segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

08/01/2015
 
 
DEUS NOS AMA NO NOSSO HOJE

Quinta-Feira Após Epifania


Primeira Leitura: 1Jo 4,19–5,4


Caríssimos, 19 quanto a nós, amamos a Deus porque ele nos amou primeiro. 20 Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. 21 E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão. 5,1 Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus, e quem ama aquele que gerou alguém amará também aquele que dele nasceu. 2 Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. 3 Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, 4 pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé.


Evangelho: Lc 4,14-22


Naquele tempo, 14Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. 15Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam. 16E veio à cidade de Nazaré onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado e levantou-se para fazer a leitura.17Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: 18“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19e para proclamar um ano da graça do Senhor”. 20Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. 22aTodos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca.
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1. Uma Epifania Messiânica


O texto do evangelho de hoje nos apresenta outra epifania de Jesus, sua manifestação em Nazaré, como Messias esperado, para o povo de sua infância e de sua juventude. Jesus se revela muito diferente, longe daquilo que seus vizinhos imaginavam. É uma cena programática (discurso programático que contém tudo o que Jesus vai realizar na sua missão) e cheia de significado, de sua manifestação messiânica aos de seu povo. Trata-se de um discurso programático que contém tudo o que Jesus vai realizar na sua missão.


Jesus como bom judeu vai à sinagoga cada Sábado. Desta vez ele é encarregado a ler um texto do Livro do profeta Isaias, e que em seguida faz seu comentário (homilia).


A passagem de Isaias é central: o futuro Messias, cheio do Espírito de Deus, é enviado a cumprir sua missão para os pobres, a dar liberdade/libertação aos oprimidos e a anunciar o ano da graça do Senhor. Mas o que o evangelista Lucas quer sublinhar é o inicio da homilia de Jesus: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Jesus se apresenta, portanto, aos de seu povo, como o Messias esperado. E num princípio consegue a admiração e o aplauso de seus ouvintes.


A missão de Jesus, como o Messias esperado, é dar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, libertar os oprimidos e inaugurar um “Ano de Perdão de Dívidas” (por isso se chama um “Ano de Graça” que se proclama em nome de Deus): “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. É despertar a consciência do povo sobre sua dignidade. É não tolerar mais ser oprimido e enganado pelos poderosos que só querem tirar vantagem para eles próprios. Dar vista aos cegos é aprender a enxergar a realidade com os próprios olhos. É não deixar alguém olhar por nós sobre a realidade; é não deixar alguém pensar por nós. “Deus fez o homem para que andasse em pé, mas não o condena por começar engatinhando. Não faça de seu cérebro um arquivo para pensamentos alheios, mas o laboratório de suas próprias convicções. Você não aprende a lição dos grandes pensadores quando memoriza e repete o que eles pensaram, mas quando tem a coragem de criar os seus próprios pensamentos” (René Juan Trossero, psicólogo argentino).


Para chegar a fazer isso na sociedade pressupõe a mudança de suas estruturas: da apatia para a solidariedade, da opressão para a liberdade, da vingança para o perdão e a reconciliação, do privilégio de poucos para a igualdade, da exploração para a justiça, da exclusão para a inclusão, da ganância para a partilha, e instruir os outros para enxergarem melhor a vida e a realidade a fim de ter consciência da missão de cada um neste mundo. Instruir os outros através da educação é um caminho de libertação da pobreza e da ignorância.


Para ter essa mudança há uma condição indispensável: Conversão de pessoas e de estruturas. Por isso, podemos entender a exigência de João Batista e de Jesus para a necessidade de conversão: “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo! Convertei-vos e credes no Evangelho!


2. Deus Nos Ama e Amamos a Deus No Próximo


Deus envia o Messias porque nos ama. Jesus, Deus-Conosco, exige de nós a conversão porque nos ama. Deus se fez homem porque nos ama. Deus se encarnou em Jesus para que não fiquemos desanimados, pois Jesus tem a mesma substancia de um ser humano como nós.


O amor com que Deus nos ama é o primeiro: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Trata-se do amor radical e fundante. É ativo, difusivo e criativo. Constitui o melhor rosto de Deus. Deus se revela e se realiza em nós como o Deus de amor (1Jo 4,8.16). Constitui uma história de amor para nós e conosco.


A iniciativa desse amor suscita e espera resposta de cada um de nós. Essa resposta é dada em dupla direção: horizontal e vertical. Acolher e entender o presente de amor de Deus inclui o amor fraterno. Somente com o amor fraterno se corresponde à iniciativa amorosa de Deus. Não se pode amar verdadeiramente a Deus que é amor sem amar aos filhos de Deus. A vertical assinala a autenticidade da horizontal: “Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos” (1Jo 5,2-3). Através do amor fraterno vivenciado nós tocamos o centro da vida humana, da vida cristã e o próprio Deus. Simples e unificante! Dessa maneira é que embelezamos nossa mente e nosso espírito de discípulos de Jesus Cristo.


Por isso, o texto da Primeira Carta de são João que lemos hoje nos apresenta uma nova e maior “verdade fundamental”, e contundente. São João nos apresenta a contradição entre um amor a Deus (invisível) junto a um desamor ao próximo (visível): “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”.


Há gente que pensa que Deus é um ente separado do mundo, dos seres humanos; um Deus que está lá nas nuvens e que poderia ser pensado ou amado com independência de qualquer referencia aos seres humanos. Os deuses gregos eram assim, por exemplo; eram deuses que viviam no Olimpo, em outro mundo. Por isso, é possível amar este tipo de Deus sem amar o próximo.


Mas o Deus do qual João fala é o Deus cristão. O Deus cristão é o Deus encarnado que se identifica com todos os homens, especialmente com os mais humildes e pequeninos (cf. Mt 25,31ss). Logo, não é possível amar a Deus e não amar ao próximo: “Este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”.


3. O Hoje de Deus e Meu Hoje


Na sua homilia, que tem toda sua programação messiânica de seu ministério, Jesus usa a expressão: “Hoje se cumpriu...”. A mesma expressão será usada nos momentos importantes do ministério de Jesus: no nascimento de Jesus (Lc 2,11), na conversão de Zaqueu (Lc 19,5.9), na resposta de Jesus ao pedido do criminoso convertido (Lc 23,43). Com essa expressão Jesus quer enfatizar que o Reino de Deus não é questão futura e sim já é de hoje. Ele já está presente nos corações abertos a ele.


Jesus faz sua reflexão/homilia usando a expressão “hoje se cumpriu...” ao comentar a leitura que acabou de ler. Isto quer nos dizer que a Liturgia da Palavra não é uma simples lição moral de catecismo, nem a afirmação da esperança escatológica fomentada pelos profetas, e sim proclama o cumprimento do desígnio do Pai no Hoje da vida e da assembléia reunida. Já não se contempla um passado cumprido ainda que seja de uma época de ouro ou de caída, já não se sonha mais num futuro extraordinário; vive-se o tempo presente como momento privilegiado, pois o tempo da graça (Kairós) se confunde com o tempo cronológico (Kronos) porque Deus, através de sua encarnação, decidiu entrar no nosso tempo por amor a nós para transformá-lo em tempo da graça. Este é o próprio princípio da homilia, cuja tarefa essencial é a de aplicar a Palavra Eterna e intemporal para o dia de hoje dos homens.


Hoje se cumpriu...”! Em cada momento contém a eternidade, o Hoje de Deus. Hoje devemos decidir nossa salvação. Hoje devemos fazer aquilo que deve ser feito. Hoje mesmo devemos visitar quem deve ser visitado. Hoje mesmo devemos perdoar e dar o perdão a quem deve ser perdoado. Hoje mesmo devemos mudar o mutável, corrigir o corrigível, carregar o carregável, abandonar o abandonável. Hoje mesmo devemos nos converter. Amanha talvez seja tarde demais! O Hoje de Deus nos faz vivermos acordados. O desafio é estar permanentemente acordados, atentos. A todo o momento surgem fatos e ocasiões, ideias e caminhos novos, novas descobertas que podem ser uma oportunidade valiosa para quem está em prontidão para o Hoje de Deus. É estar de mãos livres e vazias para receber algo valioso de Deus; estar de olhos abertos e de coração aberto para receber o Senhor que vem nos visitar; estar de pés calçados para tomar o caminho. A vida é feita de momentos e os momentos oferecem oportunidades dadas por Deus. Quem fica adormecido perde muitas oportunidades de Deus. Quem vive sentado ou deitado pode perder esses momentos.


Hoje se cumpriu...”! O que você faz com o seu Hoje? De que maneira você acolhe o Hoje de Deus neste momento? O que Deus fala neste momento para o seu Hoje?

P. Vitus Gustama,svd

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