INTERROGAR SOBRE JESUS
Quinta-feira da XXV Semana Comum
26 de Setembro de 2013
Texto de
Leitura: Lc 9, 7-9
Naquele tempo, 7 o tetrarca Herodes
ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou perplexo, porque alguns
diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. 8 Outros diziam que
Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha
ressuscitado. 9 Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse
homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus.
______________
Curiosamente, a pergunta de Herodes
sobre Jesus surge entre o relato da missão dos Doze e o da multiplicação dos
pães. Herodes se pergunta: “Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem
ouço tais coisas? E procurava ocasião de vê-lo”.
A pergunta de Herodes tem outra
profundidade, efetivamente, coincide com a pergunta de todos os que se sentem
interpelados pela pessoa e pelo modo de viver de Jesus e pelo testemunho dos
discípulos. Herodes estava cheio de curiosidades porque no meio do povo se
falava muito de Jesus, se contava mil coisas sobre Ele, dos seus lábios saiam
palavras com poder e autoridade, se contavam fatos extraordinários como os
milagres realizados por Ele. Herodes que estava no poder queria ver esse
individuo tão “exótico” numa Galiléia tão provinciana. Seu pai, Herodes Grande
tinha a curiosidade de conhecer Jesus - menino, rei recém-nascido, mas com o
intuito de eliminá-lo (cf. Mt 2,1-23). Uma das maneiras de falar de Deus e com
Deus é a “voz de nossa consciência”. Herodes não tinha sua consciência
tranqüila: uma voz do fundo de si mesmo lhe recordava seu pecado, sua maldade.
Por isso, fica inquieto.
A sabedoria popular diz que há
curiosidades maldosas, tais como as de Herodes,... quando permitem abusar de um
poder ou de um interesse que elas atribuíram injustamente; quando alimentam o
escândalo que elas mesmas exploram ou inventaram. Herodes queria ver Jesus.
Mas se há curiosidades maldosas,
precisamos estar conscientes de que a curiosidade também é o primeiro passo
para o encontro e para a fé. O assombro, a surpresa, a provocação são o pórtico
que nos introduz no descobrimento dos labirintos da casa e que nos inicia no
mistério de uma morada.
A curiosidade é boa, pois ela
desperta à vida. Uma criança vive na permanente curiosidade, e pergunta
constantemente, pois ela quer saber mais e mais. O sentido da vida consiste em
interrogar, em ser interrogado e em se interrogar. Curiosidade é sinônimo de
descobrimento; é tensão até um objeto entrevisto ou desejado.
Ao lado da curiosidade há dúvida. A dúvida
é o estado de equilíbrio entre afirmação e negação. Quem tem dúvida fica
impedido de afirmar ou de negar por falta de dados nas mãos. A dúvida nos
empurra para procurar fundamentos para podermos afirmar ou negar ou para
podermos ter certeza daquilo que nos faz duvidosos. A incredulidade é, ao contrário,
uma ausência da crença.
Herodes sentiu curiosidade de querer
ver Jesus. Mas com qual finalidade de ele querer ver Jesus? Para armar alguma
cilada? Para ouvir da própria boca de Jesus de tudo que o povo fala e comenta? Para
pedir de Jesus algum milagre ou alguma ajuda para o povo? Para desacreditá-Lo
diante do povo? O texto não fala e por isso, não sabemos. Ele só terá
oportunidade de ver Jesus na sua Paixão. Mas Jesus se manterá calado diante de
Herodes, pois Herodes agirá de má-fé. diante do silêncio de Jesus Herodes
morrerá, um dia, sem saber quem é Jesus.
Será que nós, chamados de cristãos,
ainda sentimos curiosidade por Jesus? Será que já descobrimos esse Jesus na sua
profundidade? Será que conhecemos realmente esse Jesus? Será que somente
confessamos em Jesus nas definições sem alma e reconhecê-lo nos dogmas frios e secos?
Será que paramos de ter curiosidade sobre a pessoa e o modo de viver de Jesus a
fim de purificar nossa vida já que somos chamados de cristãos? Podemos ter
certeza de que a Palavra de Deus, os ensinamentos de Jesus nos interpelam todas
vez que os lermos e meditarmos ou ouvirmos pregação ou retiro a respeito de
Jesus.
A fé é curiosidade permanente, isto
é, assombro que compromete a arriscar-se na aventura, num encontro entrevisto e,
em conseqüência, desejado. A fé é curiosidade, de forma que a dúvida lhe é
indispensável. Por isso, somente na coragem de fazer uma aventura cheia de
riscos é que chegaremos à resposta desejada para afirmar ou negar nossa dúvida.
A incerteza e a incompreensão pertencem ao terreno de nossa fé como o oco que
espera ser preenchido, como a espera que aguarda o encontro, como a fome que se
alimenta com o que pode satisfazê-la.
A pergunta continua fica no ar para
cada cristão: “Será que você ainda tem curiosidade de Jesus? Que curiosidade
você tem de Jesus?”. Tenho medo de que quando a curiosidade sobre Jesus morrer,
morrerá também nossa fé. O evangelho que não mais nos incomoda deixa de ser
evangelho. A Palavra de Deus que não nos interroga deixa de ser a Palavra de
Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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