UNIDADE NA FÉ E NO AMOR
É PRIMORDIAL PARA O TESTEMUNHO CRISTÃO
Quinta-Feira da VII Semana da Páscoa
05 de Junho de 2014
Evangelho: Jo 17,20-26
Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos
ao céu e rezou, dizendo: 20“Pai santo, eu não te rogo somente por
eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; 21para
que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles
estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. 22Eu
dei-lhes a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: 23eu
neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo
reconheça que tu me enviaste e os amaste, como me amaste a mim. 24Pai,
aqueles que me deste, quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles
contemplem a minha glória, glória que tu me deste porque me amaste antes da
fundação do universo. 25Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu
te conheci, e estes também conheceram que tu me enviaste. 26Eu lhes fiz conhecer o teu nome, e o tornarei conhecido ainda
mais, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles”.
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Nesta oração Jesus se lembra dos
futuros cristãos: “Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por
aqueles que vão crer em mim pela sua palavra”. Os discípulos da primeira geração
receberam direitamente a palavra ou os ensinamentos do próprio Jesus. Eles
aceitam e acreditam nos ensinamentos de Jesus e por isso passam a fazer parte
da missão de Jesus: “Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei
ao mundo” (Jo 17,18).
A palavra dada ou passada para os
discípulos da primeira geração continua a atuar no mundo através de outras
gerações, fruto da missão dos primeiros discípulos. E sempre haverá pessoas que
pelo testemunho dos cristãos (testemunho e anúncio) passam a acreditar em
Jesus, como o Salvador do mundo. Para estas pessoas é que Jesus rezou. Neste
sentido nós éramos objeto de oração de Jesus. Quem bom que Jesus rezou por nós.
Que bom que Jesus pensava em nós. Isso nos dá força e ânimo para continuar
nossa missão como cristãos que atuamos como a luz do mundo e o sal da terra
(cf. Mt 5,13-14).
Na sua oração Jesus tem em vista a
Igreja de todos os tempos. Neste contexto, quando Jesus rezou: “Para que todos
sejam um” podemos entender este “todos” na sua dimensão de tempo e espaço. A
unidade na fé como questão primordial faz uma ligação profunda entre a Igreja
cristã primitiva com a Igreja de todos os tempos e lugares. A fé no mesmo Senhor
é que torna crível qualquer comunidade que usa o nome “cristão” diante do
mundo.
O centro da oração de Jesus é a
súplica pela unidade dos discípulos. E tem seu princípio e modelo na união
entre o Pai e o Filho e tem seu objetivo e finalidade: dar testemunho de Jesus
e ajudar a crer. A comunidade somente pode alcançar a unidade se ela permanecer
na união com Jesus. Quem não está unido a Cristo, cria divisão dentro de si
próprio e entre as pessoas. A unidade da comunidade é condição prévia para a
união com o Pai e Jesus. Conseqüentemente, a unidade dos cristãos é o sinal
vivo da unidade de Cristo com seu Pai.
Além disso, a unidade é a expressão
e a prova mais evidente do amor. Porque esta unidade pela qual Jesus suplica ao
Pai somente é possível quando os membros da comunidade se amam de tal maneira
que cada um se entrega aos demais sem limite. Aqueles que não amam não podem
ter conhecimento e um trato verdadeiro com Deus. Por isso, é essencial recordar
que a comunhão com Jesus é impossível sem o amor fraterno. Assim como o amor
fraterno cria unidade, assim a comunhão com Jesus deve criar a comunhão entre
os cristãos.
A unidade perfeita é o único
argumento capaz de convencer a humanidade. Santo Agostinho dizia: “Quem abandona a unidade faz-se
desertor da caridade. E se deserta da caridade, mesmo que possua tudo o mais,
se reduz a nada” (Serm. 88,18,21). Conseqüentemente, o cristão
deixará de ser pessoa crível. “A soberba gera a divisão. A caridade, a
comunhão”, acrescentou Santo Agostinho. (Serm. 46,18). Se for assim,
conseqüentemente, o cristão deixará de ser pessoa crível no mundo (cf. Mt
5,13bc). A «divisão contradiz
abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também
prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura ».
(Unitatis Redintegratio,1 do Concilio Vaticano II)
Esta unidade, efeito visível de um
amor incondicional, se manifesta num serviço que chega até o dom da própria
vida. Este amor-unidade vivido na comunidade provocará a fé do mundo. Quem ama
tende a transformar-se no amado. O amor leva a querer estar sempre juntos. O amor supõe uma participação. Por isso,
podemos nos aproximar de Deus pela experiência humana do amor e da unidade.
Toda mensagem cristã perde todo seu valor se prescindir do amor. A unidade da
comunidade não é em primeiro lugar um problema de organização, ou um problema
social, e sim uma realidade espiritual. São Paulo enfatiza bastante este
aspecto espiritual ao dizer: “Sede humildes, pacíficos, pacientes,
suportai-vos mutuamente no amor, procurai conservar a unidade do espírito
pelos laços da paz. Um corpo e um espírito, como vos foi dada
uma esperança comum pela vossa vocação, um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus
e Pai de todos que está acima de todos e em todos” (Ef 4,3-6).
Conseqüentemente, a própria
comunidade cristã não é a garantia para a unidade, no sentido de que a
comunidade cristã não é a fonte da unidade. Somente pela união constante com
Jesus é que a comunidade cristã pode alcançar a unidade entre seus membros e
testemunhá-la para o mundo. Isto significa que a unidade é uma dádiva de Cristo
presente na comunidade. Santo Inácio de Antioquia escreveu: “O
Senhor adverte e diz: ‘Quem não está comigo, está contra mim, e quem não ajunta
comigo, dispersa’. Quem quebra a paz e a unidade de Cristo, age contra Cristo;
quem de qualquer maneira procura ajuntar fora da Igreja, divide a Igreja de
Cristo... Quem não mantém esta unidade, não obedece à lei de Deus, não mantém a
fé em Deus, no Pai e no Filho, não mantém a vida e a salvação” (A
unidade da Igreja católica, cap. 6). Na Bíblia o verbo “unir”/“reunir” é
sinônimo de “salvar”. Tanto que a missão de Cristo como Bom pastor é reunir os
homens em “um só rebanho”, isto é, um só Povo de Deus (cf. Jo 10,14-16).
Então, Verdade, Unidade e Amor são
três palavras que, segundo o evangelista João na oração neste capitulo 17,
sintetizam a missão e a tarefa da comunidade cristã e de cada cristão no mundo.
A autêntica oração cristã que é um abrir-se à vontade de Deus não é somente um
pedido e sim uma oferenda, consagração e resposta. O cristão existe para os
demais: para aproximar-se dos demais, para unir, para dialogar, para servir,
para libertar, para trabalhar no grande projeto de salvação que não é dos
cristãos e sim de Deus.
A última petição de Jesus por todos
os cristãos, seus discípulos é que estes estejam um dia com ele no céu: “Pai,
quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a
minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo”. Equivale a pedir para eles a vida
definitiva. Para sermos cidadãos do céu
temos que viver na terra na verdade, na unidade e no amor.
Em cada celebração, em cada
Eucaristia celebrada temos que pedir o perdão ao Senhor pela divisões e
desunião que criamos dentro da Igreja do Senhor. Se o Senhor rezou tanto pela
unidade dos cristãos, temos rezar pela mesma e procurar sempre a reconciliação.
“Pouco importa quanto fazes tu, o que importa é
quanto amas. A medida do amor é o amor sem medida. Quando se enfraquece o amor,
também se enfraquece o fervor” (Santo Agostinho).
P. Vitus Gustama,svd
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