Domingo, 08 de Dezembro de 2013
Gn 3,9-15.20;
Ef 1,3-6.11-12;
Lc 1,26-38
Naquele tempo ,
26o anjo
Gabriel foi enviado por
Deus a uma cidade
da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem ,
prometida em casamento
a um homem
chamado José. Ele era
descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28 O
anjo entrou onde
ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça ,
o Senhor está contigo !”
29 Maria ficou
perturbada com estas palavras e começou a pensar
qual seria o significado
da saudação .
30 Oanjo , então ,
disse-lhe: “Não tenhas medo ,
Maria, porque encontraste graça diante de
Deus . 31
Eis que
conceberás e darás à luz um filho , a quem porás o nome
de Jesus. 32 Ele será grande ,
será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono
de seu pai
Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os
descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim ”. 34 Maria perguntou
ao anjo : “Como
acontecerá isso , se eu
não conheço homem
algum ?” 35
O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre
ti, e o poder do Altíssimo te
cobrirá com sua
sombra . Por
isso , o menino
que vai nascer
será chamado Santo , Filho
de Deus . 36 Também Isabel,
tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este
já é o sexto
mês daquela que
era considerada estéril ,
37 porque para Deus nada é impossível ”. 38
Maria, então , disse: “Eis aqui a serva do Senhor ; faça-se em mim segundo a tua palavra !”
E o anjo retirou-se.
30 O
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Na primeira
metade do século
VIII, a Igreja bizantina
(no Oriente ) celebrava a concepção de Santa
Ana , mãe
da Theotokos (= Mãe de Deus , Nossa Senhora ). Em suas origens ,
esta festa celebrava o anúncio do Anjo
a Ana e Joaquim que ,
depois de anos
de esterilidade , gerariam Maria, segundo a narração
do proto-evangelho de São Tiago, um evangelho apócrifo (“apócrifo ” é palavra grega ,
“apocryphos” que significa escondido, secreto , oculto .
Foram assim chamados os livros que não eram usados oficialmente
na liturgia e no ensino .
Alguns são
contemporâneos dos escritos
bíblicos e outros pouco
posteriores ) que surgiu no século II (cf. Protoevangelho de São
Tiago IV,1-2). Até aqui
a festa não
encontrou polêmicas teológicas porque não se
tratava da “imaculada ” concepção .
O duro
polêmico começou quando esta festa passou dos mosteiros
do sul da Itália, no século
IX, à Irlanda e à Inglaterra. Aqui , no século XI , a festa começou a fixar-se no dia
8 de dezembro por
ter relação
ao dia 8 de setembro
(a festa da natividade
da Nossa Senhora )
e recebeu o nome a “Conceição da Santa Virgem Maria”. E no século XII (cerca
de 1119) começou com clareza o conceito
da festa quando
o prior de Westminster, Osberto de Clara , falou da santificação
de Maria desde o início
de sua criação
e concepção no útero
materno , pela
graça de Deus ,
que a santificou em
sua própria
concepção “sem
contágio de pecado ”.
E em 1477, Sisto IV(1471-1484), franciscano ,
introduziu a festa em
Roma e afirmou (não como
dogma ) com
clareza a preservação
de Maria em sua
concepção de todo
contágio de pecado
original .
A partir
do dia 8 de dezembro
de 1854 Pio IX(1846-1878) proclamou como dogma a
conceição imaculada de Maria, na Bula Ineffabilis
Deus , onde
ele afirmou: “...Virgem
Maria por graça
e privilégio de Deus
todo- poderoso , em
vista dos méritos
de Cristo Jesus, Salvador
do gênero humano ,
foi preservada imune de toda mancha da culpa original
no primeiro instante
de sua concepção ”. E o Concílio
Vaticano II recorda este
dogma na Constituição
dogmática Lumen Gentium capítulo VIII
no.53.59:
- Efetivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça». É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade (LG n. 53).
- Tendo sido do agrado de Deus não manifestar solenemente o mistério da salvação humana antes que viesse o Espírito prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos «perseveravam unânimemente em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus irmãos» (At. 1,14), implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação. Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cfr. Apoc. 19,16) e vencedor do pecado e da morte (LG 59)
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Maria é uma filha
de Eva como todas as mulheres do mundo .
Tem corpo de mulher ,
psicologia de mulher ,
sentimentos de mulher ,
modos de ser
e de atuar próprios
da condição feminina .
Na Galileia do século I d.C nada distingue Maria das demais
mulheres judias: seus
rasgos físicos , condições
socioeconômicas, prescrições legais discriminatórias e assim
por diante .
Mas nessa personalidade
concreta de mulher
judia se encerra um
mistério da grandeza ,
real e invisível
ao mesmo tempo .
A concepção imaculada
de Maria ou sua
maternidade divina
seriam proclamadas como
dogma de fé
alguns ou
muitos séculos
mais tarde ,
mas Maria viveu a experiência
real das mesmas em
sua existência
terrena , inteiramente
judaica .
Maria não
esperava ser Mãe
do Messias . No ambiente
religioso do seu
tempo , ela
compartilhava com todos
os judeus a crença
e a espera do Messias que libertaria Israel de seus
inimigos . Além
disso, que o Messias
viria de Nazaré era impossível ,
do ponto de vista
humano (cf. Jo 1,46). Nada em seus pais , em seu ambiente , no correr de sua existência que serviria de indício
para tão grande e nobre vocação de ser Mãe do Senhor . Mas um dia , tudo isso foi verdade .
Maria é irmã e mãe
nossa . Enquanto
irmã, Maria é igual a todos os cristãos :
filha adotiva
de Deus por
meio de Jesus Cristo ,
eleita para ser herdeira do Reino
de Deus (cf. Ef 1,5) chamada a dar glória a Deus como todos os que põem sua esperança em Cristo Jesus (cf. Ef 1,3-6.11-12). Sua grandeza
radica em que
harmoniza em sua
vida simultaneamente o ser
nossa irmã com
o ser nossa mãe , convertendo-se, assim ,
em guia
e modelo do caminho
de nossa salvação. Maria “cooperou de modo singular , com a sua fé , esperança e
ardente caridade ,
na obra do Salvador ,
para restaurar nas almas a vida sobrenatural . É por
esta razão nossa
mãe na ordem
da graça ” (LG n. 61).
A imaculada
conceição é o começo de um mundo novo animado pelo Espírito : é plenitude de amor ,
superávit da realidade cristã, nostalgia
do paraíso perdido e que foi encontrado novamente
em Maria. Em
Maria a Igreja encontra
sua utopia ,
sua imagem
mais santa
depois de Cristo .
Maria era
uma mulher simples
do povo , uma moça
pobre , nova
e logo esposa
de um humilde
trabalhador . Mas
Deus se compadeceu pelos
humildes e escolheu Maria como mãe do Messias . E ela , a partir de sua simplicidade , soube dizer “Sim ” a Deus . O “Sim ” de Maria à vontade
de Deus é também
o “sim ” de milhares
e milhares de pessoas
que ao longo
dos séculos tinham fé
em Deus ,
pessoas que
não viam nada
claro , que
passavam por dificuldades ,
mas acreditaram em
Deus e disseram como
Maria: “Faça-se em mi m segundo
a Tua Palavra ”. Em
Maria toda a humanidade
ficou abençoada. Por isso , podemos olhar para Maria como modelo de fé e motivo de esperança
e alegria .
Por isso, Maria
As grandes
promessas de Deus
passam pela mulher
chamada Maria. Por
isso , ela
faz possível a esperança .
Quando o homem
sofre crises de morte ,
aparece uma mulher em
estado da graça ,
como anúncio
e promessa .
O compromisso
da vida cristã é deixar-se fecundar pelo Espírito de Deus ,
como Maria, escutando a Palavra de Deus
que vem por
meio de mensageiros ,
tendo em conta
nossa situação
e nossas forças , mas
respondendo a Deus com
confiança e interesse .
O cristão deve deixar-se encarnar
pela Palavra
de Deus .
A Virgem
Maria, da perspectiva do evangelista Lucas é uma mulher
que aceita a proposta
revolucionária de que
Deus possa nascer
de seu ventre
virgem , de seu
corpo jovem ,
de seu coração
feminino . A mulher ,
naqueles tempos , não
tinha acesso
à Palavra escrita
da Tora ou
dos profetas . Na época
tinha um
dito : “É melhor
queimar a Bíblia
do que entregá-la nas mãos de uma mulher ”.
Agora Maria, uma mulher ,
tem em seu
ventre materno
a própria Palavra
de Deus feita
carne : o Emanuel, Deus-Conosco, Jesus Cristo .
A mulher ,
que não
podia conversar com
outro homem
que não
fosse seu marido ,
agora dialoga com
sua consciência
e toma decisão
de ser a Mãe
do Senhor . A mulher
que vivia dependente
de uma estrutura familiar
rígida , agora
escolhe e opta por ficar
grávida milagrosamente. A mulher que tinha um acesso
restringido ao culto , agora dialoga diretamente ,
cara a cara , com Deus . A mulher que
devia cuidar de sua
imagem de moralidade ,
sua virgindade
até o matrimonio, agora
decide enfrentar a sociedade
de seu tempo
e o mais importante :
quem decide é ela .
A partir
da cena da anunciação
não há que
buscar Deus
no ar , nas idéias ,
nos sonhos .
Maria o encontra no seu
ventre , no seu
coração . O Deus
que está no coração
de Maria transforma seu corpo em instrumento para fazer Deus visível aos homens .
Sua maternidade
aproxima Deus ao ser
humano para compartilhar a experiência
de salvação. Para cada
um de nós
Maria quer mostrar
que é possível
ser instrumento
para fazer visível Deus
aos outros . Para
cada cristão
trata-se de uma missão a ser
cumprida neste mundo : fazer
Deus visível
através de nossa
vida e de nosso
modo de viver .
“Vós sois a carta
de Cristo ”, relembra-nos São Paulo.
Maria é a primeira
cristã por causa
do seu sim
a Deus para que possa nascer para a humanidade
Jesus Cristo , nosso
Salvador . Não
era nenhuma princesa nem nenhuma patroa na sociedade
do seu tempo .
Era uma mulher
simples do povo ,
uma moça pobre .
Mas Deus
se compadece dos humildes e dos simples . Para Deus tudo é simples , e para o simples tudo é divino . A simplicidade
atrai a bênção de Deus
e a simpatia humana .
O simples , o humilde
é o terreno fértil
onde a graça
de Deus encontra
seu lugar
e através do qual
Deus fala
para o mundo .
De certa
forma , podemos dizer que com o sim de Maria à vontade
de Deus, a Igreja
começou. A Virgem Maria, no momento
de sua eleição
radical e no momento
de seu sim
a Deus foi início
e imagem da Igreja .
Quando ela
aceitou o anúncio do anjo , da parte
de Deus , pode-se dizer
que começou a Igreja :
a humanidade , nela representada, começou
a dizer sim à
salvação que Deus
lhe ofereceu. Nela e através dela a humanidade
foi abençoada. Podemos olhar , por
isso , para
Maria como modelo
de fé e motivo
de esperança e de alegria permanentemente .
P. Vitus Gustama,svd
Um comentário:
Mui lindo. Obrigada pela bela reflexão. Julia
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