LUCAS, EVANGELISTA
18 de Outubro
Texto de Leitura: Lc
10,1-9
Naquele tempo 1o Senhor escolheu
outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda
cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E dizia-lhes: “A messe é grande,
mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande
trabalhadores para a colheita. 3Eis que vos envio como cordeiros para o meio de
lobos. 4Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis
ninguém pelo caminho! 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A
paz esteja nesta casa!’ 6Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará
sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7Permanecei naquela mesma casa, comei
e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis
de casa em casa. 8Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do
que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino
de Deus está próximo de vós’”.
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Não temos autobiografia do
evangelista Lucas. Mas através de suas duas obras (o evangelho de Lucas e os
Atos dos Apóstolos) podemos saber e conhecer quem é Lucas. Aqui coloquei apenas
algumas pinceladas sobre o perfil do evangelista Lucas. Tudo fica aberto para
qualquer acréscimo.
Segundo a divisão da Bíblia em versículos
provém do ano de 1551 o evangelho de Lucas possui um total de 1.149 versículos
(Mt: 1.068; Mc: 661; Jo 877; Atos: 895). O total de Lc + Atos é de 2.054 versículos.
Lucas é um homem culto. O seu grego
é um dos mais apurados do Novo Testamento. É um escritor de bom gosto.
Lucas é um homem muito humano e
cheio de sensibilidade humana. Em vez de usar palavra “prostituta” ele usa a
expressão “mulher pecadora”.
É um homem da cidade. Nas suas
obras ele fala constantemente de cidades (40 vezes. Hoje em dia mais de dois
terços da população mundial moram nas cidades, o que exige a coragem de ousar
novos caminhos na nova evangelização).
Ele tem certa visão universal. Em
vez de usar a expressão “o mar da Galiléia”, ele usa a expressão “o lago da
Galiléia” (o lago da Galiléia tem 13 km por 8 km de tamanho). Ele vê claramente
que a salvação trazida por Jesus abarca todos os homens, sem fronteiras e sem
preconceitos.
Lucas é um homem que vê que a libertação
do mundo virá a partir do pobre, a partir da periferia. Jesus é de Nazaré, um
vilarejo, uma periferia. E o Anjo do Senhor para anunciar a salvação apareceu
para uma moça desconhecida até então, que morava na periferia: Nazaré (Lc
1,26-38). A partir da periferia, Deus salva o mundo em Jesus Cristo. O samaritano,
o excluído, entende a miséria de seu irmão
e revela solidariedade com ele (Lc
10,25-37).
É um homem muito sensível para a
questão social: ele ataca as desigualdades entre os ricos e os pobres, defende
a dignidade da mulher (mulher era inferior em tudo, mas entre os discípulos havia
discípulas, como Maria, irmã de Marta), se preocupa com o faminto, com o pobre,
com aquele que chora.
Ele é um homem de extrema bondade e
compaixão em relação aos fracassados na vida em todos os sentidos. Podemos
encontrar tudo isso, como exemplo, a parábola do filho pródigo que é uma das
grandes peças da literatura universal e uma das mais conhecidas parábolas
jamais contados, quase que é um evangelho dentro do evangelho. Ele crê que o
fracasso não deva vencer o homem; deve-se dar sempre um salto por cima de todos
os fracassos e “começar” sempre confiando na misericórdia de Deus sem limites
(“começar” é o termo que Lucas usa). Para Lucas, a misericórdia é o critério
supremo da vida cristã. A misericórdia supera ou vence o próprio juízo de Deus.
Lucas é um homem extremamente
ecumênico. Na sua orientação ecumênica ele envolve os próprios judeus. Ele
mostra para com os judeus a mais profunda simpatia e preocupação. Ele tem uma
profunda clareza sobre a salvação trazida por Jesus. A salvação é para todos, sem
fronteiras nem preconceitos.
Lucas é chamado de “o evangelista
da oração” e ação. Ele insiste muito na oração. O evangelho de Lucas é o
único que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da
oração. Neste evangelho, Jesus orou em cada decisão importante e em todo momento
decisivo de sua vida. Ele orou no batismo (3,21), antes de escolher os
discípulos (6,12), em Cesaréia de Filipe na profissão da fé de Pedro (9,8), no
monte Tabor na transfiguração (9,28s), no Jardim de Getsêmani (22,39-46), na
cruz (23,34.46)e ensinou aos discípulos o Pai-Nosso (11,1ss). Neste evangelho
podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o
Magnificat (1,46-56); o Benedictus (1,67-79); o Glória
(2,14); o Nunc Dimittis (2,29-32). Além disso, Lucas ainda coloca três
parábolas sobre oração (11,5-13;18,1-8;18,9-13). A oração é a expressão
mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora porque tem fé. A oração é
também o lugar da revelação. Deus se manifesta quando alguém está em sintonia
com Deus e com a realidade. Na oração verdadeira Deus se revela. Por isso,
empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. No seguimento de
Jesus, a oração sustenta a caminhada do cristão. Na medida em que ele reza
verdadeiramente, a sua vida se transforma. A vida e a oração se tornam uma
unidade. Quem reza desligando-se da realidade é uma alienação, é uma fuga. Um
verdadeiro cristão reza aquilo que ele vive e vive aquilo que ele reza. Por
isso, quem sabe viver bem sabe também rezar bem e quem sabe rezar bem também
sabe viver bem.
O evangelho de Lucas é o evangelho
de alegria. O verbo “alegrar-se” ocorre 7 vezes em Lucas e nunca nos demais
evangelhos. O substantivo “alegria” ocorre 12 vezes em Lucas, e 16 vezes nos
três outros evangelhos (1,14.44.47.58;2,10;10,17.20.21;15,8-10.11-36;19,6.37;24,52-53.
A alegria é o fruto de uma oração profunda. A alegria é a característica do
cristão verdadeiro que vive na esperança, na expectativa e na certeza da
ressurreição; que vive na certeza de uma vitória sobre o fracasso. A alegria é
em Lucas um mandamento de Jesus: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão
inscritos nos céus” (Lc 10,20). A tristeza e o desânimo são um sinal da
ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de
fé.
O evangelho de Lucas é o evangelho
do Espírito (Santo). Lucas - Atos (dos Apóstolos) seria “um verdadeiro tratado
de pneumatologia” (ciência sobre o Espírito Santo), segundo Lina Boff. Lucas
divide a história da salvação em três etapas: 1). O tempo de Israel; 2). O
tempo de Jesus; 3). O tempo da Igreja. E como fio condutor destes três tempos
ou etapas é o Espírito Santo. O Espírito Santo é que conduz e guia todos estes
tempos. O Espírito Santo funda a missão de Jesus e funda a missão da Igreja. O
Espírito Santo é o ponto de união entre o Antigo testamento e o Novo
Testamento. O Espírito Santo está no início e no decurso do ministério de
Jesus. Ele está no início e na caminhada da Igreja: as comunidades são fruto e
manifestação do Espírito Santo. O Espírito Santo é dinamismo, abertura para o
novo, dom e compromisso, força que leva a enfrentar o novo e o desconhecido.
Símbolo do evangelho de Lucas é TOURO-
Refere-se ao ofício de Zacarias. Como sacerdote oferecia sacrifícios. Jesus vem
suprimir esses sacrifícios de animais.
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Uma Pequena reflexão Sobre o Texto Do Evangelho Lido
Neste Dia: Lc 10,1-9
Jesus envia 70 (e dois) discípulos
para a missão e lhes dá estas recomendações:
Primeiro, Deus quer que mudem as
relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem
como irmãos. Por isso, eles têm que viver como uma família, sem competições e
sem ambições. O Reino não é tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia
os 70 (e dois) de dois em dois para que se ajudem, se confrontem e se
complementem. Quando se compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a
experiência do grupo de Jesus e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.
Segundo, o Reino de Deus que eles anunciarão
vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última palavra e
não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham vida (Jo
10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte eterna, e pelo
bem e não pelo mal.
Terceiro, todos devem pôr toda
sua confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição
fundamental para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no
espírito. Essa pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho
maior do que mil palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se
oferece como amor e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a
reconstruir as relações de confiança formando uma comunidade de irmãos como o
próprio Deus quer. Devemos abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência
e nos entregar nas mãos de Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora.
O fundamental que os discípulos
devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus
e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio
reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer
defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que
trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina.
O envio dos 70 (e dois) tem, então,
como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda
pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando
referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A
Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus.
A missão serve tanto para formar
missionários como para despertar os que são visitados para serem também
missionários. Todos são enviados para fazer missão.
É bom cada um perguntar-se: “O que
é que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até
agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será
que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”.
P. Vitus Gustama,svd
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