar para ter um encontro feliz com o
nosso Criador. Seguindo os passos de Jesus, cumprindo com fidelidade a nossa
missão nesta Terra, unindo-nos aos que desejam uma sociedade com mais vida,
mais fraternidade, mais amor e mais
justiça. Sejamos bênção para os outros: seja o marido bênção para a esposa e
vice-versa; os pais para os filhos e vice-versa; o patrão para o funcionário e
vice-versa, e assim por diante. Com tudo isso, estamos, na verdade, nos
preparando para o encontro definitivo com Deus de Amor.
Por
isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser
vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os
cemitérios, caminhemos para Deus”. Que assim seja!!!!!!!!!!!!!
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