SER IRMÃO E FAZER-SE PEQUENO
SANTOS ANJOS DA GUARDA
Terça-feira, 02 de Otubro de 2012
Texto de Leitura: Mt 18,1-5.10 (Ex 23, 20-23)
O
capítulo 18 do evangelho de Mateus é o quarto dos cinco grandes discursos de
Jesus neste evangelho. E este quarto discurso é conhecido como “discurso
eclesiológico” (discurso sobre a Igreja) ou “discurso comunitário” onde se
acentua a vida na fraternidade, isto é, cada membro da comunidade é considerado
como irmão. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas
internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer
se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o
que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser
chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?
Na
comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e
se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes do
resto. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados ou
desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem incrédulos e de afastar-se
da atividade comunitária. Na comunidade de Mt suscitam também pecadores
notórios, inclusive as ofensas e os
ressentimentos que abalam a convivência fraterna.
Nesse
capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo
desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Para
isso, Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as
relações internas da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt
coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os
pequenos, os fracos na fé, é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de
desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para
enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos
pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do
caminho reto, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que
esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se
perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos
os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão,
pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).
Ser Irmão e Fazer-se Pequeno
“Quem é o
maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais
diante de Deus?”. Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida
comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para
Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma
qualidade ou de um poder.
Atrás
desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É a
ambição de grandeza que pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É
admirável a ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição,
valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta, pois um dos
sentidos lexicais da palavra ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso;
aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação
de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem
desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do
bem. Ao contrário, o ambicioso se sente totalmente envolto pela espiral da
glória que o transforma em vítima da própria tirania. O ambicioso, quando
dominado pelo vício, não suporta competidores, nem admite rivais. Quem desejar
ser a todo o custo o primeiro, dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba gera a divisão. A
caridade, a comunhão” (Santo Agostinho. Serm.
46,18).
Como
resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito
simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser
colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de
todos. Imaginamos que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os
ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo,
se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no
Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino
dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza,
inocência, não se basta a si mesma!
Esta é a
primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como
irmãos, e fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida
comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de
colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais.
Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade
de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e
gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do
que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano
e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a
espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua
salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que
estamos no Reino de Deus já neste mundo.
P. Vitus Gustama,svd
SANTOS
ANJOS DA GUARDA
Em terceiro lugar, Os anjos da guarda nos
revelam a presença transcendente de Deus em cada pessoa, especialmente nos mais
pobres. O maior no Reino de Deus é a criança e que se faz pequeno como criança,
porque representa em forma paradigmática o despojamento de todo poder. O
despojamento da soberba e da prepotência do poder é a condição para entrar no
Reino de Deus. Alguém entra nele, quando descobre o poder de Deus: o poder de
seu amor, o poder de sua Palavra e o poder de seu Espírito. Reino de Deus é
Poder de amor de Deus. Esta presença de Deus nos mais pobres, que são os
maiores no Reino, é o que dá aos pobres essa transcendência.
Cada pessoa, cada família, cada
comunidade, cada povo, tem seu próprio anjo da guarda. O Livro de Êxodo ( cf. Ex 23, 20-23) nos ostra o Povo de Deus conduzido diretamente pelo anjo de Deus. O povo deve
comportar-se bem na sua presença, escutar sua voz e não ficar rebelde. No anjo
está o Nome de Deus. O Nome é o que Deus é. O anjo é essa presença de Deus no
Povo de Deus.
Também cada um de nós deve descobrir
nosso próprio anjo da guarda, sentir sua presença e escutar sua voz. Devemos
viver conforme a esta presença transcendente em nós e refleti-la continuamente
em nosso rosto. Para isso, é preciso ler, meditar e colocar em prática a
Palavra de Deus. Estar em sintonia com a Palavra de Deus nos faz sensíveis para
a presença de Deus na nossa vida cotidiana e nos torna conscientes de nossa
tarefa como mensageiros de Deus na convivência com os demais.
P. Vitus Gustama,svd
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