ESTEJAMOS DE PÉ DIANTE DA VIDA, POIS A
MISERICÓRDIA NOS CHAMA
Segunda-feira, 29 de Outubro de 2012
Texto de Leitura: Lc 13,10-17
Naquele tempo, 10Jesus estava ensinando numa sinagoga, em dia de sábado. 11Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar. 12Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. 13Jesus pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus. 14O chefe da sinagoga ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E, tomando a palavra, começou a dizer à multidão: “Existem seis dias para trabalhar. Vinde, então, nesses dias para serdes curados, não em dia de sábado”. 15O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? 16Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?” 17Esta resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.
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Havia aí uma mulher que, fazia
dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e
incapaz de se endireitar. Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: “Mulher, estás
livre da tua doença”. Jesus pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se
endireitou e começou a louvar a Deus.
No seu evangelho Lucas relatou três
vezes a cura ocorrida no Sábado: a cura do homem com a mão paralisada (Lc 6,6-11);
a cura de uma mulher encurvada (13,10-17); e a cura de um hidrópico (14,1-6).
No evangelho lido neste dia, estamos
diante de uma mulher encurvada durante dezoito anos. É todo um símbolo. É uma
mulher que não pode endireitar-se nem levantar sua cabeça para o céu. Uma
pessoa encurvada só pode olhar para o chão e sem condições para olhar para o
céu. É uma mulher com uma perspectiva limitada e sem horizontes pelo peso
carregado nas costas. É uma mulher que carrega um peso insuportável para sua
vida que a incapacita de olhar além do chão. É uma mulher cansada e oprimida,
esmagada e deprimida. É uma mulher que recebia, em seus ombros, fardos
incontáveis. É um símbolo de todas as mulheres na história. É um símbolo de
todos os que suportam ou carregam pesos intoleráveis.
Em qualquer lugar do planeta terra
podemos encontrar homens e mulheres curvados pelo peso da fome e da pobreza,
pela miséria e exploração, pelo abandono e exclusão de uma convivência mais
humana e familiar, pela falsidade e mentira, pela perseguição e a tortura.
Homens e mulheres curvados pelo peso dos filhos cheios de problemas e pelas
preocupações familiares diante de tantas dificuldades que a vida impõe. Homens
e mulheres curvados pelo peso de trabalho de escravidão e de exploração. Homens
e mulheres encurvados pelo esforço e pela luta para não faltar pão para os
filhos na mesa da família. Homens e mulheres encurvados pela incompreensão e
solidão. Homens e mulheres encurvados pelo vício desenfreado e pelos apegos que
cria uma vida vazia. Homens e mulheres encurvados pelos fracassos e pelas
tristezas. Homens e mulheres curvados pela falta de saúde. Homens e mulheres
encurvados pela violência sem piedade que causa tantas lágrimas e tristezas.
Diante de tudo isso, Jesus não fica
insensível. Ele não espera o pedido da mulher para ser curada como aconteceu
com outros milagres. Ele nem quer saber se é num sábado ou qualquer dia sagrado
na concepção dos homens. Jesus não quer saber das veneráveis prescrições
religiosas por sagradas que pareçam ser. Nenhuma lei sagrada, nenhum dia santo
de guarda, na concepção do homem, é capaz de impedir Jesus de fazer o bem.
Jesus toma a iniciativa mesmo que seja no dia de Sábado: “Vendo a mulher, Jesus
chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre da tua doença’. Jesus pôs as mãos
sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus”. A partir de agora em
diante ela pode olhar para o céu, aquilo que ela não conseguia fazer, para
louvar a Deus.
O chefe da sinagoga se preocupa com
o que pode e o que não pode fazer no Sábado colocando de lado a necessidade
humana. Ele olha muito mais para as regras e proibições do que para a
necessidade humana. Por isso, Jesus o chama de “hipócrita”: “Hipócritas!
Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo
que seja dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito
anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?”. Ama menos
quem se preocupa somente com as regras e proibições. O Deus de Jesus não é o
Deus de regras e sim o Deus de amor (Jo 3,16; 1Jo 4,8.16). O que agrada a Deus
não é o cumprimento das regras por sagradas que elas pareçam ser e sim a
vivência do amor fraterno. É a preocupação pela dignidade humana. Deus fica
contente com a libertação de seus filhos. Para Jesus a Lei dever ser humana.
Deus não quer que sejamos
encurvados. Deus não quer que sejamos oprimidos e escravizados, nem deprimidos
e prostrados no chão de uma vida sem sentido. Ele nos quer livres. Ele quer que
estejamos em pé e de pé diante dessa vida para ver que a vida é maior do que
chão para onde dirigíamos nosso olhar. Estar em pé ou estar de pé significa
liberdade, confiança, transcendência. Deus não nos criou para ficarmos
encurvados, e sim para que vivamos com dignidade, para que sejamos livres (cf.
Mt 11,28).
Um dos imperativos que mais se
repetem na história da salvação é “Levanta-te!”. Podemos ter fracassos na vida,
podemos cair no chão, mas é preciso que nos levantemos, pois a misericórdia
divina está nos esperando.
P. Vitus
Gustama,svd
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