MISERICÓRDIA DIVINA
DIANTE DA MISÉRIA HUMANA
Quinta-feira
da XXIV Semana Comum
19 de Setembro de 2013
Texto de
Leitura: Lc 7,36-50
Naquele tempo: 36 Um
fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do
fariseu e pôs-se à mesa. 37 Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora,
soube que Jesus estava à mesa, na casa do fariseu. Ela trouxe um frasco de
alabastro com perfume, 38 e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com
as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os
de beijos e os ungia com o perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que o havia
convidado ficou pensando: "Se este homem fosse um profeta, saberia que
tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora". 40 Jesus disse
então ao fariseu: "Simão, tenho uma coisa para te dizer". Simão
respondeu: "Fala, mestre!" 41 "Certo credor tinha dois
devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinqüenta. 42 Como
não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o amará
mais?" 43 Simão respondeu: "Acho que é aquele ao qual perdoou
mais". Jesus lhe disse: "Tu julgaste corretamente". 44 Então
Jesus virou-se para a mulher e disse a Simão: "Estás vendo esta mulher?
Quando entrei em tua casa, tu não me ofereceste água para lavar os pés; ela,
porém, banhou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os cabelos. 45 Tu não me
deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar
meus pés. 46 Tu não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés
com perfume. 47 Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela
cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa
pouco mostra pouco amor". 48 E Jesus disse à mulher: "Teus pecados estão perdoados". 49
Então, os convidados começaram a pensar: "Quem é este que até perdoa
pecados?" 50 Mas Jesus disse à mulher: "Tua fé te salvou. Vai em
paz!"
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O evangelho fala da misericórdia.
Misericórdia é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. No AT lemos:
“Sejam santos porque Deus é santo” (cf. Lv 20,7). O evangelista Mateus diz:
“Sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E o evangelista
Lucas diz: “Sejam misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc
6,36). Para o evangelista Lucas ser santo, para ser perfeito só há um caminho:
ser misericordioso.
O Deus que Lucas nos apresenta
através do evangelho de hoje é um Deus de bondade e de misericórdia, que
detesta o pecado, mas ama o pecador. Ele não pactua com o pecado, mas está ao
lado do pecador e manifesta uma misericórdia infinita para com o pecador
arrependido. O amor de Deus pelo homem é um amor essencialmente misericordioso,
pois é dado a alguém que se tornou indigno, pela soberba, pela desobediência,
pela ingratidão, pelos pecados, pela maldade, pela rebelião. E Deus ama o homem
a ponto de fazer-se homem em Jesus Cristo: ele veio para o nosso meio, viveu
como nós e ofereceu sua vida por nós. ele nasceu nosso nascimento, viveu nossa
vida, experimentou nosso medo, morreu nossa morte e ressuscitou nossa
ressurreição.
A misericórdia não é simplesmente
amor: é um amor que não conhece limites, barreiras, obstáculos, fronteiras: é
um amor que sabe amar também quem se tornou
indigno do amor. Enquanto o amor diz somente doação, a misericórdia diz
super doação. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o
ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II:
“Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a
miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A
misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza,
promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no
homem” (Dives in misericordia, no.6).
Nesse gesto extremo do seu amor
evidenciam-se duas verdades: a grande consideração de Deus pelo homem, Deus
sempre está do lado do homem e contra o mal; e mostra o amor infinito que ele
derrama sobre o homem. Este amor misericordioso de Deus sempre persegue o homem
na sua aventura espiritual, nas suas fugas de Deus, nas suas rebeldias, na sua
perversa ingratidão e na sua profunda miséria.
Vamos fazer um pouco de exame de
consciência através da comparação de dois personagens no evangelho de hoje.
1. A mulher não tem nome por ser
prostituta. Mas reconhece Jesus como Salvador. Simão, o fariseu tem nome até o
sobrenome. No entanto não reconhece Jesus como Salvador.
2. A mulher demonstra toda a
humildade e é elevada por Jesus por sua humildade. Simão, o fariseu, só busca a
arrogância. Um arrogante possui todos os vícios: egoísta, injusto, ingrato,
imoral e fanfarrão. A arrogância é o pai de todos os vícios. Por buscar somente
a arrogância, não há na vida de Simão o lugar para o amor e Deus se torna
distante.
3. A mulher reconhece a situação
como prostituta e se esforça para mudar. Simão, o fariseu, nega sua situação de
pecador e não aceita mudar. Cada santo se reconhece como pecador, mas cada
pecador se acha santo.
4. A mulher não julga e pede a
compaixão e a misericórdia ao Senhor. Simão, o fariseu, julga e dispensa a
misericórdia. “O julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a
misericórdia. A misericórdia, porém, desdenha o julgamento” (Tg 2,13).
5. A mulher se liberta do pecado e
alcança a graça de Deus. Simão aumenta seu pecado e fica distante da graça de
deus.
A mulher pecadora é um exemplo de
conversão. Sua conversão implica claramente o propósito. Sua conversão é
experimentalmente conversão a Alguém, e não somente uma nova forma de pensar ou
uma resposta para as próprias obrigações. A conversão é, para essa mulher,
comunhão com Jesus. Por isso, a conversão é o caminho para a felicidade e para
uma vida plena. Não é algo penoso e sim sumamente gozoso, pois é o caminho da
libertação.
Para Jesus as verdadeiras pessoas
de Deus são aquelas pessoas capazes de se converter em fonte de vida para os
demais. Jesus mostra ao fariseu, Simão, que o mais importante não é a rígida
disciplina religiosa e sim o amor e a gratidão. Por isso, ele anuncia o perdão
de Deus para a mulher.
Deus não nos envia para destruir os
demais, por muito malvados que pareçam ser; nossa luta não é uma luta
fratricida e sim uma luta contra o pecado e o mal. E o pecado não se expulsa
acabando com os pecadores e sim amando-lhes de tal forma que possam recuperar
sua dignidade de filhos de Deus.
Saber amar, saber perdoar como Deus
nos amou e perdoou é a luz que fortalecerá para aqueles que se afastaram do
caminho do bem para que voltem a encontrar-se com o Senhor e vivam
comprometidos com Ele.
Somos chamados a adotar a
misericórdia como um modo de viver: que cada um seja misericordioso nos
comentários, nos julgamentos, nas conversas e no agir cotidiano. Se corrigir,
corrija com amor e por amor. Se chamar atenção, faça-o com e por amor. Fora do
amor não há salvação, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Vitus Gustama, SVD
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