REZAR MELHOR QUEM AMA O
PRÓXIMO
Terça-Feira da VII Semana da Páscoa
03 de Junho de 2014
Evangelho: Jo 17,1-11ª
Naquele tempo, 1Jesus
ergueu os olhos ao céu e disse: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho,
para que o teu Filho te glorifique a ti, 2e, porque lhe deste poder
sobre todo homem, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe confiaste. 3Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e àquele que tu enviaste, Jesus Cristo. 4Eu te
glorifiquei na terra e levei a termo a obra que me deste para fazer. 5E
agora, Pai, glorifica-me junto de ti, com a glória que eu tinha junto de ti
antes que o mundo existisse. 6Manifestei o teu nome aos homens que tu me deste do meio do mundo.
Eram teus, e tu os confiaste a mim, e eles guardaram a tua palavra. 7Agora
eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, 8pois dei-lhes as
palavras que tu me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente
que eu saí de ti e acreditaram que tu me enviaste. 9Eu te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me
deste, porque são teus. 10Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu
é meu. E eu sou glorificado neles. 11aJá não estou no mundo, mas
eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti”.
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Estamos ainda no discurso de
despedida de Jesus dos seus discípulos no Evangelho de João (Jo 13-17). Nos
grandes textos de despedida na Bíblia (cf. Dt 32-33; At 20,17-35), o herói
termina seu discurso por uma prece, hino ou bênção. O evangelho de João segue
esse modelo. Neste sentido Jo 17 é considerado como o ponto alto do discurso da
despedida de Jesus neste evangelho.
Na presença dos discípulos Jesus se
dirige ao Pai na oração. O dialogo de Jesus com o Pai nesta oração de despedida
reflete, em toda a sua amplitude, o desígnio do Pai que motivou o enviou do
filho (Jo 3,16). E Jesus realizou esse
desígnio ao manifestar o Nome para aqueles que o Pai lhe deu. Em outras
palavras, nesta oração Jesus fala do cumprimento de sua missão que consiste em
manifestar o nome de Deus aos homens, em transmitir-lhes a Palavra de Deus que
tem como resultado a fé em Deus. Depois que cumpriu sua missão e parte
visivelmente, Cristo deixa para a comunidade eclesial como “sacramento”, sinal
eficaz de sua presença salvadora.
Agora chegaram a “hora” e a
“glória” de Jesus (é uma forma de dizer a morte e a glorificação/ressurreição
de Jesus). Os conceitos “hora” e “glória” têm em João (Quarto Evangelho) uma
grande densidade. Trata-se do momento em que se manifestará mais palpavelmente
a salvação, a vida divina que se oferece aos homens: a entrega obediente de
Cristo à morte, Sua Ressurreição e Sua volta para a glória do Pai. Nesta “hora”
pascal acontece quando Cristo participa mais plenamente da “glória” de Deus. E
esta mesma “hora” pascal vai continuar ou vai acontecer também com os cristãos,
se eles sofrerem por ser cristãos, seguidores de Cisto.
Jesus, que está para voltar ao Pai
(morte), reza pelos seus que estão ainda no mundo para que também realizem o
desígnio do Pai: “Eu
te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque
são teus. Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. E eu sou glorificado
neles. Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto eu vou
para junto de ti”. Nesta
oração, Jesus, o Intercessor divino junto ao Pai e a comunidade cristã se
entrelaçam como uma unidade espiritual.
Na sua oração que concluiu seu
discurso, Jesus interpreta sua morte como passo para a vida, como um momento de
glorificação, e seu aparente fracasso é considerado como o verdadeiro êxito.
Jesus manifesta em sua oração uma confiança inquebrantável no Pai e um amor
entranhável para seus discípulos, e uma esperança que sabe se sobrepor, e
ninguém pode dominá-Lo. Jesus é livre e libertador. Somente quem é livre pode
libertar os outros. Quem foge é porque não está livre.
A oração é sempre uma práxis de
libertação, porque orar é recorrer ao Pai sem esquecer-se dos homens, nossos
irmãos; orar é abrir-se ao Outro e conseqüentemente, a qualquer outro; orar é
libertar-se do egoísmo para o amor, pois o outro é evado conosco na oração.
Quem entra em oração está em comunhão com Deus. E quem está em comunhão com
Deus, está em ligação com os demais homens. A comunidade que ama é a comunidade
que reza melhor. Uma pessoa que ama é a pessoa que reza melhor. Depois da
ascensão de Jesus ao céu, a pequena comunidade de seus discípulos se reúne em
oração (Lc 24,50-53). A Igreja aprende na oração o caminho da liberdade e é uma
das expressões da liberdade. Orar é estar em comunhão amorosa com Deus, pois
Ele é o Pai de todos (cf. Jo 20,17). Quem ora, acredita e quem acredita,
precisa orar
Na sua oração Jesus roga,
primeiramente por si mesmo, para que se realize plenamente a missão que lhe foi
confiada (vv. 1-5). Por seis vezes Jesus repete a palavra “Pai” na oração.
Neste sentido, a palavra “Pai” é um nome que qualifica Deus como origem, da
qual tudo provem como dom, amor e proteção e por isso, a salvação. Jesus se
sente inteiramente Filho e quer continuar vivendo esses momentos
transcendentais de sua vida a partir de seu ser de Filho. Por isso, diante de
sua morte iminente Jesus está completamente tranqüilo, pois ele sabe de sua
vitoria sobre o mundo (cf. Jo 16,33).
Com esta oração Jesus nos ensina
que o caminho da glorificação é a obediência aos mandamentos de Deus que se
resumem na vivência do amor fraterno. Na cruz o amor de Deus por nós aparece em
toda sua plenitude, seu esplendor e sua força vitoriosa. Só o amor justifica a
cruz. Por isso, não é o poder que há no mundo e que normalmente se transforma
em opressão e domínio de uns homens sobre outros que reina, e sim o
poder-serviço (Jo 13,12-17) que surge do amor e se manifesta em obras em favor
dos homens, o poder que brota do coração e cria comunidade de irmãos. O amor
sempre resulta na formação de uma comunidade de irmãos. Sem amor não haverá
comunidade e não haverá a salvação. No amor praticado em me vejo no outro. No
verdadeiro amor eu sou o outro e o outro é eu próprio. Todos nós somos um.
Nesta oração Jesus pede: “A vida
eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e àquele que
tu enviaste, Jesus Cristo”. Aqui não se trata de um conhecimento
intelectual e sim experiencial, imediato, pessoal e vital; um conhecimento que
só pode ser adquirido na intimidade do amor; é um conhecimento que é vida.
Neste sentido, conhecer Deus, plenitude de vida para sempre, se identifica com
a vida eterna. Deus é o verdadeiro presente e futuro do homem, pois não há nada
no mundo que possa encher e preencher seu coração. Conhecer Jesus significa
imitar seu modo de viver, tê-lo como único modelo a seguir. Nesse seguimento,
encarnado na vida diária, vamos conhecendo o único Deus: na completa entrega a
Ele, demonstrada no serviço-amor aos que nos rodeiam.
Neste texto Jesus reza por nós
todos e tenhamos consciência da força dessa oração: “Eu te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas
por aqueles que me deste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu e tudo o que
é teu é meu. E eu sou glorificado neles. Já não estou no mundo, mas eles
permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti”. O
Senhor reza por mim; Ele reza por nós. É a grande notícia para nós todos! Eu
preciso continuar minha luta pela dignidade dos meus irmãos em Cristo, pois há
alguém que reza por mim: o próprio Senhor Jesus Cristo.
P. Vitus Gustama,svd
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