SINCERIDADE E VERACIDADE NO USO DAS PALAVRAS
Sábado da X Semana Comum
14 de Junho de 2014
Evangelho: Mt 5,33-37
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 33 “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás
falso, mas cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. 34 Eu, porém, vos digo:
Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é
o suporte onde apóia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do
Grande Rei. 36 Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes
tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37 Seja o vosso ‘sim’:
‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”.
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Continuamos a acompanhar o Sermão de
Jesus na montanha conhecido como Sermão da Montanha (Mt 5-7). Estamos na seção chamada
de antíteses: “Ouvistes... Porém Eu vos digo...”.
No evangelho de hoje o evangelista
Mateus nos apresenta outra antítese. Desta vez é sobre o juramento. Quando se
pratica o juramento é porque se pratica também a mentira. Se não existisse a
mentira não teria necessidade de fazer juramento.
Era recomendado o cumprimento, com
fidelidade, dos juramentos e dos votos que a Lei exigia (Lv 19,12; Ex 20,7; Nm
30,3; Dt 23,22; Sl 50,4). Jurar significa chamar Deus como testemunha da
verdade dita, pois Deus é verdade (Jo 14,6). Jurar significa fazer de Deus como
garantia da própria vida de quem faz o juramento. Daí o mandamento: ”Não
jurarás falso “. Neste sentido, “juramento”
é o ato que sacraliza ao máximo as relações humanas. O livro de Levítico
acrescenta: “Não jurareis falso em meu nome, porque profanaríeis o nome de
vosso Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19,12; cf. Ml 3,5; Jr 7,9; Zc 5,3; Sb
14,25). Tudo isso quer dizer que a Lei e os Profetas proíbem o juramento falso.
E está claro que Jesus está de acordo.
Mas Jesus vai muito além. Jesus
propõe a exclusão de qualquer tipo de juramento: “Eu, porém, vos digo: Não
jureis de modo algum”. Com o juramento a pessoa abusava, em certa forma, da
autoridade de Deus. Era como querer desculpar a deficiência da veracidade das
próprias palavras e compromissos com a intervenção de Deus. O juramento se
praticava na sociedade pela falta de sinceridade entre os homens.
Na comunidade cristã, onde a
sinceridade é regra (Mt 5,8: limpos de coração), o juramento é
supérfluo; e mais, seria sinal de corrupção das relações humanas. A falta de
sinceridade nasce da ambição, da mentira, da incoerência, da duplicidade e
assim por diante.
Os cristãos, discípulos de Jesus,
devem expressar-se através de uma linguagem sincera e coerente, sem nenhuma
necessidade de recorrer a nenhum outro meio para demonstrar a veracidade de sua
afirmação. “Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que
for além disso vem do Maligno”. O juramento é, então, substituído pela
transparência e a simplicidade ou clareza da linguagem. A palavra do cristão
deve ser sim, quando é sim; e não, quando é não. Trata-se de uma linguagem
veraz, seria e sincera, pois “Tudo o que for além disso vem do Maligno”. Do maligno vem a mentira, as palavras
insinceras, a linguagem dupla e incoerente.
Com as palavras do Evangelho de
hoje Jesus convida o cristão a dar um passo adiante na sinceridade: “Seja o
vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do
maligno”. A mentira e o dolo são incompatíveis com o proceder do cristão. Quem
recorre a expediente deste tipo, renega sua adesão ao Senhor.
Outro objetivo da proibição de
Jesus é evitar a vulgarização de Deus. O juramento falso infringe o mandamento
que proíbe usar em vão do nome de Deus. O cristão autêntico não tem
necessidade, a cada passo, lançar mão deste recurso para que se acredite em sua
palavra. O sim do cristão é sim e o não é não.
Não lhe interessa enganar. Tudo quanto é dito fora destes limites não vem de
Deus. Por isso, tem de ser evitado. Enganar os outros significa deturpar o
sinal da palavra, torná-la sinal de divisão e confusão, em lugar de comunhão e
limpidez. A palavra do cristão deve ser verdadeira, pois ele é o seguidor da
Palavra divina feita carne em Jesus (Jo 1,14). Deus é o dono da minha vida.
Em resumo, para o cristão é
suficiente um sim ou um não. Se isto não é suficiente é porque há algo que vem
do Maligno; é porque não somos puros de coração, não somos verdadeiros discípulos
do Senhor, corremos o risco de nos dirigir a Deus de forma incorreta, de abusar
de Seu nome. Em poucas palavras Jesus aboliu a lei do juramento nas relações interpessoais,
pois o cristão deve falar a verdade.
Ser verdadeiro no falar é uma forma
de imitar o modo de ser de Deus. A religião de Israel era toda baseada na
palavra de Deus. Seria impossível imaginar que Deus quisesse se enganar o seu
povo. Do mesmo modo, seria inimaginável que o cristão abusasse da boa-fé de seu
próximo.
A palavra humana tem um valor por
si mesma. Por isso, é inútil fazer qualquer juramento. Quando Jesus nos
recomenda para não fazer qualquer juramento é porque ele quer que valorizemos a
palavra usada. Ao proibir o juramento Jesus denuncia a mentalidade falsa em
salvar as aparências.
Que o Senhor Jesus nos dê a graça
da sinceridade e da transparência, para que sejamos honestos no relacionamento
com o nosso próximo e com o próprio Deus. E que saibamos usar cada palavra de açodo
com seu sentido. Cada palavra representa uma realidade; cada frase contém várias
realidades encontradas em cada palavra. Que saibamos usar com responsabilidade
cada palavra. Que saibamos ditar ou pronunciar cada palavra de acordo com a
realidade contida na palavra.
P. Vitus Gustama,svd
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