20/01/2015
23Jesus estava passando por uns campos
de trigo , em
dia de sábado .
Seus discípulos
começaram a arrancar espigas ,
enquanto caminhavam. 24Então
os fariseus disseram a Jesus: “Olha ! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido ?” 25Jesus lhes disse: “Por
acaso , nunca
lestes o que
Davi e seus companheiros
fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome ?
26Como
ele entrou na casa
de Deus , no tempo
em que
Abiatar era sumo
sacerdote , comeu os pães
oferecidos a Deus , e os deu também aos seus
companheiros ? No entanto ,
só aos sacerdotes
é permitido comer
esses pães ”.
27E acrescentou: “O sábado foi feito
para o homem ,
e não o homem
para o sábado .
28Portanto ,
o Filho do Homem
é senhor também
do sábado ”.
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A controvérsia entre Jesus e os fariseus
continua. No dia anterior
a controvérsia era
sobre o jejum .
Hoje a discussão ou a controvérsia está em torno do Sábado e sua
observação.
O sábado era um dos principais mandamentos
para os judeus . A finalidade
de sua observação
era, inicialmente, para o descanso humano para celebrar a libertação humana (Dt
5,12-15). Na linha sacerdotal (cf. Ex 20,8-11) a finalidade do sábado era para
imitar o repouso de Deus ao findar-se a obra da Criação. O sábado tornou-se
como dia para ser dedicado a Deus e ao culto. A partir do exílio na Babilônia a
valorização do sábado se tornou exagerada. Observar o sábado entre os pagãos,
durante o exílio, era um sinal da identidade israelita. Era tão importante como
todos os mandamentos juntos. Todo trabalho era proibido (234 atividades
proibidas). Transgredir o sábado podia
levar o acusado à condenação dependendo da gravidade do ato até a pena de morte
(cf. Ex 31,12-17; 35,1-3). O sábado se tornou, então, algo pesado para o povo.
A instituição do sábado que tinha como finalidade assegurar o homem o tempo de
repouso necessário para a realização da vida foi esquecida.
Os discípulos de
Jesus arrancavam espigas durante o caminho com Jesus. Tirar espigas era uma
das trinta e nove formas
de violar o sábado ,
segundo as interpretações
exageradas que algumas escolas dos fariseus
faziam da lei na época .
Por isso ,
os fariseus se escandalizam quando
percebem que os discípulos
de Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado . “Quem não sabe julgar o que merece crédito
e o que merece ser
esquecido presta atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial ”
(Buda ).
“Olha! Por que eles
fazem em dia de sábado o que não é permitido?”, disseram os fariseus a Jesus.
Os guardiões da Lei estão aqui: os fariseus. Os que se acham
proprietários da Lei de Moisés e que se acham únicos intérpretes autênticos, e
que se atribuem a si mesmas o papel de velar sobre todos desvios da Lei. O
grande critério legalista e formalista está em torno de : “permitido” e “proibido”.
Quão surpreendente é a resposta de Jesus! É surpreendente
porque para Jesus, a vida do homem está acima das prescrições cultuais. Os mais
elementares detalhes da lei natural como direito de comer e de beber, direito
de ter moradia, e assim por diante, devem ser observados mais do que as
práticas estritamente religiosas. De outra forma, podemos dizer que a tradução
da minha prática religiosa é ajudar os necessitados. 2. A caridade é a via mestra
da doutrina social da Igreja. As diversas responsabilidades e compromissos por
ela delineados derivam da caridade, que é — como ensinou Jesus — a síntese de
toda a Lei (cf. Mt 22, 36-40).
·
“A caridade dá verdadeira substância à
relação pessoal com Deus e com o próximo; é o princípio não só das
micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas
também das macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos.
Para a Igreja — instruída pelo Evangelho —, a caridade é tudo porque, como
ensina S. João (cf. 1 Jo 4, 8.16) e como recordei na minha primeira carta
encíclica, « Deus é caridade » (Deus caritas est): da caridade de Deus tudo
provém, por ela tudo toma forma, para ela tudo tende. A caridade é o dom maior
que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança” (Papa Bento
XVI: Carta Encíclica CARITAS IN VERITATE no. 2).
O homem está sempre no centro
da doutrina de Jesus. Jesus olha para a necessidade real
do homem e se oferece como solução . Em nome do ser humano , nas suas necessidades
básicas, principalmente quando se trata
de salvar ou proteger a vida ,
Jesus é capaz de “transgredir ”
a Lei por
sagrada que
ela pareça ser .
Por causa de mim , ser humano , Deus
aceitou se encarnar em
Jesus para me
dizer que não estou sozinho
na minha luta
pela vida
digna . Deus
entra no tempo humano
para que o tempo humano (kronos) se transforme em tempo da graça (Kairós). Deus
se fez homem para que o homem se tornasse divino. A eternidade entra na efemeridade para se
transformar em imortalidade por amor. Deus quer
vida em
abundância para todos (Jo 10,10). Para
Jesus, o ser humano
é mais sagrado
do que qualquer
lei . A preocupação de Jesus é fazer o bem para
o homem , mesmo
no dia de Sábado .
A lei do Sábado
foi dada precisamente
a favor da liberdade ,
da vida, do bem
e da alegria do homem
(Dt 5,12-15).
A fidelidade às tradições religiosas deve favorecer
ao direito à vida .
As tradições religiosas, que não apóiam
o direito à vida ,
perdem sua razão
de existir . Para Jesus a finalidade de qualquer
lei religiosa
deve ajudar o ser humano a ter uma
verdadeira experiência de encontro com a vontade de Deus
resumida no mandamento do amor fraterno . Praticar as leis
religiosas sem levar
em conta o respeito pela vida seria inútil .
Jesus é o Senhor do Sábado .
Se o Sábado devia significar
“libertação ”, Jesus é o Senhor
da libertação . Se o Sábado
devia significar “santificação ”,
Jesus é o Senhor da santidade
e da santificação . Uma libertação sem
Jesus será opressão reeditada de outro modo . Uma
santificação sem
Jesus será egoísmo , orgulho
ou vaidade ,
editados de outros modos .
A lei é boa e necessária . A lei
é, na verdade , o caminho
para levar à prática do mandamento
do amor . Somente
a lei do amor
rompe fronteiras , divisões ,
prejuízos e escravidões .
Por isso
mesmo , a lei
não pode ser
absolutizada. O Sábado , para
nós o domingo ,
está pensado para o bem
do homem . É um
dia em
que nos
encontramos com Deus ,
com a comunidade ,
com a natureza
e com nós
mesmos . O descanso
é um gesto
profético que
nos faz bem a
todos para fugir ou escapar da escravidão
do trabalho ou
da carreira consumista .
O dia do Senhor
é também dia
do homem , com
a Eucaristia como
momento privilegiado.
“O sagrado do sábado ” comenta o rabino
Nilton Bonder, “não é o descanso em si , mas o ritmo mágico do
trabalho ao descanso
e ao trabalho novamente .
É essa entrada e saída
que é sagrada .
(...) Sem as pausas
há apenas ilusão ;
sem os silêncios
há apenas ilusão
da música ; sem
a luz-transparência há apenas ilusão da cor ”
(cf. Código Penal Celeste ).
A partir do ensinamento
de Jesus no evangelho deste dia precisamos nos
perguntar : “Não
somos, às vezes , demasiados
legalistas? Não julgamos nossos irmãos quando cremos que
não cumprem as leis
ou as regras ,
sejam as leis humanas, as leis da Igreja ou as leis
consideradas como divinas? Se para Jesus o homem
está sempre no centro
de seu ensinamento ,
será que colocamos o ser
humano como
centro de nossas atividades
diárias e pastorais ?”.
Não somos hipócritas ao dizer aos outros, antes do momento da comunhão,
alegando isso como alerta: “Quem não está preparado, não pode comungar”. Ou,
“Quem não participou da missa dominical, não pode comungar”. Por acaso, a pessoa
que fala disso está realmente preparada para comungar? Esse tipo de “alerta”
não seria uma expressão da arrogância espiritual? Será que a pessoa que diz
isso não tem consciência de que ela está dizendo indiretamente: “Eu estou
preparado, você não. Eu sou santo... você é pecador?”.
A denúncia da escravidão ao sábado
nos convida a nos
libertarmos da religião da observância formal
e segui-la pelos caminhos
do amor libertador .
Quando as coisas
materiais ou
rituais mandam, e não
a lei do amor ,
o homem se faz escravo .
Somente a lei do amor rompe fronteiras, divisões, prejuízos e escravidões. Ama
menos quem se preocupa demasiadamente com as regras religiosas.
P. Vitus Gustama,svd
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