08 de Junho de 2014
Celebramos neste domingo a festa
de Pentecostes , festa
do Espírito Santo .
Pentecostes ou
“festa das semanas ”
era a festa
israelita celebrada sete
semanas depois
da Páscoa , quando
terminava a colheita (Ex 34,22; Nm 28,26). Em alguns ambientes sacerdotais, já
no século II a .C a antiga
festa agrícola
de pentecostes tinha
assumido um significado
novo : era a festa comemorativa da aliança
no Sinai onde Deus
se manifestou culminando com a constituição do povo
de Deus sobre
a base de decálogo .
A acolhida da Lei é a condição de vida
para a comunidade
renovada e santa .
Ao afirmar
que O Espírito
Santo tinha
descido sobre os discípulos
justamente no dia
de Pentecostes , Lucas nos quis ensinar só uma coisa : que o Espírito Santo tinha
substituído a Lei antiga
e ele
se tornara a nova Lei
para os cristãos .
Qual é a Lei
do Espírito Santo
? É o coração novo ,
é a vida de Deus
que , quando
penetra no ser humano o transforma e produz naturalmente
as obras de Deus .
Quando o homem
é permeado pelo Espírito
Santo , nele acontece algo inaudito : ama com o mesmo amor de Deus . João chega
até a dizer que o homem animado pelo Espírito Santo
é simplesmente incapaz
de pecar : “Todo
aquele que
nasceu de Deus não
comete pecado , porque
sua semente
permanece nele; ele não
pode pecar porque
nasceu de Deus ”(1Jo 3,9).
A narrativa
da vinda do Espírito
Santo nos
Atos dos Apóstolos
(At 2,1-11) é muito simples .
Os discípulos de Jesus estão reunidos
numa sala . Do céu
vem um barulho ,
como de forte
vendaval , e enche a casa .
Aparecem línguas de fogo ,
que pousam sobre
cada um .
Esses elementos :
barulho , vento
e fogo , são
típicos das manifestações
de Deus . Significam que
Deus está agindo.
O fato
de tudo isso
vir “do céu ”
indica o dom de Deus ,
isto é, o Espírito
Santo não
é uma invenção dos cristãos ,
mas um
dom que
lhes foi dado ,
conforme a promessa
de Jesus(Jo 14,15-17). O ES não é um produto da sugestão humana .
Ele é uma força
irresistível que
foge ao controle e às manipulações humanas. Ele
sopra para onde quer (cf.
Jo 3,8)
O que
significa que o ES é um Dom ?
O fato
de o ES se manifestar simbolicamente como “línguas
de fogo ” nos
leva diretamente
ao seu significado
que o dom
do ES não é para
a edificação pessoal ,
mas para a comunicação , e concretamente ,
para a comunicação
da “boa notícia ” do Evangelho ,
que transforma as relações
e faz surgir a fraternidade
e a partilha que podem proporcionar
liberdade e vida
para todos .
O efeito
do dom do ES ou
a ação interior
e transformadora do ES torna-se externamente
uma nova capacidade
de comunicação : conforme
o texto (At 1,4) “começaram a falar outras línguas ”.
Mas não
se trata do fenômeno
como falar em línguas que ninguém
compreende. Falar em
línguas incompreensíveis
não comunica nada
a ninguém . A linguagem
foi feita para produzir comunicação
entre as pessoas .
Trata-se aqui claramente ,
do horizonte universal
e ecumênico do novo
povo mobilizado pela
força unificante do ES. Poder-se-ia ver neste elenco de povos , reunidos para escutar a voz do ES
na própria língua
nativa , uma referência
à dispersão dos povos
e à confusão das línguas
depois de Babel (Gn
11,1-9). A humanidade , dispersa e dividida depois
da tentativa de construir
um imperialismo
religioso- político , é reunida pela força do
ES que unifica os diferentes
grupos humanos ,
respeitando e promovendo as características
culturais, das quais a língua é expressão .
Nem a força
ou a repressão ,
nem a planificação econômica
ou política
podem assegurar a unidade
dos povos ou
dos grupos , mas
sim o poder interior do ES, que
promove com a liberdade
e o amor novas
relações e cria
espaços alternativos
de comunicação .
O ES produz unidade ,
ao mesmo tempo ,
promove diferentes maneiras
de servir (1Cor
12,3-7.12-13). Ele é a força criadora de diferenças
e de comunhão entre
as diferenças . É ele
que suscita entre
as pessoas os mais
diversos dons
e nas comunidades os mais diferentes
serviços e ministérios ,
como se ensina
nas cartas aos Romanos
(Rm 12) e aos Coríntios (12). Mas esta diversidade não
decai em desigualdades e discriminações porque
bebemos da mesma fonte
que é o Espírito
Santo (1Cor
12,13). Os dons não
são dados
para a autopromoção, mas
para o bem da comunidade (1Cor
12,7). O Espírito Santo
interfere para melhorar
e não para atrapalhar a comunicação
da Igreja de Jesus Cristo .
A comunidade fundada em Pentecostes (no
Espírito Santo )
é um lugar
de diálogo , de encontro ,
de comunicação , de unidade
(não necessariamente uniformidade), de acolhimento . O erro não está em
sermos diferentes . O erro
está em sermos divididos. A comunidade nascida em Pentecostes não é o lugar
da lei que
mata , mas é o
lugar do Espírito
Santo , isto
é, o lugar da abertura
e da vida , do reconhecimento
e do despertar , o lugar
de uma libertação fundada no amor . O amor é
o caminho para
Deus , o único
carisma realmente
imprescindível na vida
cristã, o carisma que
jamais cessará.
O ES habita os corações
das pessoas (1Cor
3,16), dando-lhes entusiasmo , coragem e determinação .
Ele consola
os aflitos e mantém viva
a esperança . Ele
nos consola ,
exorta e ensina como
as mães fazem junto
a seus filhinhos (Jo 14,26;16,13).
A bondade é fruto
do ES. A bondade é um
reflexo da atitude
divina . Ela
é a prerrogativa daquele que se compraz em
fazer por primeiro o bem , em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor . Ela é
uma qualidade criativa (tudo que Deus criou era bom . cf. Gn 1). Nossa
bondade é nada
mais que
uma participação, no ES, da característica divina , e por isso , é bela , criativa , fascinante ,
capaz de suscitar
uma sociedade nova .
Nenhum coração
resiste diante da bondade .
Se a bondade é fruto
do ES, então , ela
é um dom
a ser invocado ,
a ser implorado, dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e
reconhecimento .
O domínio
de si ou
autocontrole , que
é outro fruto
do ES, está muito ligado à moderação. É
uma atitude que
exige de si o respeito
pelo outro ,
mantendo sob controle
os próprios sentimentos
ou instintos
de poder e de prevaricação, de ser
oportunista diante
da fragilidade do outro .
O autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física , verbal
e moral nos
relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia ;
evita a busca da própria
vantagem , do próprio
prazer em prejuízo da dignidade
ou do interesse
de alguém . É uma virtude
social fundamental .
A cortesia é outro
fruto do ES. Ela
é a atitude de Deus
em relação
ao homem , o modo
com o qual
o Senhor se comporta
conosco , segundo
o que Jesus diz: “Ele
é benévolo (chrestós) para
os ingratos e para
os maus ”(cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher , de ir ao encontro do outro
fazendo-o sentir que
é bem-vindo , esperado, amado . Quando
uma pessoa se sente acolhida, estimada e
compreendida, ela se solta , fala , dá
corda ao discurso .
A longanimidade é outro
fruto do ES. É uma virtude
que está ligada
estreitamente à cortesia
e à mansidão . Ela
permite sustentar no tempo
a esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela
é a capacidade de saber
investir , sem
pretender a obtenção
de resultados imediatos (
o contrário da precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações , que
permite superar a irritação
e o desencorajamento diante da aparente
esterilidade da ação
apostólica, educativa , formativa. Ela nos permite
semear , eventualmente
com sofrimento, olhando para
a colheita que
nos será dada
pelas mãos de Deus .
Ela nos
convida a ter coragem e
a resistir , na certeza
de que da resistência
virá a alegria .
O oposto
da alegria é a tristeza ,
aquele sentimento
pelo qual tudo parece mais
pesado. E uma variante da tristeza
é a depressão ou
mau humor ,
a melancolia , o descontentamento .
Como resistir
à atitude da tristeza ? Como superar a depressão ? É invocar o ES, pois a alegria é o dom do ES. É preciso
invocar o ES, na certeza
de que a alegria
existe, de que ela
está no fundo de nós
mesmos , porque
ela é a presença
de Jesus ressuscitado ainda que esteja escondida. A alegria
vem e virá, e tal certeza ,
cultivada no coração , ajuda a superar depressões , maus
humores , escuridão
etc..
P. Vitus Gustama,svd
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