XXVII DOMINGO
DO ANO B
“Não é bom que o homem
esteja só ”.
Sabemos, pela
própria experiência ,
que nossa
vida progride e se enriquece quando avança
ao lado dos demais
e não quando
vamos só s .
E sabemos também que
a complementaridade e o amor dos que se amam aumentam e tendem para
a plenitude e para
o Absoluto . Com
efeito , a pessoa
humana não
encontra a plenitude
do sentido de sua
existência em
si mesma ,
e sim na relação
com as demais
pessoas .
A página
do Livro de Gênesis que
hoje lemos como
a primeira leitura ,
na sua intensidade
é um canto
à vida . O ponto
de partida do texto
é a necessidade humana
de estar em companhia . Não
podemos viver sós ;
estamos feitos para
a relação com
os demais ; estamos feitos
a base de relação
com os demais ,
por isso ,
quando alguém
querido morrer uma parte de nós
morre com ele
porque cada
um faz parte
da vida do outro
ou dos outros .
Por isso ,
podemos dizer que
não existe sexos
opostos . Só
existem sexos que
se complementam; diferentes , mas complementares .
São iguais
em dignidade
pessoal .
O Livro
do Genesis nos relata que num primeiro momento Deus
criou uma grande quantidade
de animais . Mas
apesar de ter
tantos animais
de companhia , Adão continuava sentindo a
solidão . Por que ? Ainda que às vezes nos fazemos ilusão
de que nos
relacionamos com algum
animal , não
existe nenhum animal
capaz de suprir
a relação de pessoa
a pessoa . É tão
antinatural tratar
uma pessoa como
se fosse um animal ,
como tratar
um animal
como se fosse uma pessoa .
A sensibilidade para
com o sofrimento dos animais denota bons
sentimentos e é pedagógico ,
porque respeitando os animais se aprende a respeitar
as pessoas . Porém ,
quando alguém
se preocupa tanto pelos
animais que
não se dá conta
das pessoas que
sofrem, essa pessoa se desumaniza.
À luz
do relato da criação da parceira humana
podemos entender a profundidade
da sentença de Jesus sobre o matrimônio
indissolúvel , quando
denuncia a lei mosaica
do divórcio como
uma deformação do plano
divino , ocasionada pela
dureza do coração
humano . Apesar
das crescentes dificuldades
da vida matrimonial, que obedecem a distintas causas ,
a Igreja não
pode deixar de continuar
propondo o plano divino .
Trata-se do grande projeto
da felicidade humana ,
que nem
sempre é seguido por
todos .
E para
essa união Jesus tem um
ideal . Um
ideal é um
princípio ou
valor que
atua como uma meta ;
ou aquilo
que se refere a um
tipo ou
idéia exemplar .
Em relação
ao casamento Jesus nos
apresenta um ideal ,
e que este
ideal é o único
que realiza verdadeiramente o projeto de Deus
sobre os homens .
Ou seja, que
é o único que
faz o homem se realize verdadeiramente como pessoa . E esse ideal
consiste no amor que
dura e cresce sempre ,
que quer
sempre o bem
do outro , que
faz tudo o necessário
para cultivar esse amor .
Esta relação e companhia se realizam com uma plenitude ,distinta de qualquer outra relação , na união do homem e a mulher : “Eles serão uma só carne ”(Gn 2,24;Mc 10,7). A palavra “carne ”expressa na linguagem bíblica a existência terrena do homem ;ser da mesma carne significa compartilhar a mesma existência , o mesmo projeto vital . A complementaridade entre homem e mulher conduz a compartilhar a mesma existência . E o sacramento do matrimônio é a experiência mais plena de acompanhamento mútuo que se converte em sinal público e eclesial o amor absoluto que é Deus (1Jo 4,8.16). Por isso , o matrimônio é um sacramento não porque consagre a promessa solene dos esposos ,nem por fundar-se na mútua ternura . O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus . Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro ,dom , participação e amor .
O sacramento
do matrimônio é uma experiência
mais plena
do acompanhamento mútuo que se converte em
sinal publico e eclesial do amor absoluto que é Deus . Já se vê que o tema do evangelho de hoje
não é a questão
das leis de divórcio .
Estas são , na fala
de Jesus, mecanismos para
resolver problemas
gerados pela dureza
de coração que
estraga ou
deforma o que não
deveria ser deformado.
E tudo
isto se concretiza através
da mútua atenção ,
conhecer o que
molesta o outro
e evitá-lo quanto antes ,
falar dos problemas
para procurar soluções em vez de guardá-los eternamente ,
estar atento
às preocupações do outro ,
e assim por
diante .
É muito
emotivo ver como Deus , segundo o livro
de Gênesis, se interessa pela solidão do homem .
Entendemos que Deus
não criou o homem
para viver na solidão e sim em relação , em companhia . A
companhia dos animais
domésticos é boa, mas
é insuficiente . Adão dá a cada um dos animais seu nome . Com isso se quer significar que exerce
domínio e senhorio
sobre eles .
Mas isto
não basta .
É uma relação de domínio ,
é uma relação díspar ,
que não
dá plenitude de realização
e de gozo ao ser
humano . A única
relação plena ,
satisfatória , é a relação
com quem
é igual a ele ,
“carne de sua
carne ”. É a relação
própria dos seres
humanos . O sumo
grado desta relação
é a relação matrimonial. Porém , o matrimônio
não é a única
forma de relação
nem o único
modo de vencer
a solidão . A relação
de amizade , de companheirismo ,
de irmãos na comunidade ,
e assim por
diante , vence também
a solidão . No entanto ,
o matrimônio e a família
são instituições
naturais nas quais
a vitória sobre
a solidão pode alcançar a
máxima altura .
P. Vitus Gustama,SVD
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