sábado, 21 de junho de 2014

 
VIVER NA FRATERNIDADE BASEADA NO AMOR MÚTUO

Segunda-Feira Da XII Semana Do Tempo Comum
23 de Junho de 2014
 

Evangelho: Mt 7,1-5

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1 “Não julgueis para não serdes julgados. 2 Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, sereis medidos. 3 Por que reparas o cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? 4 Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? 5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.
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O texto do evangelho de hoje pertence ao Sermão da Montanha (Mt 5-7). O Sermão está já na sua conclusão. Nesta conclusão Jesus nos alerta para não julgarmos os outros. Não somos autorizados para julgar e sim somos ordenados para amar (cf. Jo 15,12). Não temos condições para julgar. Somente Deus tem a competência para nos julgar.


“Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, sereis medidos”.


O verbo julgar (em grego, krinein) se utiliza aqui em sentido jurídico e equivale a emitir um juízo condenatório sobre uma pessoa, baseando-se nos defeitos que tem. Quem emite este tipo de juízo rompe a relação com a pessoa ajuizada.


Deus não quer isto. Por isso, Jesus coloca um critério que deve ser usado na comunidade cristã (cf. Mt 18,15-18). Quando um cristão perceber algum defeito no outro, ele precisa fixar olhar para os próprios defeitos porque talvez sejam maiores do que os defeitos do outro: “Por que reparas o cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu?”.  


A analise crítica da própria realidade ajuda o cristão a compreender as fraquezas dos outros em vez de emitir um juízo.  Com a consciência da própria fragilidade, o cristão será movido a compreender e curar a fragilidade do outro. Se não fizer isto é porque este tipo de cristão é hipócrita, isto é, aquele que se acha santo ou perfeito, mas pela emissão do julgamento sobre os outros já revela que é um grande pecador: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.A ignorância mais refinada é a ignorância da própria ignorância”, dizia Santo Agostinho (Confissões, 5,7).  Quanto mais curioso torna-se o homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se torna para consertar a sua própria”, acrescentou Santo Agostinho (Confissões, 10,3).


De qualquer modo, a rigidez e a hipocrisia em julgar são defeitos que podem ser evitadas se um cristão souber fazer a crítica sobre si mesmo. Olhar para a própria consciência e para o próprio modo de viver é algo indispensável para um cristão conviver fraternalmente com os demais. Olhar para a própria casa é a primeira coisa que deve ser feita. Quem fica olhando para a vida alheia é porque não está cuidando da própria vida. A consciência dos próprios limites e debilidades é a medida para uma crítica evangélica. Um verdadeiro cristão jamais adota uma atitude de orgulho, de menosprezo e de superioridade diante dos demais que o leva a uma postura farisaica de condenação e de recriminação dos defeitos dos outros. Precisamos estar conscientes de que o juízo pertence a Deus e não a nós, pobres pecadores.


Resumindo! Há três razões pelas quais não devemos julgar os outros.

·       Primeiramente, o julgamento pertence a Deus e não a nós, pobres pecadores, porque só Deus conhece profundamente o coração de cada ser humano. Constituir-se em juiz dos outros é uma ousadia irresponsável. É uma ousadia de se colocar no lugar de Deus, de se considerar como Deus, de roubar o lugar. Ao julgar, você esta querendo dizer: “Eu sou Deus e você é pecador”.

·        Em segundo lugar, a medida que usarmos com os outros será usada por Deus contra nós no julgamento final, pois a vida tem seu fim.

·       Em terceiro lugar, todos nós somos imperfeitos. Não somos seres humanos; estamos seres humanos. Julgar provém da nossa própria cegueira que nos impede de ver os nossos próprios defeitos. Ao julgarmos os outros estamos querendo dizer que somos melhores do que os outros. Mas na verdade, ao fazer isto, estamos revelando aos outros que somos piores do que imaginamos. O Senhor nos ordena para nos amarmos mutuamente e não nos autoriza para julgar os demais homens.


Deus não quer qualquer rompimento. Por isso, Jesus mostra o caminho que temos que seguir: o caminho do amor e da compreensão. Somente o amor compreensivo cura as feridas da alma. Mas não significa que sejamos omissos diante dos defeitos dos outros. Somos chamados a dirigir palavras amigas ao outro e convidá-lo a mudar ou a se corrigir pelo seu próprio bem. Com a consciência de nossa fragilidade teremos condições para curar ou remediar a fragilidade de nosso próximo. Precisamos aprender a transformar nossas críticas em sugestões para que a convivência fraterna se torne uma ajuda para o mútuo crescimento. 


“Não julgueis para não serdes julgados (por Deus)” deve servir de alerta e de freio para que nossa palavra não ultrapasse nossas obras, pois “com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos”, diz o Senhor para cada um de nós hoje. 

P. Vitus Gustama,svd

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