INIMIGO: POR QUE DEVO
AMÁ-LO E REZAR POR ELE?
Terça-Feira da XI Semana Comum
17 de Junho de 2014
Evangelho: Mt 5,43-48
43“Vós ouvistes o que foi
dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ 44Eu, porém,
vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!’ 45Assim,
vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o
sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos.46Porque,
se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de
impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais somente os vossos irmãos,
que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48Portanto,
sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,43-48).
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Estamos ainda no Sermão da Montanha
(Mt 5-7). O texto do evangelho de hoje faz parte das seis antíteses nesse
Sermão. Encontra-se no texto de hoje a última antítese. Nesta ultima antítese
Jesus nos diz: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o
teu inimigo’”. Através desta antítese o cristão é chamado a não apenas
superar a justiça dos fariseus (Mt 5,20), mas também a dos publicanos
(pecadores), inclusive a dos pagãos. O cristão é chamado a viver sua filiação
divina na convivência com os demais seres humanos. Viver na filiação divina é
viver na sintonia com o coração do Pai que “faz nascer o sol sobre maus e
bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos”.
Por isso, diante da lei antiga Jesus
faz seu comentário e sua reflexão que servem de instrução para os cristãos: “Eu,
porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem,
para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus».
“Inimigo” é uma palavra muito forte.
Geralmente se refere àqueles que estão em estado de guerra. Pode também ser
usada para descrever grupos ou indivíduos que oprimem outros, que algemam sua
liberdade e impedem seu crescimento. Inimigo também é alguém que se coloca no
caminho da nossa liberdade e dignidade. É alguém a quem evitamos e com quem nos
recusamos comunicar. Nem sempre temos coragem de dizer que temos inimigos, pois
esta palavra é muito forte.
Porém, consciente ou conscientemente
a atitude de uma pessoa de não querer se comunicar com seu rival/inimigo vai
virar a antipatia e a antipatia pode se transformar em mágoa; a mágoa se torna
raiva e a raiva vai virar ódio. O ódio é como uma gangrena: devora a pessoa. Também
o ódio é igual alguém a tomar o veneno e espera que o outro morra. Mas na
verdade, quem toma o veneno é que vai morrer. Todas as nossas recusas em nos
comunicarmos com os outros e nos abrirmos a eles encerram-nos na prisão. Em vez
de nos ajudar a crescermos no amor, no perdão e na abertura, esse processo pode
nos fechar em formas sutis de depressão e inércia. Nesse caso somos
prisioneiros de nós mesmos ou do nosso grupo.
Creio que ainda temos plena
consciência que as forças da vida e os desejos de comunhão são maiores do que a
força da morte e do ódio. Por isso, no fundo, em todos os momentos nós somos
chamados à liberdade e à abertura. Viver é uma permanente busca da liberdade
para a salvação.
“Amai os vossos inimigos e orai
por aqueles que vos perseguem”, diz-nos Jesus. Aqui amar o inimigo consiste
em se tornar seu intercessor: “Orai por aquele que vos persegue”. O verdadeiro
amor recusa qualquer tipo d vingança contra o inimigo. Ao contrário, deve-se
oferecer-lhe alternativa para conviver. A motivação para fazer tudo isso é o
modo de agir do Pai que “faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a
chuva sobre os justos e injustos”.
“Amai os vossos inimigos e orai
por aqueles que vos perseguem”. Trata-se de um apelo à mudança, a não mais
sermos controlados por nossas mágoas e nossos medos, mas em pensarmos sobre a
paz na direção à maturidade cristã. Essas palavras parecem impossíveis de serem
vividas quando o relacionamento foi profundamente atingido, ou mesmo rompido;
quando o inimigo é aquele ou aquela que está na origem das graves feridas ou
dos profundos sofrimentos, que talvez tenham destruída toda a nossa vida;
quando nos encontramos diante do imperdoável.
Quando Jesus nos diz: “Amai vossos
inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”, ele não vive no sonho. Em
nenhum caso, amar o inimigo e orar por ele poderia significar que lhe damos
licença de nos destruir. O amor é nunca destrutivo.
Amar o inimigo não pertence ao
âmbito do sentimento, do sensível, mas ao domínio da vontade profunda, da
opção, da vontade de estar em concordância com as leis do Reino. A palavra de
Cristo é uma ordem de vida, não se refere ao sentimento.
Por isso, o mandamento do amor ao
inimigo é a maior exigência da mensagem de Jesus. Segundo Jesus, o amor há de
chegar a todos porque todo homem há de ter a experiência do amor de Deus. Neste
ponto o homem há de ser colaborador de Deus. A medida da ação do homem é
Deus: “Sejam perfeitos como o Pai do céu é perfeito”. Deus está no ato de
amar. É o que diz o evangelho falando de “imitação de Deus” no mesmo ato de
amar acima das comunidades naturais e sagradas nas quais vivemos. É o mesmo ato
de amar que constitui caminho para Deus e não a qualidade sagrada do objeto
amado.
Amar os inimigos e rezar
por eles quando nos tratam mal superam todo preceito. É uma exigência que se
apóia no exemplo do próprio Deus, que vê todos, bons e maus, como os Seus
filhos. Amar os inimigos é gratuidade do amor que é vivido na presença de Deus
e palavras que encontram a sua garantia na própria prática de Jesus. Na cruz
Jesus rezou pelos inimigos: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Tão integral
foi sua identificação com os pecadores e criminosos, que ele teve que suplicar
ao Pai que perdoasse aos responsáveis por sua crucificação. O perdão é a maior
necessidade de toda a humanidade, pois somente através do perdão de nossos
pecados e através do perdão que oferecemos aos outros é que alcançaremos paz de
espírito, sem o qual a vida se tornará um tormento, uma infindável procura de
uma satisfação que jamais chega. O perdão é o testamento escrito por Jesus
na cruz.
Jesus não dá apenas leis novas para
os cristãos e para as pessoas de boa vontade. Ele dá aquilo que não cabe dentro
de nenhuma lei: uma atitude totalmente nova que não se explica
humanamente. “Amigo”
e “inimigo” não serão nem salvos por minha simpatia, nem malditos por meu ódio.
Pelo contrário, o que será julgado, salvo ou maldito, será meu ódio e meu amor.
No relacionamento com o próximo, na minha facilidade de classificar amigos e
inimigos, o julgado sou eu. O decisivo, portanto, não é o meu
sentimento, mas a fé de que eles também estão colocados diante da face de Deus. A partir do meu comportamento diante deles e contra
eles, eu serei julgado por Deus.
"Ama os teus inimigos, porque
eles falam-te dos teus defeitos. Causar um dano coloca você abaixo do inimigo,
vingar-se faz com
que você se iguale a ele, perdoá-lo coloca você acima dele"
(Benjamin Franklin).
que você se iguale a ele, perdoá-lo coloca você acima dele"
(Benjamin Franklin).
P. Vitus Gustama, SVD
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