quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

 21/01/2015
 
O HOMEM AMADO POR DEUS ESTÁ ACIMA DA LEI E DA CRENÇA

Quarta-Feira da II Semana do Tempo Comum
 

Evangelho: Mc 3,1-6

Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!”  4E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.
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O Reino de Deus propõe a reconstrução do ser humano de modo integral (de dentro e de fora). Para isso é que Jesus foi enviado por Deus Pai a este mundo por amor (cf. Jo 3,16). Deus nos ama e essa amabilidade nos torna mais gentis, solidários, compassivos, educados, fraternos, empáticos e assim por diante. Nos evangelhos se vê simbolicamente que esta reconstrução vai sucedendo gradualmente: uma vez, a cura de sua vista, outra vez, de sua mão, ou transformar suas ações, ressuscitar quem se encontra morto. Por isso, para Jesus deixar de fazer o bem no dia de sábado, negando uma cura para um pobre que necessita é pecar. Não ajudar quem se encontra carente de vida quando há possibilidades e condições para isso é pecar por omissão. Assim, a dinâmica do Reino também é exigente: se não reconstruirmos o homem, estaremos colaborando na sua destruição.


Continuamos ainda a acompanhar a controvérsia entre Jesus, de um lado, e os fariseus e os escribas, de outro lado. O tema da controvérsia ainda está em torno da observância do preceito de Sábado. Novamente Jesus quer manifestar sua convicção de que a lei do sábado está a serviço do homem e não o contrário. Por isso, diante de seus inimigos que espiam suas atuações Jesus cura o homem do braço paralisado. E Jesus o fez provocativamente dentro de uma sinagoga no dia de sábado.


O que tem o valor supremo: a lei, ou o bem do homem e a glória de Deus? Esta é a questão nessa controvérsia. Em sua luta contra a mentalidade legalista dos fariseus, no texto anterior Jesus disse: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Hoje Jesus aplica o principio para um caso concreto contra a interpretação que alguns faziam que preocupados mais com uma lei minuciosa do que com o bem das pessoas, sobretudo, com os que sofrem.


É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?”. Essa foi a pergunta de Jesus aos fariseus. Trata-se de uma pergunta que leva qualquer um a fazer uma reflexão profunda sobre o valor de um ser humano. A dignidade do ser humano não é objeto de admiração e sim de respeito. Por isso é que Jesus luta tanto para o bem da pessoa humana apesar das críticas vindas dos fariseus legalistas. Ama menos quem se preocupa somente com as regras ou normas ou preceitos religiosos. Esta pergunta leva também qualquer pessoa a fazer-se pergunta: “O que estou fazendo neste mundo? Para qual objetivo eu uso meu tempo nesta vida? Será que eu uso meu tempo para construir minha vida e a vida dos outros? Se não, para que e por que, então, eu vivo? Será que tenho consciência do tempo que me resta?”.


Como sabemos que o Sábado era um dos preceitos divinos mais claros e mais indiscutíveis. O Sábado era uma espécie de documento de identidade do Povo eleito. Sua observância estava rigidamente regulada. Algumas exceções eram admitidas por motivos de particular gravidade. Por exemplo, era permitido salvar a vida com a fuga, ajudar um homem em perigo ou uma mulher com dores de parto ou em caso de incêndio e assim por diante. Porém, de qualquer forma tratava-se sempre de exceções a uma regra.


Para Jesus, ao contrario, o que muda é a regra. A lei, sim, mas o legalismo, não. A lei é uma necessidade. Porém, atrás de cada lei deve respirar amor e respeito ao homem concreto. Atrás da letra está o espírito e o espírito deve prevalecer sobre a letra. Para Jesus o bem do homem está acima da observância do Sábado, e isso, não somente em caso de perigo de morte, mas em qualquer situação. “Portanto, é licito fazer o bem também no Sábado” (Mt 12,12b). Jesus proclama, assim, o valor absoluto do amor. Jesus recorda a todos que para Deus o mais importante é o homem, o bem do homem e não a regra por regra ou lei por lei. Não somente salvar a vida do homem e sim simplesmente fazer o bem a ele em todo momento e em qualquer lugar e para qualquer pessoa. A lei suprema da Igreja de Cristo são as pessoas, a salvação das pessoas. Se não, a Igreja perderia sua razão de existir. A glória de Deus está sempre e unicamente no bem do homem. Não se trata de exaltar o homem constituindo-lhe centro das coisas. Mas trata-se de conhecer mais fundo o coração de Deus que ama o homem a ponto de enviar seu Filho unigênito a fim de que o homem seja salvo (Jo 3,16). O poder de Deus se manifesta no amor e nisto está sua honra (cf. MT 25,40.45). Para Jesus a observância do Sábado deve celebrar esse amor fraterno e não desmenti-lo nem negá-lo. Assim, mais uma vez, Jesus quer manifestar sua maneira de viver de que a lei do sábado está a serviço do homem e não o contrário.


“Havia, na Sinagoga, um homem com a mão seca. ‘Estende a mão’, disse Jesus. O homem com a mão seca a estendeu e a mão ficou curada”, assim relatou o evangelista Marcos.


Na antropologia bíblica, a mão está carregada de simbolismo. A mão está ligada à idéia de força e de poder. Estar na mão do outro significa estar sob o seu poder. A mão direita era sinal de força, de sabedoria e de fidelidade. Como rezamos no Credo: Jesus “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso...”. Isto quer dizer que Jesus mostrou sua fidelidade à vontade de Deus Pai até o fim. a mão esquerda era sinal de fraqueza, de ignorância e de desgraça.


O homem do texto do evangelho de hoje está com a mão seca, sem especificar se a mão em questão é a direita ou a esquerda (cf. Lc 6,6). É um homem sem iniciativa e incapaz de lutar por seus direitos, e por isso, é uma vitima da desumanização. Jesus é Deus que salva. Por isso, ele toma iniciativa para curar o homem a fim de humanizá-lo novamente. Com a mão curada, o homem volta a ter aptidão para fazer o bem. E ao colocar o homem no meio das pessoas, Jesus quer recordar a todos que qualquer pessoa deve ser respeitada, protegida, defendida, levada em consideração acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser e acima de qualquer crença. Toda religião deve se preocupar com a salvação do homem e não com a salvação de regras religiosas.


Jesus quer nos relembrar que nenhuma religião ou nenhuma prática religiosa pode impedir o encontro fraterno e a vivência do amor e do respeito mútuos nem pode impedir serviço solidário. Ao contrário, os que praticam religião devem ter cada vez a sensibilidade humana, devem ser mais humanos e irmãos para com os demais. A passagem para chegar ate Deus passa necessariamente pelo irmão. O próximo é a passagem obrigatória para chegar ao céu. Qualquer um pode não encontrar Deus, mas não tem como não se cruzar com o próximo. O próximo é ocasião de salvação para mim como também sou uma ocasião de salvação para o outro. No sentido bíblico, será que minha mão, sua mão está paralisada? O que deve se fazer para deixar de ficar paralisada?

P. Vitus Gustama,svd

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