19/01/2015
Naquele tempo ,
18os discípulos de
João Batista e os fariseus
estavam jejuando. Então , vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos
de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus
discípulos não
jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados
de um casamento
poderiam, por acaso ,
fazer jejum , enquanto o noivo está com eles ? Enquanto o noivo está com eles , os convidados não
podem jejuar . 20Mas vai chegar
o tempo em
que o noivo
será tirado do meio deles; aí , então , eles vão jejuar . 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha ; porque o remendo
novo repuxa o pano
velho e o rasgão fica maior ainda . 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos ; porque
o vinho novo
arrebenta os odres velhos
e o vinho e os odres
se perdem. Por isso ,
vinho novo em odres novos ”.
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Jejum Na Vida Do Povo Eleito
Na semana passada acompanhamos o
começo da pregação e da ação de Jesus. Jesus escolheu cinco primeiros
discípulos. Na sua ação, Jesus impôs silêncio aos que reconheciam como Filho de
Deus.
Esta semana, encontraremos Jesus e
seus discípulos que formam um grupo absolutamente solidário e unido diante de
seus adversários (fariseus e escribas etc.).
Observaremos que, em cada controvérsia,
Jesus sempre se apresenta como um independente diante
das regras e das observâncias
legais conforme
as tradições . A independência
de Jesus choca os que
estão apegados ao pé da letra todas as leis
e as tradições . Jesus entra no espírito da lei ,
naquilo que possa edificar
o ser humano .
Por isso ,
em outra
ocasião ele
diz: “O sábado existe para
o homem e não
o contrário ”. No evangelho
de hoje ele
faz uma declaração que
tem o mesmo conteúdo :
“Ninguém põe o vinho
novo em odres velhos ”.
O tema
da discussão entre
Jesus e os fariseu no evangelho de hoje
é o do jejum .
Jejum fazia parte
das praticas mais importantes
da piedade judaica
e era um dos mais fortes símbolos de integração no sistema social (cf. Lc
18,11-12). E, por isso, marcava a separação entre “justos” e “pecadores”. Era
símbolo religioso, ideológico da divisão social fundamental. O jejum era como
sinal distintivo.
Além disso, o jejum era associado à
oração e à esmola, e caracterizava a pessoa piedosa (cf. Mt 6,1-18). A Lei
estabelecia somente um
jejum , no dia
da Expiação , para penitência e perdão
dos pecados a fim de preparar-se ao encontro
com Deus ,
o único que
pode perdoar o pecado
(cf. Lv 16,29-34; 12,24; 23,27-32; Nm 29,7; At 27,9). Moisés jejuava durante 40 dias
e 40 noites para
conseguir que
Deus perdoasse o pecado
de seu povo
(Dt 8,18). Depois surgiram muitos outros motivos para jejuar
(cf. 1Samuel 31,17; Zacarias 8,18; 2Rs 25,1-4; Ester 4,16; Judite 8,6 etc.). As
pessoas piedosas adotavam jejuns facultativos em sinal de penitência pela salvação
de Israel e para acelerar a vinda do Messias. Os fariseus faziam o jejum duas
vezes por semana, na segunda e na quinta-feira (cf. Lc 18,12; Mt 6,16-18). Os
discípulos de João conservam a prática do jejum como lemos no texto do
evangelho de hoje.
De modo
geral , a prática
do jejum está ligada ,
no AT, à espera da vinda
do Messias . A prática do jejum aceleraria a chegada
do Messias . Os fariseus
e os discípulos de João Batista praticam o jejum .
Por isso ,
questionam o comportamento dos discípulos de Jesus que
não o praticam.
A resposta
de Jesus aqui é bem
clara : se seus
discípulos não
praticam o jejum é porque
não tem nada
que esperar porque o Messias já chegou e está com
eles . O tempo
chegou, o Reino de Deus
está próximo (Mc 1,15), o banquete
messiânico começou. O tempo de Jesus é comparado a uma festa de bodas. É um
tempo de festejar, sem jejum. O “noivo” neste texto designa claramente a Jesus.
O que se esperava de Deus nos últimos tempos faz-se presente no interior da
história através da ação de Jesus. O momento escatológico se inicia no coração
do tempo histórico, no tempo cronológico. O tempo cronológico e o tempo da
graça (kairós) se fundem. Deus encarnado em Jesus se aproxima e acolhe o povo
carinhosamente como o marido faz para sua esposa.
E os sinais
são estes :
os leprosos ficam purificados (Mc
1,40-45), os paralíticos andam (Mc
2,1-12), a Boa Nova se anuncia (Mt
11,5). Jesus é Aquele que deve vir . Os discípulos
de Jesus estão vivendo esta intimidade .
Esta intimidade será rompida no momento da paixão
e da morte de seu
Mestre . No dia
em que
Jesus deixar de estar , a comunidade cristã, através
do jejum , fará a memória
da morte de Cristo ,
anunciará ao mundo que
Jesus morreu por causa
dos pecados dos homens
e por nossos
pecados .
Consequentemente “Ninguém põe um
remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano
velho e o rasgão fica maior ainda. Ninguém põe vinho novo em odres velhos;
porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem.
Por isso, vinho novo em odres novos”. Isto significa que a plenitude do novo não é
suportável ao velho sistema. É necessário ter um novo espaço para acolher o
novo. Renovar é colocar algo novo no espaço adequado. O código dum mundo de
desenvolvimento é a transformação e renovação.
Só o novo pode acolher a novidade. Jesus não teme afirmar, desde o
início de sua vida pública, a novidade radical de sua mensagem. O evangelho não
é um “remendo” e sim é algo novo, pois salva por amor e não pela obediência
cega à lei.
Jejum Na Nossa Vida Cotidiana
Estamos em
outro contexto .
Por isso ,
o jejum ganha
seu novo significado . Quando
soubermos dar ou
preparar o espaço
para Deus na nossa vida , este espaço não será ocupado
por outra
coisa . Ao darmos esse
espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva . Por
isso , ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa
vontade de não
deixar nenhuma coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida .
Podemos possuir as coisas ,
mas as coisas
jamais podem nos
possuir para não perdermos nossa
liberdade . Mesmo
não querendo, um
dia largaremos tudo .
É preciso que
aprendamos a ser livres
todos os dias ,
desde já .
P. Vitus Gustama,svd
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