VIVER NA FRATERNIDADE BASEADA NO AMOR MÚTUO
Segunda-Feira
Da XII Semana Do Tempo Comum
23 de Junho de 2014
Evangelho: Mt 7,1-5
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1 “Não julgueis para não
serdes julgados. 2 Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com
a medida com que medirdes, sereis medidos. 3 Por que reparas o cisco que está
no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? 4 Ou como poderás dizer
ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma
trave no teu? 5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para
tirar o cisco do olho do teu irmão”.
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O texto do evangelho de hoje
pertence ao Sermão da Montanha (Mt 5-7). O Sermão está já na sua conclusão.
Nesta conclusão Jesus nos alerta para não julgarmos os outros. Não somos
autorizados para julgar e sim somos ordenados para amar (cf. Jo 15,12). Não temos
condições para julgar. Somente Deus tem a competência para nos julgar.
“Não julgueis para não serdes
julgados. Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a
medida com que medirdes, sereis medidos”.
O verbo julgar (em grego, krinein) se utiliza aqui em sentido
jurídico e equivale a emitir um juízo condenatório sobre uma pessoa,
baseando-se nos defeitos que tem. Quem emite este tipo de juízo rompe a relação
com a pessoa ajuizada.
Deus não quer isto. Por isso, Jesus
coloca um critério que deve ser usado na comunidade cristã (cf. Mt 18,15-18).
Quando um cristão perceber algum defeito no outro, ele precisa fixar olhar para
os próprios defeitos porque talvez sejam maiores do que os defeitos do outro: “Por que reparas o cisco
que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou
como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu
mesmo tens uma trave no teu?”.
A analise crítica da própria
realidade ajuda o cristão a compreender as fraquezas dos outros em vez de
emitir um juízo. Com a consciência da
própria fragilidade, o cristão será movido a compreender e curar a fragilidade
do outro. Se não fizer isto é porque este tipo de cristão é hipócrita, isto é,
aquele que se acha santo ou perfeito, mas pela emissão do julgamento sobre os
outros já revela que é um grande pecador: “Hipócrita, tira primeiro a trave do
teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”. “A ignorância mais
refinada é a ignorância da própria ignorância”, dizia Santo Agostinho
(Confissões, 5,7). “Quanto mais
curioso torna-se o homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se
torna para consertar a sua própria”, acrescentou Santo Agostinho
(Confissões, 10,3).
De qualquer modo, a rigidez e a
hipocrisia em julgar são defeitos que podem ser evitadas se um cristão souber
fazer a crítica sobre si mesmo. Olhar para a própria consciência e para o
próprio modo de viver é algo indispensável para um cristão conviver
fraternalmente com os demais. Olhar para a própria casa é a primeira coisa que
deve ser feita. Quem fica olhando para a vida alheia é porque não está cuidando
da própria vida. A consciência dos próprios limites e debilidades é a medida
para uma crítica evangélica. Um verdadeiro cristão jamais adota uma atitude de
orgulho, de menosprezo e de superioridade diante dos demais que o leva a uma
postura farisaica de condenação e de recriminação dos defeitos dos outros.
Precisamos estar conscientes de que o juízo pertence a Deus e não a nós, pobres
pecadores.
Resumindo! Há três razões pelas
quais não devemos julgar os outros.
· Primeiramente, o julgamento pertence a
Deus e não a nós, pobres pecadores, porque só Deus conhece profundamente o
coração de cada ser humano. Constituir-se em juiz dos outros é uma ousadia
irresponsável. É uma ousadia de se colocar no lugar de Deus, de se considerar
como Deus, de roubar o lugar. Ao julgar, você esta querendo dizer: “Eu sou Deus
e você é pecador”.
· Em segundo lugar,
a medida que usarmos com os outros será usada por Deus contra nós no julgamento
final, pois a vida tem seu fim.
· Em terceiro lugar, todos nós somos
imperfeitos. Não somos seres humanos; estamos seres humanos. Julgar provém da
nossa própria cegueira que nos impede de ver os nossos próprios defeitos. Ao
julgarmos os outros estamos querendo dizer que somos melhores do que os outros.
Mas na verdade, ao fazer isto, estamos revelando aos outros que somos piores do
que imaginamos. O Senhor nos ordena para nos amarmos mutuamente e não nos
autoriza para julgar os demais homens.
Deus não quer qualquer rompimento. Por
isso, Jesus mostra o caminho que temos que seguir: o caminho do amor e da
compreensão. Somente o amor
compreensivo cura as feridas da alma. Mas não significa que sejamos omissos
diante dos defeitos dos outros. Somos chamados a dirigir palavras amigas ao
outro e convidá-lo a mudar ou a se corrigir pelo seu próprio bem. Com a
consciência de nossa fragilidade teremos condições para curar ou remediar a
fragilidade de nosso próximo. Precisamos aprender a transformar nossas críticas
em sugestões para que a convivência fraterna se torne uma ajuda para o mútuo
crescimento.
“Não julgueis para não serdes
julgados (por Deus)” deve servir de alerta e de freio para que nossa palavra
não ultrapasse nossas obras, pois “com a medida com que tiverdes medido, também
vós sereis medidos”, diz o Senhor para cada um de nós hoje.
P. Vitus Gustama,svd
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