segunda-feira, 2 de junho de 2014

 
SER FATOR DA UNIDADE, DA ALEGRIA, DA SANTIFICAÇAO E DA VERDADE

Quarta-Feira da VII Semana da Páscoa
04 de Junho de 2014
 

Evangelho: Jo 17,11b-19

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos para o céu e rezou, dizendo: 11b“Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um assim como nós somos um. 12 Quando eu estava com eles, guardava-os em teu nome, o nome que me deste. Eu os guardei e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura. 13Agora, eu vou para junto de ti, e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si a minha alegria plenamente realizada. 14Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. 15Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. 16Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. 17Consagra-os na verdade; a tua palavra é verdade. 18Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. 19Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade”.
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O longo discurso de despedida de Jesus (Jo 13-17) termina com uma oração. Lemos neste dia a segunda parte desta oração. A segunda parte da oração de Jesus se centra em três pontos principais: Viver na verdade, viver na unidade e viver no mundo sem ser do mundo.


A Palavra de Deus é verdade. Jesus transmite esta palavra a seus discípulos para que sejam consagrados na verdade: “Consagra-os na verdade: a verdade é a tua Palavra. Assim como Tu Me enviaste ao mundo, Eu também os envio ao mundo. Eu consagro-Me por eles, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade” (Jo 17,17-19). Na Bíblia a verdade é sinônimo de lealdade, fidelidade, firmeza, segurança. Para são João “verdade” significa a realidade divina que consiste no amor sem limite do Pai pela humanidade (cf. Jo 3,16). Toda a atividade de Jesus é a atividade de amor e por isso, a atividade vivificante. Jesus é a Verdade (cf. Jo 14,6) porque nele reside a realidade divina.


Quando Cristo pede ao Pai que consagre seus discípulos na verdade, ele quer dizer com isto que sejam santificados no plano da realidade absoluta, que a vida dos discípulos seja governada no amor e por amor, pois o verdadeiro amor é a realidade divina (1Jo 4,8.16). Para são João os discípulos devem alcançar o mesmo nível da santidade de Deus, já que são colocados por Cristo no mesmo plano de Deus (veja também Mt 5,48); são filhos de adoção eleitos pelo Pai e dados por ele ao Filho. Esta consagração na verdade, este acesso à santidade do Pai deve proporcionar-lhes a plenitude da alegria, a mesma alegria de Cristo: “Agora vou para junto de Ti. Entretanto, continuo a dizer estas coisas neste mundo, para que eles possuam toda a minha alegria” (Jo 17,13). 


“Consagrar” tem o mesmo significado que “santificar”. A idéia cristã de santidade é chamada à transcendência e também separação. Santificar significa eleger e separar. Os que recebem a Verdade ficam santificados, isto é, separados e eleitos para cumprir no mundo e diante do mundo uma missão em nome de Deus. o cristão é um homem como todos os demais, mas é um consagrado de Deus.


Mas os discípulos de Jesus ou os cristãos têm que permanecer na unidade entre eles, como o Pai e o Filho são um: “Pai santo, guarda-os em teu Nome, o Nome que Me deste, para que eles sejam um, assim como Nós somos um” (Jo 17,11b). Este é um tema querido para são João. O tema sobre a unidade será desenvolvido nos próximos versículos (17,21-24). Certamente esta unidade que deve formar os discípulos entre si é a mesma unidade entre o Pai e Jesus. Ao permanecer nesta unidade os cristãos podem permanecer também na verdade, isto é, na realidade eterna absoluta. Santo Agostinho dizia: “Os que vivem em discórdia não louvam o Senhor. E, portanto, tampouco o Senhor os abençoa. Seus lábios desfiam louvores, mas seus corações o maldizem. Quem abandona a unidade se faz desertor da caridade”. O Senhor nos quer fraternalmente unidos pelo amor que procede dele (cf. Jo 15,12). “Guarda-os em Teu Nome”. Aqui “nome” significa pessoa, seu ser, sua presença e seu agir.


“Eles não pertencem ao mundo, como Eu não pertenço ao mundo”. A palavra “mundo” aparece 11 vezes nos vv.11 a 19. Para o evangelista João, como para todo o NT, “mundo”, neste contexto, não se refere a este planeta onde habitamos e sim ao conjunto das três grandes ambições humanas: a ambição inerente à condição humana (concupiscência humana), a ambição dos olhos e a arrogância da fortuna, como afirma o próprio São João na sua primeira Carta: “Porque tudo o que há no mundo — a concupiscência humana, a cobiça dos olhos e a ostentação da riqueza — não vem do Pai, mas do mundo” (1Jo 2,16).  No entanto, os discípulos de Cristo, os cristãos não devem ser puritanos, no sentido de separar-se ou fugir do mundo e sim devem ser puros, no sentido de não deixar-se contaminar pelo ambiente hostil. O cristão deve trabalhar como o fermento: discreto, mas efetivo. É saber-se posicionar como cristão. A presença de um cristão no mundo deve ser uma presença interrogante e profética.


Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo”.  O cristão não é uma pessoa isolada do mundo ou que se afasta do mundo. Sua vocação peculiar e indispensável é estar inserta no mundo onde realizara sua missão profética. Ele é chamado a ser o sal da terra e a luz do mundo (cf. Mt 5,13.14). O mundo é o único cenário onde cada cristão ou cada ser humano decide sua salvação ou sua condenação. A comunidade cristã está no mundo não para se afastar dele e sim para dar testemunho de um caminho de salvação. Este testemunho deve ser verificado em sua opção pelo Deus da vida que se concretiza no serviço aos mais simples e excluídos da sociedade.


Para os presbíteros o que isto significa?  O Concilio Vaticanos II afirma: “Os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados, convivem fraternalmente com os demais homens... Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir aos homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações” (Presbyterorum Ordinis no.3, sobre o Ministério e a Vida dos presbíteros).


Para os leigos: “Uma vez que é próprio do estado dos leigos viverem no meio do mundo e dos negócios seculares, eles próprios são chamados por Deus a exercerem aí o seu apostolado, à maneira de fermento, com entusiasmo e espírito cristão” (Apostolicam Actuositatem no.2, sobre o Apostolado dos Leigos, do Concilio Vaticano II).


Portanto, Jesus pede ao Pai por nós para que não sejamos perdidos neste mundo, sejamos unidos, tenhamos alegria, sejamos preservados do mal e santificados na verdade. O conteúdo dessa oração serve como guia de nossa vida diária. Negativamente podemos dizer que nós cristão não podemos ser causadores da desunião, da tristeza, do escândalo e da falsidade. Fortalecidos por estes dons do Pai podemos ser enviados para o mundo.


Hoje o Senhor nos reúne em torna do Altar para participarmos de sua Vida e de seu Espírito. Através de sua oração o Senhor nos quer fraternalmente unidos pelo amor que procede dele. O Senhor nos quer não somente fraternalmente unidos, mas Ele quer também que trabalhemos constantemente pela unidade, de tal forma que o amor, que procede dele e que habita em nosso coração, nos faça autênticos construtores de unidade e não de divisão. Ele nos ama e quer que sejamos um só rebanho sob um só Pastor, Jesus Cristo. Santificados pela Palavra de Deus somos enviados ao mundo para santificá-lo e não para destruí-lo.
 
P. Vitus Gustama,svd

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