terça-feira, 24 de setembro de 2013

 
INTERROGAR SOBRE JESUS

 
Quinta-feira da XXV Semana Comum
26 de Setembro de 2013

Texto de Leitura: Lc 9, 7-9

Naquele tempo, 7 o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou perplexo, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. 8 Outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9 Então Hero­des disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus.
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Curiosamente, a pergunta de Herodes sobre Jesus surge entre o relato da missão dos Doze e o da multiplicação dos pães. Herodes se pergunta: “Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas? E procurava ocasião de vê-lo”.


A pergunta de Herodes tem outra profundidade, efetivamente, coincide com a pergunta de todos os que se sentem interpelados pela pessoa e pelo modo de viver de Jesus e pelo testemunho dos discípulos. Herodes estava cheio de curiosidades porque no meio do povo se falava muito de Jesus, se contava mil coisas sobre Ele, dos seus lábios saiam palavras com poder e autoridade, se contavam fatos extraordinários como os milagres realizados por Ele. Herodes que estava no poder queria ver esse individuo tão “exótico” numa Galiléia tão provinciana. Seu pai, Herodes Grande tinha a curiosidade de conhecer Jesus - menino, rei recém-nascido, mas com o intuito de eliminá-lo (cf. Mt 2,1-23). Uma das maneiras de falar de Deus e com Deus é a “voz de nossa consciência”. Herodes não tinha sua consciência tranqüila: uma voz do fundo de si mesmo lhe recordava seu pecado, sua maldade. Por isso, fica inquieto.


A sabedoria popular diz que há curiosidades maldosas, tais como as de Herodes,... quando permitem abusar de um poder ou de um interesse que elas atribuíram injustamente; quando alimentam o escândalo que elas mesmas exploram ou inventaram. Herodes queria ver Jesus.


Mas se há curiosidades maldosas, precisamos estar conscientes de que a curiosidade também é o primeiro passo para o encontro e para a fé. O assombro, a surpresa, a provocação são o pórtico que nos introduz no descobrimento dos labirintos da casa e que nos inicia no mistério de uma morada.


A curiosidade é boa, pois ela desperta à vida. Uma criança vive na permanente curiosidade, e pergunta constantemente, pois ela quer saber mais e mais. O sentido da vida consiste em interrogar, em ser interrogado e em se interrogar. Curiosidade é sinônimo de descobrimento; é tensão até um objeto entrevisto ou desejado.


Ao lado da curiosidade há dúvida. A dúvida é o estado de equilíbrio entre afirmação e negação. Quem tem dúvida fica impedido de afirmar ou de negar por falta de dados nas mãos. A dúvida nos empurra para procurar fundamentos para podermos afirmar ou negar ou para podermos ter certeza daquilo que nos faz duvidosos. A incredulidade é, ao contrário, uma ausência da crença. 


Herodes sentiu curiosidade de querer ver Jesus. Mas com qual finalidade de ele querer ver Jesus? Para armar alguma cilada? Para ouvir da própria boca de Jesus de tudo que o povo fala e comenta? Para pedir de Jesus algum milagre ou alguma ajuda para o povo? Para desacreditá-Lo diante do povo? O texto não fala e por isso, não sabemos. Ele só terá oportunidade de ver Jesus na sua Paixão. Mas Jesus se manterá calado diante de Herodes, pois Herodes agirá de má-fé. diante do silêncio de Jesus Herodes morrerá, um dia, sem saber quem é Jesus.


Será que nós, chamados de cristãos, ainda sentimos curiosidade por Jesus? Será que já descobrimos esse Jesus na sua profundidade? Será que conhecemos realmente esse Jesus? Será que somente confessamos em Jesus nas definições sem alma e reconhecê-lo nos dogmas frios e secos? Será que paramos de ter curiosidade sobre a pessoa e o modo de viver de Jesus a fim de purificar nossa vida já que somos chamados de cristãos? Podemos ter certeza de que a Palavra de Deus, os ensinamentos de Jesus nos interpelam todas vez que os lermos e meditarmos ou ouvirmos pregação ou retiro a respeito de Jesus.


A fé é curiosidade permanente, isto é, assombro que compromete a arriscar-se na aventura, num encontro entrevisto e, em conseqüência, desejado. A fé é curiosidade, de forma que a dúvida lhe é indispensável. Por isso, somente na coragem de fazer uma aventura cheia de riscos é que chegaremos à resposta desejada para afirmar ou negar nossa dúvida. A incerteza e a incompreensão pertencem ao terreno de nossa fé como o oco que espera ser preenchido, como a espera que aguarda o encontro, como a fome que se alimenta com o que pode satisfazê-la.


A pergunta continua fica no ar para cada cristão: “Será que você ainda tem curiosidade de Jesus? Que curiosidade você tem de Jesus?”. Tenho medo de que quando a curiosidade sobre Jesus morrer, morrerá também nossa fé. O evangelho que não mais nos incomoda deixa de ser evangelho. A Palavra de Deus que não nos interroga deixa de ser a Palavra de Deus.


P. Vitus Gustama,svd

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