XXIX DOMINGO DO ANO B
Domingo, 21 de Outubro de 2012
Texto: Mc 10,35-45
“O
Filho do Homem
não veio
para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida como resgate para muitos ” (Mc 10,45).
Eu queria que
cada um
prestasse bem atenção
para a profundidade
desta frase . Se cada
um conseguir captar o significado
desta frase , ele
vai entender perfeitamente
o resto do relato. Porque
para o evangelista
Mc esta frase é central
no seu Evangelho .
É o único evangelista
dos sinóticos que tem esta particularidade .
“O
Filho do homem
não veio
para ser servido, mas para servir ”.
O que significa esta frase na boca
de Jesus e para sua
vida ? Para
Jesus o serviço não
é somente um conjunto de pequenas
boas obras de ajuda
aos demais . Para
ele o que
conta é a atitude de serviço como atitude de vida : “Eu vim para servir ”. Ou seja, desejar sempre uma vida gozosa e plena para todos e orientar toda a atividade
para consegui-la: “Eu
vim para que todos tenham vida
e a tenham em abundância ”
(Jo 10,10). Servir torna-se, então ,
um estilo
de vida , e não
é apenas uma atividade
em determinado
momento da vida
diante dos demais .
O que
acontece quando o serviço
não é uma atitude
de vida ? Para
responder a esta pergunta ,
Jesus utiliza como exemplo
de não-serviço o estilo de vida de governantes
absolutos de seu
tempo : “Vós
sabeis que os chefes
das nações as oprimem e os grandes as tiranizam” (v.42). Para
Jesus todo governo
comporta domínio ,
e todo político
tem no seu interior
certa ânsia
de domínio .
Portanto, não nos deixemos enganar: Deus não está naquilo que é
brilhante, sedutor, majestoso. Mas Deus está na simplicidade do amor que se faz
dom, no serviço e na entrega humilde aos irmãos. Por isso, podemos perceber a
presença de Deus a nosso lado nos pequenos gestos que todos os dias
testemunhamos e que nos dão esperança, nas coisas simples e cotidianas que nos
enchem o coração de paz, nas pessoas humildes que o mundo despreza e
marginaliza, mas que são capazes de gestos impressionantes de serviço, de
partilha, de doação, e de entrega.
A partir desse primeiro pensamento é necessário cada um perguntar-se:
“No meu dia a dia, quando tenho que estabelecer as minhas prioridades e de
fazer as minhas escolhas, deixo-me conduzir pela lógica de Deus ou pela lógica
dos homens, pela lógica de poder e de domínio ou pela lógica de serviço como
atitude de vida?”.
2.
Jesus como Resgate para todos
“O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida como resgate para muitos”. Todo este versículo é muito importante
para o Evangelho de Mc, porque praticamente é o único dos relatos sinóticos que
apresenta Jesus como “resgate para todos”.
O que significa resgate ? O resgate
designa o que o homem
oferece a alguém como
compensação ou
indenização daquilo a que
tem direito , ou
a compensação dada
em troca
daquilo que se quer
guardar ou recobrar . No AT o resgate
é a compensação econômica
que tem que
se pagar por um delito
cometido, ou a quantidade
paga pela
libertação de um
cativo ou
de um escravo
(Lv 25,51s;Is 45,13). Porém , no AT não se aceita resgate
pela vida
de um homicida .
Um homicida
é morto pelo assassinato que
ele cometeu: “Não
aceitareis resgate pela
vida de um
homicida que
merece a morte : deve morrer ”
(Nm 35,31).
O próprio homem
não tem nenhum
resgate para
se salvar pelos
pecados e crimes
que ele
cometeu: “Nenhum homem a si mesmo pode salvar-se nem
pagar a Deus
o seu resgate ”,
diz o Salmo (Sl 48(49),8). Mas para nós Jesus é o portador
desse resgate ocupando voluntariamente o
lugar de pessoas
não somente mortais , mas também culpáveis: “O Justo ,
meu Servo ,
justificará muitos homens
e tomará sobre si
suas iniqüidades ”
(Is 53,11). E o Evangelho de hoje expressa o
mesmo pensamento
de outra forma
ao dizer : “O Filho
do Homem veio
para dar a sua vida como resgate para muitos “. Somente Jesus Cristo ,
ao dar voluntariamente sua
vida como
resgate para todos , nos abre
as portas da vida
eterna .
“Dar a vida” e “para muitos” são duas expressões específicas de Mc que
não tem nenhuma antecedência na tradição bíblica. Além dessas duas expressões,
Jesus, o Juiz transcendente de Dn 7 é Aquele que, em vez de julgar e condenar,
paga o resgate com a sua própria vida para libertar os culpáveis; carrega sobre
si, em certo modo, sua sorte e condenação. Ele é feito para servir aos
condenados. E cada serviço exige sempre o sacrifício. Não há serviço sem
sacrifício.
3. Ser cristão é beber do Cálice de
Jesus e batizar com Seu Batismo
Por essa razão Jesus faz essa pergunta para todos os cristãos: “Podeis
beber o cálice que vou beber e ser batizados com o batismo com que vou ser
batizado?”. À luz do AT convém entender a imagem de cálice como referência
ao destino que Deus dá para as pessoas ou para todo o povo, seja este destino
bom ou mau. Também designa o castigo sobre os ímpios ou mais tarde o sofrimento
dos mártires. Aqui essa imagem alude à Paixão e morte de Jesus Cristo que será
o momento do juízo divino para os ímpios. E a imagem do Batismo também deve-se
entender dentro desta referência: a Paixão e a morte são como uma corrente de
água que arrasta e afoga. Por isso, para
os cristãos “beber o mesmo cálice” de Jesus, significa partilhar esse destino
de entrega e de dom da vida que Jesus cumpriu. E o “receber o mesmo batismo”
evoca a participação e imersão na paixão e morte de Jesus (cfr. Rm 6,3-4; Cl
2,12). Para fazer parte da comunidade do Reino é preciso, portanto, que os
discípulos estejam dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento,
da entrega, do dom da vida até à morte.
Tudo
isto quer
nos dizer que para sentar-se no trono preparado
por Deus
é necessário beber do cálice de Jesus, ou
seja, viver como
Jesus viveu. Para poder julgar a terra é necessário
ser batizado com que Jesus é
batizado . E para ser chefe ou
líder é necessário
servir . Assim
como Cristo ,
por amor ,
vestiu a nossa fragilidade
e veio ao nosso
encontro para
nos resgatar
da culpa que
cometemos, também nós
devemos, ao libertarmo-nos do nosso egoísmo , da nossa
preguiça , da nossa
ânsia de poder
e de domínio , da nossa
indiferença , ir ao encontro dos nossos
irmãos , vestir
as suas dores
e fragilidades , fazer-nos solidários com eles , partilhar os seus dramas , lágrimas , sofrimentos, alegrias
e esperanças (cf. Gaudium et Spes,
no.1 e 3). Como seguidores
de Cristo que
veio dar a sua vida como resgate para muitos , somos sempre responsáveis
pelos irmãos
que conosco
partilham os caminhos deste mundo , mesmo quando não os
conhecemos pessoalmente ou mesmo que deles estejamos separados por
fronteiras geográficas, históricas,
étnicas ou outras.
P. Vitus Gustama,svd
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