ALEGRIA DE TER NOME
ESCRITO NO CÉU
Sábado da XXVI Semana
Comum
05 de Outubro de 2013
Texto de Leitura: Lc 10,17-24
Naquele tempo, 17 os setenta e dois voltaram muito
contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu
nome”. 18 Jesus respondeu: “Eu vi
Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19 Eu vos dei o poder de pisar em cima
de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer
mal. 20 Contudo, não vos
alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos
nomes estão escritos no céu”. 21 Naquele momento, Jesus exultou no
Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém
conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não
ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se
para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que
vós vedes! 24 Pois eu vos digo que
muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram
ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.
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Continuamos a acompanhar Jesus no
seu caminho para Jerusalém durante o qual Ele passa para seus discípulos suas
ultimas e mais importantes lições sobre como deve ser a vida de cada seguidor
(Lc 9,51-19,28).
O texto do evangelho lido neste dia
se encontra no contexto da volta dos setenta (e dois) discípulos da missão que
o Senhor lhes confiou anteriormente (Lc 10,1-12). Os discípulos voltaram da
missão alegres e conscientes de ter libertado os homens do mal, moral e físico
pelo uso que fizeram do poder messiânico (o nome) de Jesus: “Senhor, até os
demônios nos obedeceram por causa do teu nome”, relataram os discípulos a
Jesus. O poder sobre o mal que os discípulos têm é o fruto de sua comunhão
plena com Jesus. Estar em plena comunhão com Jesus significa estar em pleno
poder de Jesus, poder que liberta e não escraviza. Somente a fé em Jesus, isto
é, estar nele e com ele, pode ser derrotado qualquer poder que escraviza.
E Jesus lhes explica que uma vitória
semelhante é o sinal da derrota das forças do mal que dominavam os homens até
então: “Eu vi satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,18). Trata-se de
uma queda brusca e rápida (relâmpago) e de uma grande altura (do céu). Altura
de onde inicia a queda de uma coisa ou de uma pessoa determina o impacto sobre
o que caiu ao chegar à terra. O impacto da queda depende do peso da coisa
(pessoa) e da altura de onde caiu. Não
construamos nosso ninho no telhado, pois o medo de cair não nos deixará
vivermos felizes.
Por que caiu do céu (satanás caiu do
céu)? O tema da queda de satanás do céu pertence ao mito apocalíptico judaico,
em que se alude à presença de satanás sobre o céu. Certamente, segundo esse
mito, seu lugar e sua função se diferenciam do lugar e da função de Deus, porém
pensa-se que satanás põe o trono nas esferas superiores e domina desde ali toda
a marcha dos homens sobre o mundo. Mas a chegada de Jesus abole o estado de
escravidão que permite o homem ter acesso à liberdade. A presença de Jesus é a derrota
do poder do mal. Basta estar com Jesus e estar nele, o triunfo do poder do mal
(satanás) termina seu reinado.
Mas para não cair na ilusão do poder
e na idéia de domínio, Jesus alerta aos discípulos que o mais importante é ter
os nomes escritos no céu. Ter nome escrito no céu é mais importante do que
qualquer poder ou domínio na terra. Esta afirmação nos leva ao Livro do Êxodo
onde encontramos uma explicação: somente são aqueles que participam do Reino de
Deus e vivem conforme as suas exigências têm nome escrito no céu (cf. Ex
32,32). Não há nada que seja melhor para um ser humano do que ter seu nome
escrito no céu, no livro da vida: “O vencedor será assim revestido de vestes
brancas. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, e o proclamarei diante do
meu Pai e dos seus anjos”, diz-nos o Livro de Apocalipse de São João (Ap 3,5).
Esta é a grande mensagem do evangelho de hoje.
À luz desta experiência se situa a
função dos discípulos missionários. Sua vitória sobre satanás se traduz no fato
de que são capazes de vencer (superar) o mal do mundo (Lc 10,19). Por isso, são
declarados felizes: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. Pois eu vos
digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo e não puderam
ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo e não puderam ouvir” (Lc 10,23-24). Os
discípulos são felizes porque estão experimentando aquela plenitude messiânica
que os antigos profetas e os reis de Israel sonhavam experimentar. No entanto,
mais uma vez, sua autêntica grandeza está no fato de seu encontro pessoal com
Deus: seus nomes pertencem ao Reino dos céus (Lc 10,20).
Os discípulos voltaram de sua missão
com alegria. Eles tocaram com suas mãos o poder da graça e por isso, os demônios
se renderam ao ouvir o nome do Senhor pronunciado por eles. O apostolado é uma
das maiores fontes de alegria. Quando transmitimos as palavras cheias de
autoridade, isto é, aquelas que fazem outro crescer e mudar de vida para o bem
a alegria enche nossa vida. No entanto, a alegria minha se tornará
maior se eu souber-me filho ou filha de Deus. É o saber que Deus me quer
pessoalmente, pelo meu nome; que meu nome está escrito no céu. Se ser apóstolo
(ser enviado/ missionário) em si é uma fonte de alegria, ainda maior é o saber
de ser amado e escolhido por Deus. Sou cristão, filho de Deus porque Ele me
quer e me deu Sua graça para que eu creia n’Ele, espere n’Ele e O ame. A alegria
cristã é uma realidade que não pode ser descrita facilmente porque é espiritual
e também faz parte do mistério. A verdadeira fé nos dá alegria e serenidade,
pois sabemos e acreditamos que Deus é nosso Pai e que nos quer e nos ama
gratuitamente e sem medidas (cf. Jo 3,16; 13,1).
Para que seu nome e meu nome estejam
escritos no livro da vida, no céu é preciso que aprendamos a ser pequenos e
simples diante de Deus. Humildade/ simplicidade e alegria sempre caminham
juntas, pois a verdadeira alegria é uma conseqüência da simplicidade e da
humildade. Os pequenos e os simples se mantém abertos ao mistério de Deus e
compreendem a verdade de Jesus Cristo: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da
terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste
aos pequeninos” (Lc 10,21ª). A missão se estrutura como expansão do amor em que
se unem Deus e o Cristo (Filho). Nesse amor, revelado aos pequenos e escondido
para todos os grandes deste mundo, se fundamenta a derrota das forças
destruidoras da história. “Com o amor não somente avanço, mas vôo. Um só ato
de amor nos fará conhecer melhor Jesus. O amor nos aproximará dele durante toda
a eternidade. Eu não conheço outro meio para chegar à perfeição a não ser o
amor”, dizia Santa Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face.
P.
Vitus Gustama,svd
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