TEMPO DE AMAR E DE SERVIR
“Tu, segue-me!”
Sábado da VII Semana da Páscoa
07 de Junho de 2014
Leitura: At 28,16-20.30-31; Jo 21, 20-25
Naquele tempo, 20 Pedro
virou-se e viu atrás de si aquele outro discípulo que Jesus amava, o mesmo que
se reclinara sobre o peito de Jesus durante a ceia e lhe perguntara: “Senhor,
quem é que te vai entregar?” 21 Quando Pedro viu aquele discípulo,
perguntou a Jesus: “Senhor, o que vai ser deste?”. 22 Jesus respondeu: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha,
que te importa isso? Tu, segue-me!” 23Então, correu entre os
discípulos a notícia de que aquele discípulo não morreria. Jesus não disse que
ele não morreria, mas apenas: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha,
que te importa?” 24Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as
escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Jesus fez
ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não
caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos.
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Terminamos o Tempo pascal com a
festa de Pentecostes neste fim de semana; o tempo dos cinqüenta dias da
celebração gozosa da ressurreição do Senhor. A primeira conseqüência da fé na
ressurreição de Jesus é o começo de nossa missão, de nosso seguimento: “Tu,
segue-me!”. É seguir tudo que Jesus ordenou a fazer (Mt 28,20). É o tempo de
viver com sentido, pois, com a ressurreição do Senhor, a vida não acaba na
história, mas permanece eternamente, pois o Deus em quem acreditamos é o Deus
da vida e que esse Deus põe a vida onde o homem põe a morte e que a morte tem
seu contrapeso: a ressurreição. É o tempo de começarmos a acreditar e a viver
como pessoas ressuscitadas antecipadamente, pois o próprio Senhor nos garante:
“Quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). É o tempo de
anunciarmos ao mundo o Evangelho de amor misericordioso de Deus por todos os
seres humanos, o amor levado até a morte de Cristo na cruz. Quem vive no amor
fraterno não pára de existir, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo
4,8.16). Jesus histórico não está presente fisicamente na história. No lugar
dele está cada cristão. Cada cristão deve ser “sacramento” de Jesus na terra.
Cada cristão deve servir como sinal ou seta que sempre aponta para Cristo.
As leituras deste dia nos apresentam
as conclusões do evangelho de João e do livro dos Atos dos Apóstolos. São
conclusões abertas, isto é, os cristãos têm, daqui para a frente, a tarefa de
continuarem o trabalho de evangelização.
A última passagem dos Atos dos
Apóstolos que lemos hoje resume os dois anos que Paulo esteve em Roma em seu
primeiro cativeiro. Ele se torna um prisioneiro, mas quando se trata de
evangelização ele defende com inteligência para que a Palavra de Deus não fique
encadeada. Ele pode ficar preso, mas jamais ele deixa a Palavra de Deus ficar
presa. A fé inquebrável que tem em Jesus lhe move em todo momento e dá sentido
a toda sua atuação. É um verdadeiro apostolo incansável. Através da Segunda
Carta ao Timóteo ele nos dá o seguinte conselho: “Toda Escritura é inspirada
por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa
obra... (Por isso), proclama a Palavra, insiste, no tempo oportuno e no
importuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina” (2Tm
3,16-17; 4,2). Não há tempo certo para evangelizar, tem que ser o tempo todo. São
Filipe Neri dizia: “Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso
próximo, não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço”. O cristão
deve saber aproveitar cada momento para evangelizar, para partilhar o que é bom
para os outros ao seu redor para que o número de pessoas de bem se multiplique.
E nos versículos anteriores do texto
do evangelho lido neste dia, Pedro havia recebido uma insinuação de Jesus sobre
o seu futuro pessoal: seria pelo martírio. A partir desta insinuação de Jesus,
Pedro entrou em curiosidade para saber o futuro de João, seu companheiro:
“Senhor, o que vai ser deste?”. Com isto Pedro caiu em tentação de saber do
futuro dos demais, descuidando assim de seu papel de evangelizador. Quem fica
olhando para a vida alheia acaba não cuidando da própria vida.
Por isso, a resposta de Jesus a
Pedro sobre o destino de João é sábia. Jesus não revela a Pedro o destino de
João. Desta maneira, Pedro deve se preocupar o amor, o serviço, e a ajuda
diária que há que prestar para os irmãos sem saber o caminho que a história vai
tomar. Viver no amor e por amor é a melhor maneira de viver na incerteza do
tempo. Mario Quintana nos relembra:
“Esta vida é uma estranha
hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas
estão prontas. E a nossa conta nunca está em dia”. A incerteza da história dá espaço para a
certeza de Deus. Como diz a Carta aos Hebreus: “A fé é uma certeza a
respeito do que não se vê” (11,1).
Como Pedro, muitas vezes, nós caímos
na tentação de saber demais da vida alheia. Uma curiosidade sem freio sempre
termina no abismo, na destruição da vida alheia, na criação do ambiente pesado,
na convivência de mútua suspeita. Quem fica curioso demais sobre a vida alheia
é porque não está cuidando da própria vida. Em última analise, é porque a
própria vida não está bem. Por isso, precisamos ouvir repetidas vezes o que o
Senhor nos diz hoje: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te
importa? Tu, segue-me” (Jo 21,22). Segundo Jesus, o discípulo amado não é
menos discípulo nem menos seguidor de Jesus que Pedro. Há diferentes maneiras
de seguir Jesus. Há várias vocações para viver os ensinamentos de Jesus. O
importante é o imperativo de Jesus: “Tu, segue-me!”. O importante é seguir a
Jesus vivendo seus ensinamentos. A maneira para segui-Lo pode ser diferente.
Seguir Jesus é viver aquilo que Ele
viveu e fazer aquilo que ele fez. Ele fez tudo com amor e por amor para que
todos pudessem conviver na paz e na fraternidade e alcançar a salvação. Isto é
a evangelização. O cristão não pode perder nenhum tempo para não enterrar
nenhuma oportunidade. Quem não valorizar o tempo, vai enterrar muitas
oportunidades na vida. É preciso seguir
a Jesus em todas as circunstâncias de nossa vida. É preciso amar e servir. O
amor e o serviço são inseparáveis no seguimento. É necessário servir com amor e
amar através do serviço.
“Tu, segue-me!”. Esta frase é dirigida
por Jesus a cada um de nós. A Igreja, que somos nós, tem obrigação de fazer
Cristo próximo das pessoas. Por meio de cada cristão, de cada um de nós o mundo
deve continuar a escutar Cristo. Através de cada um de nós Cristo deve
continuar tocando a vida das pessoas ao nosso redor. Para isso, cada um de nós
deve estar preparado para o contrário, pois muitos querem apagar a voz do
enviado e querem acabar com a vida da testemunha de Cristo. Duas colunas da
Igreja, Pedro e Paulo, foram martirizados em nome de Jesus e de seus
ensinamentos. Não tenhamos medo, pois o Senhor quer que sejamos testemunhas de
seu amor, de sua graça e de sua misericórdia. Tudo isso deve gerar uma autêntica
conversão naqueles que escutam Cristo por meio de cada um de nós, em
particular, e por meio da Igreja, em geral. “Tu, segue-me!”.
P. Vitus Gustama,svd
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