quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

JEJUM QUE AGRADA A DEUS
 

Sexta-feira depois da Quarta-feira de Cinzas
15 de Fevereiro de 2013
 
Textos de Leitura: Is 58,1-9; Mt 9, 14-15

 
Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.

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As leituras de hoje nos falam do jejum. O jejum sempre tem sentido de “privaçãoou de “renúncia”. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento pelo sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. O jejum começa a reentrar na nossa cultura atual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.

 
A Igreja, como sempre, também recomenda o jejum, particularmente na Quaresma. O jejum é um dos componentes fundamentais da Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações ou até cair no egoísmo e no orgulho. Por isso, a mesma Igreja, nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade. Mais que a privação de alimentos, é o espírito com que se realiza o jejum. O jejum deve ser uma expressão do desejo profundo de conversão. Santo Agostinho dizia: “Para jejuar deveras há que abster-se, antes de mais, de todo pecado”.

 
Jejuamos porque ainda não nos deixamos invadir completamente pelo amor de Cristo Jesus. Jejuamos para Lhe dar lugar em nós, para que o Senhor possa ocupar toda a nossa existência a fim de que sejamos reflexos d’Ele neste mundo. Jejuamos para nos unirmos à sua Paixão-Ressurreição.

 
Mas também jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carentes. A memória da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um ato de misericórdia, no sentido da palavra do Senhor: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13). A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade com todos nós. Não podemos restringir o jejum em não comer a carne. A maioria de nossa gente nem arroz tem e muito menos a carne. O verdadeiro jejum é dividir o que temos para oferecer a quem nada tem para viver. É dar nossas roupas não mais usadas para cobrir quem está sem nada para se vestir (cf. Mt 25,31-46). Sabemos que jamais podemos arrancar totalmente o sofrimento alheio, mas uma parte dele pode ser aliviada com nossa solidariedade e compaixão. Ninguém pode entrar no céu feliz deixando o irmão passando fome e outras necessidades básicas para um ser humano viver dignamente.

 
Tendo presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com Cristo presentes nos outros (Mt 25,40.45).

 
Por isso, o jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para viver e sobreviver como um ser humano.

 
Depois da volta do exílio em Babilônia o profeta (o terceiro Isaias) condena o jejum formalista em que não leva em conta o próximo nem como expressão da penitencia. O profeta Isaias descreve qual é o verdadeiro jejum que agrada a Deus (Is 58,6-9).  Deus não quer o jejum formalista que não tem em conta a vida do outro, e muito menos a justiça. Nada valem as ações e os ritos religiosos que excluem o amor ao próximo. O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto (cf. Is 58,6-9). Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. O jejum que Deus quer é a conversão a Ele e ao amor dos irmãos; é o jejum do egoísmo, partilhando com os necessitados o que se tem. Jejuar é bom, diz Deus, mas não é o essencial. O essencial é respeitar o próximo, não explorá-lo, não considerá-lo como um objeto para nosso proveito. Jejum sem amor carece de sentido, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver.

 
Por isso, podemos dizer que o que importa no jejum não é somente a privação de alimento e sim a seriedade da nas tarefas da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens ao mesmo tempo. O jejum não se concebe sem caridade e sem uma mudança de vida para uma vida mais fraterna. O jejum que Deus quer é o cumprimento dos deveres morais e humanos com o próximo na vivência do amor fraterno.


Portanto, podemos dizer que o que importa no jejum não é a privação de alimento e sim a seriedade da fé nas tarefas da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens.

 
A febre do consumismo hoje em dia é um grande desafio para praticar um profundo jejum, isto é, o verdadeiro encontro com Deus e com o próximo.

A Quaresma que me agrada é:

·       Quebrar as cadeias injustas
     ·       Libertar os oprimidos
     ·       Repartir o pão com o faminto
     ·       Acolher em casa os pobres e peregrinos
     ·       Cobrir ou vestir os nus
     ·       Não desprezar o próximo.

Somente então, “invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui” (Is 58,9ª).

É preciso levar à oração essas palavras que nos queimam como as brasas.

P. Vitus Gustama,svd

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