domingo, 24 de fevereiro de 2013

PERFEIÇÃO CRISTÃ ESTÁ NA PRÁTICA DA MISERICÓRDIA
 

Segunda-feira da II Semana da Quaresma
25 de Fevereiro de 2013
 
Textos: Daniel 9,4-10; Lucas 6,36-38

 
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 36 "Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; 38 dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também".

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Sede misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso”

 
O evangelho lido e proclamado neste dia fala da moral cristã que se caracteriza pelo fato de que é, habitualmente, uma imitação de Deus, e por isso, não é uma simples moral humana. Na sua primeira Carta são João diz: “Deus é amor” (1Jo 4,8.16), e são Lucas diz no evangelho deste dia: “Deus é misericórdia”.  Ser cristão é imitar o Deus de amor e de misericórdia. Conseqüentemente, na vivência do amor e da misericórdia não haverá lugar para o julgar e o condenar o próximo.

 
O cristão deve ser reconhecível e reconhecido pelo amor (e pela misericórdia). Jesus concebe este amor não como um sentimento e sim como uma atuação. Não é um simples sentimento humanitário. Este amor do qual fala Jesus tem uma raiz existencial: a realidade do Pai: "Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. É o Pai quem dá sentido ao amor vivido na fraternidade. Pelo amor Deus reconhece o homem como filho Seu e o homem se reconhece como filho de Deus.

 
Segundo Jesus, ser misericordioso deve ser uma regra para todos os discípulos. Se no Antigo Testamento o ideal da perfeição era ser santo (cf. Lv 19,2; veja também 11,44), o Jesus de Lucas coloca a misericórdia como o ideal da perfeição para um cristão. O ideal da perfeição cristã consiste em estar em conformidade ou em sintonia com a misericórdia de Deus. A imitação e a vivência da misericórdia excluem o cristão de qualquer tipo de julgamento para assumir a atitude de perdão, pois o próprio Deus não usa de justiça contra nós pecadores e sim Ele usa de misericórdia. Sem a misericórdia de Deus ninguém sobreviveria sobre a face da terra.O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Bento XVI: Carta Encíclica: Deus Caritas Est, 10).

 
O melhor caminho para humanizar cada vez mais um ser humano é o do amor e da misericórdia. Um cristão cheio de amor e de misericórdia é muito humano e educado. Ele é tão humano que se transforma em uma manifestação daquilo que é divino. Naquele que ama tem algo divino, poisDeus é amor”. Jesus Cristo foi tão humano e por isso, foi tão divino. Para sermos divinos temos que ser muito humanos. É o paradoxo de ser cristão.

 
Para Jesus todos os pecados da humanidade têm a mesma origem: a cobiça que é a manifestação clara do próprio egoísmo. O objetivo de todos os atos de um egoísta é apenas seu próprio interesse. Enquanto que o verdadeiro amor é feito de doação, sem cálculos e sem interesses. Quem ama, ama o próprio amor. “O amor não tem mais razoes que o próprio amor” (Santo Agostinho. In epist. Joan. 8,5).

 
Em muitos momentos não fomos capazes de ser misericordiosos para com o próximo. Naquele momento em que fomos tão duros, impiedosos, inflexíveis até tão cruéis, apagamos a imagem do Deus misericordioso de nossa vida. Com esta atitude esquecemos aquilo que São Paulo nos diz: “Sois uma carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tabuas de pedra, mas em tabuas de carne, nos corações” (2Cor 3,3). O Espírito de Deus vivo deve ser manifestado muito claro e muito encarnado na nossa vida para que os outros, até os “analfabetos” na consigam lê-lo.

 
Reconhecer nossa debilidade é o melhor ponto de partida para a conversão, para a nossa volta aos caminhos de Deus de misericórdia. Quem se acha santo, não se converte. Quem se acha rico, não pede. Quem se acha saber de tudo, não pergunta. Será que reconhecemos pecadores? Será que somos capazes de pedir o perdoa do fundo de nosso ser?

 
Alem de reconhecer nossa debilidade, temos que aceitar outro passo que Jesus nos propõe hoje: ser misericordioso e perdoar os demais como o próprio Deus é misericordioso e perdoa nossos pecados. Perdoar significa crer na capacidade que nós seres humanos temos para começar de novo. O perdão não é uma simples trégua para fazer tolerável a vida sem uma nova criação que nos aproxima do plano de Deus. Nosso grande desafio é chegarmos a entender que precisamos viver toda a existência cristã na dinâmica do perdão que é a dinâmica do começo e do recomeço permanente.


Para refletir:

·       “O julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia. A misericórdia, porém desdenha o julgamento (Tg 2,13).


·       “A Igreja vive vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora. Neste contexto, assumem grande significado a meditação constante da Palavra de Deus e, sobretudo, a participação consciente e refletida na Eucaristia e no sacramento da Penitência ou Reconciliação” (João Paulo II: Carta Encíclica: Dives In Misericórdia, 13c).

 
P. Vitus Gustama,svd

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