SER SAL E LUZ DO MUNDO
Terça-Feira Da X Semana
Do Tempo Comum
10 de Junho de 2014
Evangelho: Mt 5,13-16
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 13 “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar
insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser
jogado fora e ser pisado pelos homens.14 Vós sois a luz do mundo. Não
pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. 15 Ninguém
acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro,
onde ela brilha para todos os que estão em casa. 16 Assim também brilhe
a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o
vosso Pai que está nos céus”.
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1. Vós Sois O Sal Da Terra
Na cultura bíblica o sal é
polivalente e tem uma grande função. Ele tempera e conserva os alimentos (Jó
6,6). Ele purifica a água para torná-la potável ou sadia (2Rs 2,19-23). O sal
se usava nos pactos como símbolo de sua firmeza e permanência. Por isso, “uma
aliança de sal” é uma aliança inviolável (Nm 18,19;2Cr 13,15). Para o povo
antigo, o sal também simbolizava a amizade. Por isso, a expressão “comer sal
com alguém” significava concluir amizade.
No AT, prescrevia-se que tudo o que se oferecesse a Deus devia estar
condimentado com sal para significar o desejo de que a oferenda fosse
agradável, principalmente como sinal da permanência da aliança (Lv 2,13). A
criança recém-nascida é esfregada com sal não por motivo higiênico, e sim religioso
(Ez 16,4). Além disso, nos tempos
antigos, derramava-se sal no terreno inimigo para torná-lo estéril (Jz 9,45;
cf. Dt 29,22;Sf 2,9). O sal também é o símbolo
de sabedoria e de pureza moral. E não é em vão que nas línguas latinas
os vocábulos sabor, saber e sabedoria pertencem à mesma raiz semântica e
família lingüística. Uma pessoa sem sal é uma pessoa pouco agradável, sem
conteúdo. Uma pessoa- sal é aquela que tem muito sabedoria, uma pessoa sensata.
No árabe popular, a expressão “homens salgados” designa homens virtuosos,
piedosos.
“Vós sois o sal da terra”, diz Jesus
aos discípulos. A “terra” aqui é a humanidade inteira, o mundo habitado (cf. Mt
9,6;10,34;12,42;24,30). Acentua-se, assim, o tema querido por Mt da
universalidade da missão. Os discípulos de Jesus são o sal que assegura a
aliança de Deus com a humanidade (terra) e como o sal é firme e permanente na
comida, os discípulos devem ser fiéis ao programa de Jesus. A missão dos
discípulos é dar um sentido mais alto a todos os valores humanos, evitar a
corrupção, trazer com as suas palavras a sabedoria aos homens. O discípulo é
aquele que consegue dar sabor e sentido a tudo aquilo que acontece, difunde uma
palavra de sabedoria onde existe dor, e semeia bondade e amor onde existe ódio
e rancor. Com a sua presença o discípulo impede que a humanidade se corrompa,
não permite que a sociedade seja conduzida por princípios perversos, apodreça e
descambe para a ruína.
"Se o
sal torna-se insípido... Não serve mais
para nada: joga-se fora e é pisado pelas pessoas”. O povo antigo costumava colocar uma placa de
sal nas fornalhas de terra como substância capaz de catalisar o calor. Com o
tempo a placa formada por sal ia perdendo sua capacidade catalisadora e então
era descartada (nota-se que o texto não diz que o sal perde seu sabor, e sim se desvirtua, pois quimicamente o sal
não pode perder seu sabor). Assim acontece com cada discípulo de Jesus. Se
aqueles que se chamam cristãos/discípulos de Jesus não forem fiéis aos
ensinamentos de Jesus, ao espírito das bem-aventuranças, sem dúvida, merecerão
o desprezo dos homens cuja libertação deviam ter colaborado (veja Mt 7,26), e
eles serão inúteis, inclusive perigosos e odiosos para os homens. A
impropriedade da imagem serve, então, para sublinhar a gravidade daquilo que
acontecerá com os discípulos caso eles não vivam segundo o espírito das
bem-aventuranças. Uma comunidade ou um
discípulo que, em sua prática, trai a mensagem evangélica perde a razão de
existir. A comunidade de discípulos perderá sua identidade como sal, se ela
parar de viver no mundo. Consequentemente, o mundo que os discípulos buscam
salvar, acabam o destruindo.
2.
Vós sois a Luz Do mundo
No AT, Deus é o Criador da luz. Ao
criar a luz e dividir o tempo entre luz e trevas, Deus acabou com o primitivo
estado de caos (Gn 1,3). A luz é criada por Deus, por isso, ela é um sinal que
manifesta visivelmente alguma coisa de Deus. Em outras palavras, a luz é o
reflexo da glória de Deus. O Sl 104,2 descreve a luz como vestimenta em que
Deus se envolve. Como luz, quando Deus aparece, seu esplendor é semelhante ao
dia e das suas mãos saem raios (Hab 3,3s). A luz é, então, a glória ou
esplendor de Deus.
No NT a luz é reflexo da divindade.
A nuvem luminosa na transfiguração mostra a presença de Deus (Mt 17,5). Deus
habita em luz inacessível (1Tm 6,16). Deus é luz(1Jo 1,5). E quem obedece aos
seus mandamentos andam na luz (1Jo 1,7). A luz de Deus é vista em Jesus, que é
a luz do mundo (Jo 3,19;8,12;9,5;12,35s.46). Jesus é a luz que ilumina todo homem
(Jo 1,9) por meio da vida que ele tem dentro de si (Jo 1,4) e brilha para os homens
(1Jo 2,8-10). Jesus é também a luz para guiar os pagãos (Lc 2,32). O cristão
através de sua participação na luz e na vida de Deus por meio de Jesus,
transforma-se em instrumento de luz para aqueles que se acham nas trevas.
“Vós sois a luz do mundo”, diz Jesus aos
discípulos. Os discípulos são chamados e enviados para orientar e indicar o
caminho no meio da escuridão. A finalidade da missão dos discípulos é a de
levar os homens a reconhecerem o Pai. E esse Pai se revela na existência
operativa dos que fazem a sua vontade.
Imitando Deus, Pai, no amor por todos, até pelos inimigos, os discípulos
se tornam a verdadeira luz para o mundo. Chamados a tornar-se “a luz do mundo”,
os discípulos devem fazer tudo para garantir a continuidade da missão de Jesus.
Essa luz há de ser percebida: a comunidade cristã e cada cristão não se podem
esconder nem viver cerrados em si mesmos. A glória de Deus não mais se
manifesta no texto da Lei nem no lugar do templo, mas no modo de agir dos que
seguem Jesus. Os discípulos são a luz do mundo à medida que são os reflexos
autênticos da vida e do ensinamento de seu Mestre Jesus, e não como os
vaga-lumes que só piscam de vez em quando. Os cristãos devem estar bem visíveis
e brilhar todos os que se aproximarem deles ou todos os que conviverem com
eles. Apesar disso, eles não podem praticar as boas obras para chamar a atenção
sobre si, para ser admirados e elogiados. Não é para eles que os homens devem
olhar, mas para Deus de Bondade, fonte de todas as boas obras. Os discípulos devem
permanecer discretos, pois se a luz bate diretamente nos olhos, somente
prejudica, incomoda, irrita e cega.
Sal e luz são duas coisas que devem
ser bem dosadas. O sal dá sabor ao alimento, mas quando excessivo tira-lhe o
sabor e faz o paladar provar apenas o dissabor do sal. Acontece mesma coisa com
a luz. Precisamos da luz como um dos elementos da sobrevivência. Mas quando a
luz é excessiva, pode até cegar, eliminando a capacidade de visão dos olhos. A
prática da religião, das virtudes e o bom exemplo, quando mal dosada, pode
causar efeito contrário. Se praticarmos as virtudes para criticar os que não as
têm e querendo que os outros sejam como nós, nasce, então, a aversão e ainda
impede os outros de serem melhores. Mas se as pessoas virem a nossa fé
religiosa e a nossa conduta orientadas para a fraternidade e o amor,
reconhecer-nos-ão como portadores da luz de Cristo e glorificarão o Pai.
Por
isso, devemos nos perguntar se os outros, os colegas, os nossos familiares, ao
perceberem as nossas boas obras e vêem nelas a luz de Cristo, os levam a
glorificar a Deus e os levam a praticar as mesmas? Quem crê verdadeiramente em
Jesus se converte em luz para si mesmo e para os outros.
P.Vitus Gustama,SVD
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