SOMOS TODOS
MISSIONÁRIOS DO
SENHOR
Quinta-feira da XXVI
Semana Comum
Texto de Leitura: Lc
10,1-12
Naquele tempo, 1 o Senhor escolheu
outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda
cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes: “A messe é grande,
mas os trabalhadores são poucos”. Por isso, pedi ao dono da messe que mande
trabalhadores para a colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio
de lobos. 4 Não leveis bolsa nem sacola nem sandálias, e não cumprimenteis
ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A
paz esteja nesta casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará
sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei
e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis
de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei
do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O
Reino de Deus está próximo de vós’. 10 Mas, quando entrardes numa cidade e não
fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: 11 ‘Até a poeira de vossa
cidade que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei
que o Reino de Deus está próximo!’ 12 Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será
tratada com menos rigor do que essa cidade”.
_______________________
O evangelista Lucas, como Mateus,
fala duas vezes sobre a missão. Logo se strata de um tema importante para a
Igreja. No capítulo anterior do evangelho lido neste dia, lemos que a missão
antes foi confiada aos Doze (Lc 9,1-6). Mas a obra de Jesus não está encerrada
e não se restringe para um grupo pequeno. Realiza-se e expande-se através dos
setenta (e dois). Com o número setenta (e dois) Lucas quer nos dizer que a
missão não é apenas exercida por um pequeno grupo de pessoas, mas todos os que
seguem a Jesus, todos os batizados têm a mesma missão de continuar a obra de
Jesus. Todos os cristãos têm a mesma missão. Missão significa que alguém é
enviado. Jesus envia todos os cristãos ao mundo para serem testemunhas de tudo
o que Jesus fez e disse, especialmente de sua morte e ressurreição por amor à
humanidade. Por isso, a missão dos discípulos tem como primeiro princípio ser
testemunho do amor, do perdão, da justiça e da verdade, dentro e fora da comunidade.
São enviados como cordeiros entre os
lobos. O lobo é o símbolo da violência e da arrogância, da vontade de dominar e
de corromper os outros. O cordeiro simboliza a mansidão, a fraqueza, a
fragilidade. O cordeiro só consegue se salvar da agressão do lobo se o pastor
intervém na sua defesa. Os discípulos não podem contar com a força, o poder e a
violência. Devem estar sempre desarmados. Para isso, é necessário que os
discípulos estejam vigilantes para que eles não sejam conduzidos a cumprir as
ações dos lobos como o abuso de poder, as agressões, as violências etc.. Jesus salvou o mundo, comportando-se como
cordeiro, e não como lobo.
Ao enviar 70 (e dois) discípulos
para a missão Jesus dá as seguintes recomendações:
Primeiro, Deus quer que mudem as
relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem
como irmãos, pois todos são filhos e filhas do mesmo Pai do céu. Por isso, eles
têm que viver como uma família, sem competições e sem ambições. O Reino não é
tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia os 70 (e dois) de dois em
dois para que se ajudem, se confrontem e se complementem. Quando se
compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a experiência do grupo de Jesus
e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.
Segundo, o Reino de Deus que eles
anunciarão vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última
palavra e não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham
vida (Jo 10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte
eterna, e pelo bem e não pelo mal.
Terceiro, todos devem pôr toda sua
confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição fundamental
para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no espírito. Essa
pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho maior do que mil
palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se oferece como amor
e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a reconstruir as relações de
confiança formando uma comunidade de irmãos como o próprio Deus quer. Devemos
abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência e nos entregar nas mãos de
Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora.
O fundamental que os discípulos
devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus
e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio
reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer
defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que
trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina. Quem
acredita somente na própria força e técnica, um dia vai se cansar quando as
próprias forças se esgotarem. As ovelhas são do Senhor, temos tarefa de
apascentá-los. A vinha é do Senhor, somos apenas colaboradores para essa vinha.
O envio dos 70 (e dois) tem, então,
como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda
pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando
referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A
Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus.
A missão serve tanto para formar
missionários como para despertar os que são visitados para serem também
missionários. Todos são enviados para fazer missão e para tornar o outro
missionário.
É bom cada um perguntar-se: “O que é
que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até
agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será
que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”.
Para Refletir:
·
“A Igreja é chamada a repensar profundamente e a
relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias
latino-americanas e mundiais. Ela não pode fechar-se frente àqueles que só vêem
confusão, perigos e ameaças ou àqueles que pretendem cobrir a variedade e
complexidade das situações com uma capa de ideologias gastas ou de agressões
irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do
Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e
comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não
depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres novos
que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e
missionários de seu Reino, protagonistas de uma vida nova para uma América
Latina que deseja reconhecer-se com a luz e a força do Espírito” (Documento
Aparecida da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe,
no. 11).
·
“Cada comunidade é
interpelada e convidada a assumir o mandato, confiado por Jesus aos Apóstolos,
de ser suas «testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos
confins do mundo» (At 1, 8); e isso, não como um aspecto secundário
da vida cristã, mas um aspecto essencial: todos somos enviados pelas estradas
do mundo para caminhar com os irmãos, professando e testemunhando a nossa fé em
Cristo e fazendo-nos arautos do seu Evangelho. Convido os bispos, os
presbíteros, os conselhos presbiterais e pastorais, cada pessoa e grupo
responsável na Igreja a porem em relevo a dimensão missionária nos programas
pastorais e formativos, sentindo que o próprio compromisso apostólico não é
completo, se não incluir o propósito de «dar também testemunho perante as
nações», perante todos os povos. Mas a missionariedade não é apenas uma
dimensão programática na vida cristã; é também uma dimensão paradigmática, que
diz respeito a todos os aspectos da vida cristã (Mensagem do Papa Francisco
para o Dia Mundial das Missões de 2013).
P. Vitus Gustama,svd
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