PODER E AUTORIDADE, SECTARISMO E
BONDADE
Segunda-feira, 01 de otubro de 2012
O texto da Leitura: Lc 9,46-50
Entre Poder e Autoridade
Na primeira parte do evangelho lido neste
dia o evangelista Lucas nos relatou que entre os discípulos houve uma discussão
sobre quem era maior ou quem tinha mais poder. Em outras palavras, eles tinham
ambição de ter o poder na mão. Isso significa que até então eles ainda não captaram
o essencial da mensagem de Jesus.
Quem tem o poder geralmente impõe aos outros
suas decisões, muitas vezes através dos meios injustos como opressão,
repreensão, tortura, ameaça, execução etc.. O poder não respeita a liberdade humana, por
isso ele não faz que os homens se tornem bons.
O poder obriga e impõe o silêncio. Quem tem poder geralmente não se
preocupa com a ética e com a humanidade. Aquele que tem poder sempre tem
tendência de manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e
sua necessidade de poder.
O contrário do poder é a autoridade. A autoridade está ligada ao
crescimento. A palavra “autoridade” vem do latim “augere”, que quer dizer
“crescer”. Exercer a autoridade significa sentir-se realmente responsável pelos
outros e por seu crescimento sabendo que eles são pessoas que tem um coração,
nas quais existe o Espírito de Deus (cf. 1Cor 3,16-17) e que são chamadas a
crescer na liberdade da verdade e do amor. Na linguagem bíblica, a autoridade é
uma rocha que dá apoio. É o pastor que conduz o gado para o bom pasto (cf. Sl
23 sobre o bom pastor; cf. Jo 10). Os membros da comunidade são essencialmente
o rebanho de Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21,15-17). Os membros de uma comunidade logo sentem
quando os responsáveis (autoridade) os amam e querem ajudá-los a crescer e não
quando estão presentes apenas para administrar, impor sua lei e sua própria
visão. A
autoridade é o autêntico serviço para a comunidade. A crise de liderança geralmente surge da
crise da autoridade.
Entre Sectarismo-Monopólio e Abertura Ao Espírito
Divino
A segunda parte do Evangelho de hoje nos
relata que o discípulo João se queixa por ter visto alguém “expulsando
demônios” em nome de Jesus, mas esse alguém não pertence ao grupo dos
discípulos. A reação de João é imediata: proibir que se faça o bem, pois não é
membro da comunidade dos seguidores de Cristo. Com essa proibição os discípulos
mostram seu comportamento incompatível com o Reino de Deus: arrogância,
sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de
monopolizar Jesus e a sua proposta.
Diante desse comportamento dos discípulos
Jesus disse-lhes: “Não o proibais, pois quem não está contra vós está a vosso
favor”. Com esta exortação Jesus quer que os discípulos superem o sectarismo na
prática do bem. A comunidade cristã deve
ser colaboradora na prática do bem e acolher todas as pessoas que praticam o
bem independentemente de pertencer ou não à Igreja.
O Espírito de Deus é livre e atua onde quer
e como quer. Ele não está limitado por fronteiras, nem por regras, nem por
interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja ou religião
ou grupo tem o monopólio do Espírito Santo, nenhuma instituição consegue
controlá-lo nem prendê-lo. O Espírito não é privilégio dos membros da
hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o
coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e o seu projeto
de vida. Somos convidados a abandonar atitudes como o fanatismo, a
intolerância, a intransigência, preconceitos, etc, pois elas fazem fechar os
olhos e o coração diante da manifestação do amor de Deus em tantas pessoas de
boa vontade mesmo que se digam não acreditar em Deus, mas Deus acredita nelas
por causa do bem que elas praticam. Não temos que sentir-nos ciumentos se Deus
quer agir no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa Igreja.
Os cristãos são chamados a constituir uma
comunidade sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem
e da verdade, pois estes sentimentos e atitudes são incompatíveis com a opção
pelo Reino: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes”
(1Pd 5,5b;Pr 3,34).
P. Vitus Gustama,svd
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