FOGO PURIFICADOR TRAZIDO
POR JESUS
Quinta-feira da XXIX
Semana Comum
24 de Outubro de 2013
Texto
de Leitura: Lc 12, 49-53
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 49 Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já
estivesse aceso! 50 Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto
se cumpra! 51 Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário,
eu vos digo, vim trazer divisão. 52 Pois, daqui em diante, numa família de
cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53 ficarão
divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e
a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'
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Continuamos a ouvir atentamente
para as ultimas e mais importantes lições de Jesus dadas durante seu caminho
para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). E estamos ainda dentro do tema sobre a vigilância.
“Eu vim lançar fogo à terra,
e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?
Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”,
diz o Senhor no evangelho deste dia.
A metáfora do “fogo” é muito usada
em qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode
significar purificação, renovação, amor etc.. Em toda a Bíblia, o fogo é
símbolo de Deus: na sarça ardente encontrada por Moisés (Ex 3,1-15); no fogo ou
raio da tempestade no Sinai (Ex 19,16-25); nos sacrifícios do Templo onde as
vitimas passadas pelo fogo; como símbolo do juízo final que purifica todas as
coisas. Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que
consome as impurezas. Na linguagem
bíblica e apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo e
o início do outro. O fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo, purifica e
consome (cf. Lc 17,29-30).
“Eu vim lançar fogo à terra”,
disse Jesus. Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo. Jesus
se compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e recolher o
trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará no fogo (Mt 13,40).
Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os samaritanos (Lc 9,54). A
Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em Pentecostes (At 2,3). Esse fogo
ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando escutavam o Ressuscitado sem
conhecê-Lo (Lc 24,32).
Vir trazer fogo à terra significa que
a presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do egoísmo,
da desigualdade, da discriminação, da exclusão, da insensibilidade e assim por
diante. Através da purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para
brilhar em todo seu esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa
a eliminação da ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir
a dois senhores.
O fogo de Jesus é o mesmo Reino de
Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as
impurezas dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não
poderá surgir a nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que
oprimem o homem por dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica
ao mesmo tempo. Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido
sua missão fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se
encontra pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as
consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa
divisão: ou opta pela verdade que Jesus que significa salvação ou manter-se na
falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.
Jesus acendeu um fogo e nos convida
a mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas
inúteis, tanto organismos estéreis e paralizantes, tantas palavras vazias,
tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é
velho em nós para surgir o novo.
O que acontece quando esse fogo não
fica aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não
fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade
original que nos renova permanentemente, quando vivemos sem nos opor às
estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação
dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá
esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não
significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada.
Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com
repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem
lhes interessam.
Julgais que vim trazer paz à terra?
Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.
A paz é um dos maiores benefícios que
o homem deseja. Os hebreus se saúda dizendo “Shalom”. Jesus despede os
pecadores e as pecadores com esta frase cheia de sentido: Vá em paz (Lc 7,50;
8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz”para as casas onde entravam. Trata-se
da paz nova que vem transtornar a paz deste mundo. Mas não é uma paz fácil,
pois há que construí-la na dificuldade e com muito esforço e maturidade espiritual.
Jesus traz a paz, dá a paz, mas não
a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com
freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e
sociais que não salvam. Somente acontecerá tudo isto, se o fogo de Jesus
permanecer aceso na nossa vida e no nosso coração. Por isso, diante de Jesus
não se pode ficar neutro.
“Mas devo ser batizado num
batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus.
Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala
é sua própria morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos
homens, esquecendo-se de si próprio. Quem quiser seguir a Jesus fielmente, quem
quiser viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus deve estar preparado
para ser perseguido até ser morto. Mas trata-se de uma morte que termina na glorificação
da vida em Deus.
P.
Vitus Gustama,svd
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