quarta-feira, 16 de outubro de 2013

 
LUCAS, EVANGELISTA

18 de Outubro


Texto de Leitura: Lc 10,1-9

Naquele tempo 1o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”.

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Não temos autobiografia do evangelista Lucas. Mas através de suas duas obras (o evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos) podemos saber e conhecer quem é Lucas. Aqui coloquei apenas algumas pinceladas sobre o perfil do evangelista Lucas. Tudo fica aberto para qualquer acréscimo.


Segundo a divisão da Bíblia em versículos provém do ano de 1551 o evangelho de Lucas possui um total de 1.149 versículos (Mt: 1.068; Mc: 661; Jo 877; Atos: 895). O total de Lc + Atos é de 2.054 versículos.


Lucas é um homem culto. O seu grego é um dos mais apurados do Novo Testamento. É um escritor de bom gosto.


Lucas é um homem muito humano e cheio de sensibilidade humana. Em vez de usar palavra “prostituta” ele usa a expressão “mulher pecadora”.


É um homem da cidade. Nas suas obras ele fala constantemente de cidades (40 vezes. Hoje em dia mais de dois terços da população mundial moram nas cidades, o que exige a coragem de ousar novos caminhos na nova evangelização).


Ele tem certa visão universal. Em vez de usar a expressão “o mar da Galiléia”, ele usa a expressão “o lago da Galiléia” (o lago da Galiléia tem 13 km por 8 km de tamanho). Ele vê claramente que a salvação trazida por Jesus abarca todos os homens, sem fronteiras e sem preconceitos.


Lucas é um homem que vê que a libertação do mundo virá a partir do pobre, a partir da periferia. Jesus é de Nazaré, um vilarejo, uma periferia. E o Anjo do Senhor para anunciar a salvação apareceu para uma moça desconhecida até então, que morava na periferia: Nazaré (Lc 1,26-38). A partir da periferia, Deus salva o mundo em Jesus Cristo. O samaritano, o excluído,  entende a miséria de seu irmão  e revela solidariedade com ele (Lc 10,25-37).


É um homem muito sensível para a questão social: ele ataca as desigualdades entre os ricos e os pobres, defende a dignidade da mulher (mulher era inferior em tudo, mas entre os discípulos havia discípulas, como Maria, irmã de Marta), se preocupa com o faminto, com o pobre, com aquele que chora.


Ele é um homem de extrema bondade e compaixão em relação aos fracassados na vida em todos os sentidos. Podemos encontrar tudo isso, como exemplo, a parábola do filho pródigo que é uma das grandes peças da literatura universal e uma das mais conhecidas parábolas jamais contados, quase que é um evangelho dentro do evangelho. Ele crê que o fracasso não deva vencer o homem; deve-se dar sempre um salto por cima de todos os fracassos e “começar” sempre confiando na misericórdia de Deus sem limites (“começar” é o termo que Lucas usa). Para Lucas, a misericórdia é o critério supremo da vida cristã. A misericórdia supera ou vence o próprio juízo de Deus.


Lucas é um homem extremamente ecumênico. Na sua orientação ecumênica ele envolve os próprios judeus. Ele mostra para com os judeus a mais profunda simpatia e preocupação. Ele tem uma profunda clareza sobre a salvação trazida por Jesus. A salvação é para todos, sem fronteiras nem preconceitos.


Lucas é chamado de “o evangelista da oração” e ação. Ele insiste muito na oração. O evangelho de Lucas é o único que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da oração. Neste evangelho, Jesus orou em cada decisão importante e em todo momento decisivo de sua vida. Ele orou no batismo (3,21), antes de escolher os discípulos (6,12), em Cesaréia de Filipe na profissão da fé de Pedro (9,8), no monte Tabor na transfiguração (9,28s), no Jardim de Getsêmani (22,39-46), na cruz (23,34.46)e ensinou aos discípulos o Pai-Nosso (11,1ss). Neste evangelho podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (1,46-56); o Benedictus (1,67-79); o Glória (2,14); o Nunc Dimittis (2,29-32). Além disso, Lucas ainda coloca três parábolas sobre oração (11,5-13;18,1-8;18,9-13). A oração é a expressão mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora porque tem fé. A oração é também o lugar da revelação. Deus se manifesta quando alguém está em sintonia com Deus e com a realidade. Na oração verdadeira Deus se revela. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. No seguimento de Jesus, a oração sustenta a caminhada do cristão. Na medida em que ele reza verdadeiramente, a sua vida se transforma. A vida e a oração se tornam uma unidade. Quem reza desligando-se da realidade é uma alienação, é uma fuga. Um verdadeiro cristão reza aquilo que ele vive e vive aquilo que ele reza. Por isso, quem sabe viver bem sabe também rezar bem e quem sabe rezar bem também sabe viver bem.


O evangelho de Lucas é o evangelho de alegria. O verbo “alegrar-se” ocorre 7 vezes em Lucas e nunca nos demais evangelhos. O substantivo “alegria” ocorre 12 vezes em Lucas, e 16 vezes nos três outros evangelhos (1,14.44.47.58;2,10;10,17.20.21;15,8-10.11-36;19,6.37;24,52-53. A alegria é o fruto de uma oração profunda. A alegria é a característica do cristão verdadeiro que vive na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição; que vive na certeza de uma vitória sobre o fracasso. A alegria é em Lucas um mandamento de Jesus: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20). A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.


O evangelho de Lucas é o evangelho do Espírito (Santo). Lucas - Atos (dos Apóstolos) seria “um verdadeiro tratado de pneumatologia” (ciência sobre o Espírito Santo), segundo Lina Boff. Lucas divide a história da salvação em três etapas: 1). O tempo de Israel; 2). O tempo de Jesus; 3). O tempo da Igreja. E como fio condutor destes três tempos ou etapas é o Espírito Santo. O Espírito Santo é que conduz e guia todos estes tempos. O Espírito Santo funda a missão de Jesus e funda a missão da Igreja. O Espírito Santo é o ponto de união entre o Antigo testamento e o Novo Testamento. O Espírito Santo está no início e no decurso do ministério de Jesus. Ele está no início e na caminhada da Igreja: as comunidades são fruto e manifestação do Espírito Santo. O Espírito Santo é dinamismo, abertura para o novo, dom e compromisso, força que leva a enfrentar o novo e o desconhecido.
 
Símbolo do evangelho de Lucas é TOURO- Refere-se ao ofício de Zacarias. Como sacerdote oferecia sacrifícios. Jesus vem suprimir esses sacrifícios de animais.
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Uma Pequena reflexão Sobre o Texto Do Evangelho Lido Neste Dia: Lc 10,1-9


Jesus envia 70 (e dois) discípulos para a missão e lhes dá estas recomendações:


Primeiro, Deus quer que mudem as relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem como irmãos. Por isso, eles têm que viver como uma família, sem competições e sem ambições. O Reino não é tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia os 70 (e dois) de dois em dois para que se ajudem, se confrontem e se complementem. Quando se compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a experiência do grupo de Jesus e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.


Segundo, o Reino de Deus que eles anunciarão vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última palavra e não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham vida (Jo 10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte eterna, e pelo bem e não pelo mal.


Terceiro, todos devem pôr toda sua confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição fundamental para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no espírito. Essa pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho maior do que mil palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se oferece como amor e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a reconstruir as relações de confiança formando uma comunidade de irmãos como o próprio Deus quer. Devemos abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência e nos entregar nas mãos de Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora.


O fundamental que os discípulos devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina.


O envio dos 70 (e dois) tem, então, como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus.


A missão serve tanto para formar missionários como para despertar os que são visitados para serem também missionários. Todos são enviados para fazer missão.


É bom cada um perguntar-se: “O que é que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”.
P. Vitus Gustama,svd

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