09/01/2015
SER MÃO QUE AJUDA
Sexta-Feira Após
Epifania
Primeira Leitura: 1Jo
5,5-13
Caríssimos, 5 quem é o vencedor do
mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? 6 Este é o que veio
pela água e pelo sangue: Jesus Cristo. (Não veio somente com a água, mas com a
água e o sangue.) E o Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a
Verdade. 7 Assim, são três que dão testemunho: 8 o Espírito, a água e o sangue;
e os três são unânimes. 9 Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de
Deus é maior. Este é o testemunho de Deus, pois ele deu testemunho a respeito
de seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem este testemunho dentro de si.
10 Aquele que não crê em Deus faz dele um mentiroso, porque não crê no
testemunho que Deus deu a respeito de seu Filho. 11 E o testemunho é este: Deus
nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. 12 Quem tem o Filho, tem
a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. 13 Eu vos escrevo estas coisas a
vós que acreditastes no nome do Filho de Deus, para que saibais que possuís a
vida eterna.
Evangelho: Lc 5,12-16
12 Aconteceu que Jesus estava numa
cidade, e havia aí um homem leproso. Vendo Jesus, o homem caiu a seus pés, e
pediu: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 13 Jesus estendeu
a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero, fica purificado”. E imediatamente, a
lepra o deixou. 14 E Jesus recomendou-lhe: “Não digas nada a ninguém. Vai
mostrar-te ao sacerdote e oferece pela purificação o prescrito por Moisés como
prova de tua cura”. 15 Não obstante, sua fama ia crescendo, e numerosas
multidões acorriam para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. 16 Ele, porém,
se retirava para lugares solitários e se entregava à oração.
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Na época de Jesus todas as doenças
eram consideradas como um castigo de Deus, como o reflexo ou conseqüência de
uma enfermidade moral, mas a lepra era o próprio símbolo do pecado e era
considerada como castigo divino por excelência (cf. Dt 28,27-35). E a lepra era
considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da
lepra era, por isso, considerada como um milagre, como se fosse uma ressurreição
de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra.
Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus
para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os
responsáveis por falsos juramentos e por incestos. Os leprosos não deviam
entrar nas cidades, rasgar suas roupas. E para todos os que se aproximavam
deles, os leprosos deviam gritar: “Impuro! Impuro!” para que os outros não
ficassem impuros pelo contato.
No tempo de Jesus, sob o nome de
lepra incluíam diversas enfermidades da pele de caráter mais ou menos grave,
entre as quais se incluía aquela que atualmente recebe o nome de lepra. O homem
que a padecia se converteu em impuro, excluindo-o da comunidade cultual e
social do povo de Israel.
No Antigo Testamento os leprosos
eram considerados como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer
direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura
(eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma
impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato
com um leproso para não se tornar impuro. O leproso sofria, então, não somente
fisicamente, mas também psicológico e social e religiosamente. O leproso estava
condenado à morte. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social
imposta pela Lei (Lv.13,45-46). E para a lepra não tinha nenhum remédio.
Restava esperar um milagre para sobreviver.
No meio da falta de solução e de
saída, Jesus apareceu na vida do leproso para superar seu problema.
Aproximou-se de Jesus um leproso e lhe suplicou: “Senhor, se queres, tu
tens o poder de me purificar”. A oração desse leproso é breve e
confiante. O leproso se aproxima de Jesus porque acredita no poder de Jesus
para curá-lo. Ele deposita totalmente sua confiança em Jesus. E por isso ele
toma coragem de se aproximar de Jesus apesar da proibição ritual. E Jesus não
recusa a aproximação do leproso sabendo das conseqüências cultuais. Mas ele
veio para salvara. A aproximação do homem a Deus e a de Deus ao homem resulta
no milagre ou na transformação total de uma pessoa. Não há encontro verdadeiro
com Deus sem transformação da vida de quem fizer esse encontro.
São João, através do texto da
primeira leitura (1Jo 5,5-13) lança a seguinte pergunta-resposta: “Caríssimos,
quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”.
No vocabulário de são João nós sabemos que o termo “mundo” aqui significa “o homem fechado em si mesmo e
tentado de construir-se e salvar-se por suas próprias forças”, mas acaba se
destruindo e a vida termina com a morte, pois ele acredita apenas na vida aqui
no mundo. O verdadeiro cristão vence essa tentação, pois ele não vive encerrado
em si mesmo e sim aberto a Deus; vence a ridícula e vã tentativa de
“divinizar-se” por si mesmo e deixa o êxito de toda sua vida nas mãos de Deus,
a exemplo do leproso que se deixa tocar por Jesus para ser libertado daquilo
que o impede de relacionar-se com Deus e com os demais homens. A verdadeira fé
nos faz vencedores.
Nós estamos, certamente, entre os
que crêem em Jesus como o Enviado e o Filho de Deus. Por isso, celebramos o
Natal do Senhor com alegria e fé cristã. Cristo venceu o mundo (cf. Jo 16,33).
Somos seguidores do Senhor, mas será que participamos já da mesma vitória de
Cristo? Será que vencemos o mal que há em nós e no mundo? Quem crê em Cristo
verdadeiramente, deve sentir já dentro de si a vida que Cristo lhe comunica. A
fé é o fundamento da esperança. E a esperança é o horizonte da fé. Esperamos e
por isso, cremos. E cremos e por isso, esperamos.
Como resposta ao pedido do leproso, Jesus
estendeu a mão e tocou nele e disse: “Eu quero. Fica purificado”. A
palavra de Deus se torna fato, se for escutada, obedecida e praticada. A força
salvadora de Deus está na ação de Jesus. De fato, o leproso ficou curado.
Podemos imaginar alegria deste homem que era solitário, abandonado, excluído e
maldito pela sociedade, e agora feliz, pois volta a olhar para o futuro com
muita esperança e otimismo. Quem devolveu essa esperança para ele é Jesus que
veio para salvar a humanidade.
A mão estendida, o contato é um
sinal de amizade. Jesus se apresenta como amigo do sofredor, do abandonado e se
aproxima dele para dizer que o sofredor não está sozinho. Jesus não tem medo de
ficar “impuro” segunda as regras rituais ao tocar no leproso. Com o gesto de
tocar Jesus compartilha os dramas da humanidade. Por este humilde gesto Jesus
reintegra o leproso curado na sociedade dos que o excluíam.
Esta mão estendida é também um gesto
de vitoria. Esta mão estendida é o gesto de amor. É uma mão pronta para ajudar
como ajudou Pedro que estava para afogar. É uma mão que está pronta para ajudar
quem se encontra em dificuldades. Não é por acaso que de vez em quando cantamos
a música do compositor Nelson Monteiro de Mota: “Se as águas do mar
da vida quiserem te afogar. Segura na mão de Deus e vai. Se as tristezas desta
vida quiserem te sufocar. Segura na mão de Deus e vai. Segura na mão de Deus,
pois ela te sustentará. Não temas, segue adiante e não olhes para trás. Segura
na mão de Deus e vai. Se a jornada é pesada e te cansas da
caminhada. Segura na mão de Deus e vai. Orando, jejuando, confiando e
confessando. O Espírito do Senhor sempre te revestirá. Jesus Cristo prometeu
que jamais te deixará. Segura na mão de Deus e vai”.
Todos nós somos débeis de alguma
forma e necessitamos da ajuda permanente de Jesus. Nossa oração, confiada e
simples, como a do leproso, se encontra sempre com o olhar de Jesus, com sua
vontade de nos salvar. Jesus nos toca com sua mão diariamente. Mas muitas vezes
estamos bem anestesiados pelas preocupações e agitações que acabamos não
sentindo a mão de Jesus tocando nossa mão. Jesus nos alimenta com o Pão e o
Vinho da Eucaristia, tocando nossa vida. Ele nos perdoa através da mão de seus
ministros estendida sobre nossa cabeça, tocando e ungindo nossa testa e nossa
mão com o óleo santo de batismo, de crisma, dos enfermos.
Olhando para Jesus que estendeu a
mão para curar o leproso, como seguidores de Cristo nós devemos ser uma mão
pronta para ajudar e não um dedo pronto para acusar e para apontar os erros dos
outros. Jesus não tem mais suas mãos na terra para ajudar os homens, pois os
próprios cristãos são as próprias mãos do Senhor. Seja você uma mão de Jesus
para ajudar os outros! Ser solidário e estender a mão para quem sofre é já um
meio para curá-lo. É dar-lhe esperança, e ajudá-lo a caminhar na direção da
vida como sempre fazia Jesus.
P. Vitus Gustama,svd
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