TER AUTORIDADE E SER
PARCEIRO DO BEM
Segunda-feira da XXVI
Semana Comum
30 de Setembro de 2013
O texto da Leitura: Lc 9,46-50
Naquele tempo, 46 houve entre os discípulos uma
discussão, para saber qual deles seria o maior. 47 Jesus sabia o que estavam pensando,
pegou então uma criança, colocou-a junto de si 48 e disse-lhes: “Quem receber esta
criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará
recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor,
esse é o maior”. 49 João disse a Jesus:
“Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lho
proibimos, porque não anda conosco”. 50 Jesus disse-lhe: “Não o proibais,
pois quem não está contra vós, está a vosso favor”.
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Estamos na parte final da atividade
de Jesus na Galileia. A partir de Lc 9,51-19,28 Jesus sairá da Galileia rumo a
Jerusalém onde será crucificado, morto e glorificado.
É Preciso Ter a Autoridade e Não o Poder
Na primeira parte do evangelho lido
neste dia o evangelista Lucas nos relatou que entre os discípulos houve uma
discussão sobre quem era maior ou quem tinha mais poder. Em outras palavras,
eles tinham ambição de ter o poder na mão. Isso significa que até então eles
ainda não captaram o essencial da mensagem de Jesus que é preciso pensar no
outro e fazer tudo pela sua salvação.
Quem tem o poder geralmente impõe
aos outros suas decisões, muitas vezes através dos meios injustos como
opressão, repreensão, tortura, ameaça, execução etc.. O poder não respeita a liberdade humana, por
isso ele não faz que os homens se tornem bons.
O poder obriga e impõe o silêncio. Quem tem poder geralmente não se
preocupa com a ética e com a humanidade. Aquele que tem poder sempre tem
tendência de manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e
sua necessidade de poder. O ambicioso pelo poder, quando dominado pelo vício, não
suporta competidores, nem admite rivais e por isso, ele procura todos os meios
para humilhá-los e eliminá-los. Ele considera “justo” e “honesto” o uso da violência
para atingir seus objetivos. Ele não tem consciência de que o poder é
passageiro. Quem desejar ser o primeiro a todo custo não pensa na justiça e na
honestidade nem na necessidade dos outros. O respeito aos outros está ausente
na vida de um ambicioso.
O contrário do poder é a autoridade. A autoridade
está ligada ao crescimento. A palavra “autoridade” vem do latim “augere”, que
quer dizer “crescer”. Exercer a autoridade significa sentir-se realmente
responsável pelos outros e por seu crescimento sabendo que eles são pessoas que
tem um coração, nas quais existe o Espírito de Deus (cf. 1Cor 3,16-17) e que
são chamadas a crescer na liberdade da verdade e do amor. Na linguagem bíblica,
a autoridade é uma rocha que dá apoio. É o pastor que conduz o gado para o bom
pasto (cf. Sl 23 sobre o bom pastor; cf. Jo 10). Os membros da comunidade são
essencialmente o rebanho de Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21,15-17). Os membros de uma
comunidade logo sentem quando os responsáveis (autoridade) os amam e querem
ajudá-los a crescer e não quando estão presentes apenas para administrar, impor
sua lei e sua própria visão. A autoridade é o autêntico serviço para a comunidade. A crise de liderança
geralmente surge da crise da autoridade.
O grande não é reinar e sim servir
no espírito de Jesus. Para Jesus servir é coisa grande e faz quem serve grande
diante de Deus, pois servir o mais desprezado dos homens é servir a Deus (cf. Mt
25,40.45). É imitar Jesus.
Os discípulos de Jesus, mesmo
estando com Ele, nunca abandonaram suas pretensões de poder. E nós, será que também
nós não abandonamos nossas pretensões de poder ao estar na Igreja? Ou usamos a
Igreja para facilitar o alcance de nosso poder?
Hoje necessitamos criar uma
catequese que realmente cultive o conhecimento de Jesus e a prática de suas
atitudes, pois o que Jesus queria era criar um grupo de pessoas que, ao atender
a chamada de Deus, proporcionam novas alternativas de vida.
É Preciso Ser Parceiro do Bem
A segunda parte do Evangelho de
hoje nos relata que o discípulo João se queixa por ter visto alguém “expulsando
demônios” em nome de Jesus, mas esse alguém não pertence ao grupo dos
discípulos. A reação de João é imediata: proibir que se faça o bem, pois não é
membro da comunidade dos seguidores de Cristo. Com essa proibição os discípulos
mostram seu comportamento incompatível com o Reino de Deus: arrogância,
sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de
monopolizar Jesus e a sua proposta.
Diante desse comportamento dos
discípulos Jesus disse-lhes: “Não o proibais, pois quem não está contra vós
está a vosso favor”. Com esta exortação Jesus quer que os discípulos superem o
sectarismo na prática do bem. A
comunidade cristã deve ser colaboradora na prática do bem e acolher todas as
pessoas que praticam o bem independentemente de pertencer ou não à Igreja. Cada
cristão deve ser parceiro do bem e por isso, deve reconhecer o bem praticado
por qualquer pessoa. Se realmente alguém pratica o bem é porque tem algo de
Deus dentro dele, pois Deus é o Bem supremo. E tudo que Ele criou era bom (cf.
Gn 1,1ss).
O Espírito de Deus é livre e atua
onde quer e como quer. Ele não está limitado por fronteiras, nem por regras,
nem por interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja ou
religião ou grupo tem o monopólio do Espírito Santo, nenhuma instituição
consegue controlá-lo nem prendê-lo. O Espírito não é privilégio dos membros da
hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o
coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e o seu projeto
de vida.
Somos convidados a abandonar
atitudes como o fanatismo, a intolerância, a intransigência, preconceitos, etc.
, pois elas fazem fechar os olhos e o coração diante da manifestação do amor de
Deus em tantas pessoas de boa vontade mesmo que se digam não acreditar em Deus,
mas Deus acredita nelas por causa do bem que elas praticam. Não temos que
sentir-nos ciumentos se Deus quer agir no mundo através de pessoas que não
pertencem à nossa Igreja. É preciso ser parceiro deste tipo de pessoa.
Os cristãos são chamados a
constituir uma comunidade sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse
exclusiva do bem e da verdade, pois estes sentimentos e atitudes são
incompatíveis com a opção pelo Reino: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a
sua graça aos humildes” (1Pd 5,5b;Pr 3,34).
P.
Vitus Gustama,svd
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