JESUS NOS INTERROGA
Sexta-feira da XXV Semana
27 de Setembro de 2013
Texto de Leitura: Lc
9,18-22
Aconteceu que Jesus 18 estava
rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus
perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19 Eles responderam: “Uns dizem
que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos
antigos profetas que ressuscitou”. 20 Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis
que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Mas Jesus proibiu-lhes
severamente que contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem
deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e
doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”
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O evangelista Lucas volta ao tema
do evangelho do dia anterior sobre a identidade de Jesus (cf. Lc 9,7-9). No
texto do evangelho do dia anterior o interessado por saber quem era Jesus foi
Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande. No texto do evangelho de hoje
é o próprio Jesus quem dirige a pergunta a seus discípulos. Quem é Jesus para
as pessoas em geral e quem é Jesus para os próprios discípulos?
A resposta do povo é múltipla:
Elias, João Batista, um profeta que ressuscitou. Segundo os discípulos Jesus é
o Messias. “Messias” é palavra hebraica que é em grego “Christos” que significa
“Ungido”. Jesus é o Ungido de Deus, ou seja, Aquele sobre quem Deus derramou
seu Espírito, ungindo-o com Sua força para que leve a cabo uma missão. Jesus está
totalmente aberto à vontade de Deus a ponto de o Espírito divino repousar sobre
Ele (cf. Lc 3,21-22; Mt 3,16-17) e se deixa guiar completamente pelo mesmo Espírito
(cf. Mc 1,12).
Mas que tipo de Messias Jesus é?
Estamos aqui no centro da fé: crer em um Messias que será crucificado. A cruz
de Jesus não é um incidente e sim uma conseqüência. A presença de Deus se
manifesta no caminho da cruz, isto é, na entrega de si mesmo, na recusa de toda
imposição, no amor que aceita ser contradito e aparentemente derrotado: “É
necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos
sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar”.
Mas a cruz de Jesus é saborosa,
pois trata-se de uma vida vivida até o fim por amor aos homens como manifestação
do amor a Deus (cf. Jo 3,16). Por isso, na sua cruz vemos com clareza o amor de
Deus por cada um de nós. Deus encarnado é capaz de tudo, até o impossível, pois
cada um tem um valor incalculável diante de Deus. Por você e por mim Deus se
encarnou em Jesus e por amor a nós todos Jesus aceitou ser crucificado (cf. Mt
8,17; Jo 3,16). O caminho do amor é o caminho que nos leva à salvação. Fora do
amor não há a salvação independentemente de nossas práticas religiosas. Por
este caminho (amor) não há outro caminho para chegar até Deus que é Amor por
excelência (1Jo 4,8.16).
O amor transforma tudo. Com amor
levamos a carga sem carga, pois o amor torna tudo leve. O amor faz doce e
saboroso o que é amargo. O amor nobre de Jesus nos impulsiona a desejar sempre
o mais perfeito e a fazer o bem para todos. O amor não é detido por qualquer
coisa deste mundo. O amor quer ser livre. Não há nada que seja mais doce, mais
forte, mais alto, mais alegre, mais humano e mais divino do que o amor, pois o
amor nasce de Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor sempre vela, e
dormindo não se dorme; fatigado, não se cansa; angustiado, não se angustia;
espantado, não se espanta; é forte na sua fraqueza.
A pergunta de Jesus é repetida para
nós em todos os momentos: “Quem é Jesus para nós?”. Não se trata de uma pergunta
supérflua. É claro que “sabemos” já quem é Jesus. Não somente cremos em Jesus
como o Filho de Deus e Salvador da humanidade, mas queremos segui-Lo com
fidelidade na vida de cada dia. Mas temos que refrescar ou renovar com
freqüência esta convicção, pensando se realmente nossa vida está orientada para
Ele, se nossas opções de cada dia estão de acordo com seus critérios. Quem é
Jesus para mim agora, nesta etapa concreta da vida que estou vivendo? Não
podemos responder a esta pergunta com palavras magistrais nascidas do estudo.
Nossa resposta deve ser muito simples, nascida da vida de cada dia com o
próprio Senhor.
O segundo ponto que Lucas quer nos
transmitir através do texto do evangelho de hoje é a importância da oração.
Lucas nos mostra Cristo em oração toda vez que ele toma uma decisão importante
ou quando se compromete em uma etapa de sua missão (Lc 3,21; 6,12; 9,29; 11,1;
22,31-39). Lucas é o único evangelista que menciona a oração de Cristo antes de
obter a profissão de fé nos seus e de anunciar-lhes sua Paixão. Assim cabe
pensar, como em cada uma das demais circunstâncias mencionadas por Lucas, que
Jesus reza pelo cumprimento de sua missão cujos contornos ele não vê mais que
na obscuridade. Através da oração vemos a realidade da humanidade de Jesus.
Se a oração de Jesus demonstra a
realidade de sua humanidade, não deixa de ser um sinal de sua divindade. Que
Jesus pode reunir em sua oração a profundidade de sua pessoa, onde se
estabelece sua vocação como o Ungido de Deus, é o indício de que dispõe do Espírito
do Pai. Com feito, a oração não é um discurso que se dirige a Deus como um
objeto e sim ter Deus por sujeito que conhece a profundidade de nosso ser. Não
podemos alcançar esta profundidade sem a ajuda do Santo Espírito (cf. Rm
8,26-27). Do ponto de vista humano podemos dizer que somente aquele que reza
profundamente é que reconhece os próprios limites e fraquezas, pois diante de
Deus tudo fica iluminado. Rezar é deixar Deus iluminar nossa vida e nossas decisões
de cada dia. Com efeito, sem oração a vida se torna escura. Quem não reza,
obscurece a própria vida. A história de nossa oração é a história de nossa
vida, pois na oração contamos para Deus tudo o que acontece na nossa vida
embora Ele saiba de tudo. Erraremos o caminho se pararmos de orar, pois Deus é
a Luz de nossa vida (Jo 8,12).
P. Vitus Gustama,svd
“Para ser um bom orador é necessário ser um
bom orante”
(Santo
Agostinho. De doc. christ. 4,15,32)
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