ESCOLHER O CAMINHO DA VIDA TRAZIDA POR
JESUS PARA SER SALVO
Segunda-Feira
da XIII Semana Comum
30 de Junho de 2014
Evangelho:
Mt 8,18-22
Naquele tempo, 18 vendo uma
multidão ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem do lago. 19
Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer
que tu vás”. 20 Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as
aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a
cabeça”. 21 Um outro dos discípulos disse a Jesus: “Senhor, permite-me
que primeiro eu vá sepultar meu pai”. 22 Mas Jesus lhe respondeu:
“Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”.
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“É graça divina começar
bem.
Graça maior, persistir na
caminhada certa, manter o ritmo...
Mas a graça das graças é
não desistir.
Podendo ou não podendo,
Caindo, embora aos
pedaços,
Chegar até o fim...”
(Dom Hélder Câmara)
O evangelho de Mateus foi escrito
em torno dos anos 80 para os fieis de sua comunidade. Os fieis de sua
comunidade já tinham feito sua escolha cristã. Mas em determinado tempo
vacilavam por causa das dificuldades, e abatidos por causa de duras
perseguições. Por isso, veio a exortação para que os fieis retomassem
consciência mais viva de sua identidade cristã, chamados a transformar a
história humana em historia de salvação.
Nesta perspectiva Mt coloca dois
personagens para transmitir essa exortação. O primeiro é um especialista da Lei
que escolheu ser cristão. Trata-se de um letrado que reconhece em Jesus um mestre
superior a si mesmo e decide seguir a Jesus, o grande mestre. Mas ele ainda não
é comprometido com o cristianismo e por isso, ele é alertado antecipadamente
para não tomar uma decisão superficial e ilusória. “As raposas têm suas
tocas e as aves têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a
cabeção”. Para o letrado o caminho de Jesus tem seu termo. Mas Jesus alerta
ao letrado que toda a vida de Jesus, até o momento de Sua morte, será uma
entrega total, sem instalação nem descanso.
Para ser um verdadeiro cristão, um
verdadeiro seguidor de Cristo, é preciso ter espírito de despojamento e de
pobreza, pois aquele que está cheio de coisas do mundo não sobra nenhum espaço
para Deus nem para o próximo. O cristão existe para fazer o bem
permanentemente. Fazer o bem não tem descanso nem tem término. Ninguém ama
suficientemente nem definitivamente. O amor sempre deixa quem ama em dívida. O amor
não descansa nem cansa.
“As
raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem
não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20)
O instinto de segurança e a
necessidade de estabilidade estão inscritos profundamente na natureza humana: o
homem busca o calor de um refúgio, uma fogueira, uma casa para morar, uns
objetos que lhe pertencem. Os animais têm este mesmo instinto de propriedade.
Jesus desde que saiu de sua casa
familiar de Nazaré, deixando sua mãe sozinha, não tem seu próprio lugar, vive
como nômade, como viajante: “Não tenho onde reclinar minha cabeça”.
Renunciou o calor de um lugar, renunciou a toda propriedade.
Seguir a Jesus é fazer forçosamente
certa escolha; é renunciar a uma serie de coisas; é viver na segurança com Deus
que criou tudo. Jesus quer que estejamos sempre caminhando em busca da
perfeição. Jesus quer que estejamos abertos ao novo, à novidade, ao impulso do
seu Espírito. Jesus não quer que estejamos parados, pois o Espírito de Deus
sopra para onde quer. Jesus não quer que fiquemos apegados às coisas mortas,
pois elas servem apenas de meio e não de fim.
Por esta razão Jesus adota para si
o titulo de “Filho do Homem”. O duplo título “Filho do Homem” indica unicidade
e excelência: é “Homem acabado”, o modelo de homem, por possuir em plenitude o
Espírito de Deus. Para chegar a ser um homem acabado, pleno do Espírito de
Deus, o cristão precisa participar da missão de Jesus, precisa levar adiante a
Palavra de Deus.
A mensagem cristã é exigente. Não
se trata de aderir a uma doutrina, mas a uma pessoa; não se trata de adotar um
modo de pensar, mas de orientar-se para um modo de viver: o modo de viver de
Jesus Cristo. Um cristão que se contenta de não fazer mal a ninguém não é
suficiente. É preciso fazer o bem em função do bem e não em função do mal. É
colocar o interesse do Reino de Deus acima de todas as preocupações pessoais
assim como dos afetos mais caros, com plena dedicação. É viver aberto diante de
Deus permanentemente.
O segundo personagem já é
discípulo, mas ainda não compreendeu todas as exigências de sua escolha. Por
isso, o texto diz que ele pede um período de interrupção antes de seguir o
Mestre. Ele quer ser um cristão periódico. Cristão de estação. É um cristão que
procura Deus quando estiver livre de tudo, quando tiver tempo livre. É um
cristão que procura Deus de vez em quando. Mas para este tipo de cristão Jesus
faz prevalecer a exigência de uma escolha coerente, total e radical para si que
é escolha para toda a vida.
Este segundo personagem pede a
Jesus permissão para enterrar o pai, mas recebe de Jesus esta resposta: “Segue-me!
Deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. A menção do pai nos leva
ao episódio relacionado com a chamada de Eliseu no Antigo Testamento. Eliseu
pediu licença a Elias para ir despedir-se de seu pai (cf. 1Rs 19,20). No Antigo
Testamento a tradição (o pai) estava viva, mas para Jesus está morta.
“Segue-me! Deixa que os
mortos sepultem os seus mortos”. Não se trata da falta com os deveres
de piedade para o pai defunto. O “pai” aqui representa uma tradição que não
mais salva. Abandonar o “pai” significa ficar independente da tradição
transmitida que não tem mais valor para ser mantida. O pedido para “enterrar o
pai” indica a veneração, o respeito e a estima pelo passado que não mais salva
homem algum. Por isso, os mortos aqui são os que professam essas tradições
mortais. São figuras de um mundo de morte, sem salvação. A tradição morta ou a
cultura de morte gera morte e mortos.
O discípulo, o cristão, ao
contrario, é chamado a ser defensor e protetor da vida em qualquer instância e
circunstância, pois a vida é o dom de Deus, e o próprio Jesus se identifica com
a Vida: “Eu sou a Vida e a Ressurreição” (Jo 11,25; cf. 14,6).
“Segue-me! Deixa que os mostos
sepultem seus mortos”. Jesus não quer que descuidemos dos nossos
falecidos. Isto seria falta de caridade e da humanidade. O que Jesus quer é que
abandonemos todos os hábitos que não nos fazem crescer como pessoas e filhos de
Deus e irmãos dos outros. Precisamos deixar o modo de viver e de pensar que nos
fazem como mortos: sem vida, sem horizonte, sem criatividade e assim por
diante. A tradição morta gera a morte e mortos. Ao contrário, precisamos seguir
Aquele que nos faz viver, Aquele que nos diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida” (Jo 14,6). Precisamos crer n’Aquele que nos garante a vida: “Eu
sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá”
(Jo 11,25).
Precisamos olhar com carinho e
seriedade para o nosso modo de viver para descobrirmos nele os hábitos que não
nos fazem crescer ou não nos fazem viver com dignidade e avançar na caminhada
da perfeição cristã. Sabemos que nosso grande problema não é implementar as
coisas novas na nossa cabeça e sim tirar as coisas velhas e mortas de nossa
cabeça. Ao mesmo tempo precisamos olhar para o modo de viver de Jesus para que
sejamos homens acabados como foi ele. “Se queres seguir a Deus, deixa-O ir
adiante. Não queiras que Ele te siga” (Santo Agostinho. In ps. 124,9).
Para estar aberto diante de Deus é preciso
abandonar hábitos negativos, isto é, todos os hábitos ou costumes que não nos
levam à vida plena. Nos ensinamentos de Jesus encontramos o caminho para a
verdadeira vida. Vale a pena encarar todas as dificuldades, pois a vitória está
reservada para quem é perseverante neste caminho (cf. Mt 10,22; Jo 16,33).
P. Vitus Gustama,svd
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