22/10/2015
FOGO
PURIFICADOR TRAZIDO POR JESUS
OPÇÃO
POR JESUS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Quinta-Feira
da XXIX Semana Comum
Evangelho: Lc 12, 49-53
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 49 Eu vim para lançar
fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50 Devo receber um
batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! 51 Vós pensais que eu
vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer
divisão. 52
Pois,
daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra
duas e duas contra três; 53
ficarão
divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e
a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'
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Continuamos a ouvir atentamente para as
ultimas e mais importantes lições e advertências de Jesus dadas aos discípulos durante
o seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). E estamos ainda dentro do tema
sobre a vigilância. A opção por Jesus e seus ensinamentos provoca a separação,
pois quem quiser estar com Jesus deve estar do lado do bem.
“Eu vim lançar fogo à terra, e que
tenho eu a desejar se ele já está aceso?
Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”,
diz o Senhor no evangelho deste dia.
Há duas atividades do fogo. Ele ilumina e
aquece, por um lado. Mas também ele destrói e purifica, por outro lado. O termo
grego
pyr (fogo)
e o latino purus provém da mesma raiz linguística:
o fogo é puro e purificador.
A metáfora do “fogo” é muito usada em
qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode
significar purificação, renovação, amor etc.. Em toda a Bíblia, especialmente
no Antigo Testamento, o fogo é símbolo de Deus (o ser e o agir de Deus): na
sarça ardente Deus se revelou a Moisés (Ex 3,1-15); no fogo ou raio da
tempestade no Sinai (Ex 19,16-25); na figura de uma coluna de fogo Deus
acompanhava o Povo eleito durante as noites que saiu da escravidão do Egito
rumo à Terra prometida (Ex 13,21). Ao ser dada a Lei, apareceu o brilho da luz
do Senhor “como um fogo consumidor no cimo da montanha” (Ex 24,17). Nos
sacrifícios do Templo as vítimas passam pelo fogo. O fogo também é o símbolo do
juízo final que purifica todas as coisas (Dt 32,22). Na tradição
bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que consome as
impurezas. Na linguagem bíblica e
apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo (antigo) e
o início do outro (novo). No Novo testamento lemos que o fogo é o sinal do
julgamento que, como o fogo, purifica e consome (cf. Lc 17,29-30; Hb 12,29; Ap
21,8). No dia de Deus (julgamento) os céus se converterão em fogo e os
elementos se derreterão nas chamas (1Pd 3,12; 2Ts 1,7s). o Senhor apocalíptico terá
olhos como de fogo (Ap 1,14).
“Eu vim lançar fogo à terra”,
disse Jesus. Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo.
Jesus se compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e
recolher o trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará
no fogo (Mt 13,40). Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os
samaritanos (Lc 9,54). A Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em Pentecostes
(At 2,3). Esse fogo ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando escutavam o
Ressuscitado sem conhecê-Lo (Lc 24,32).
Vir trazer fogo à terra significa que a
presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do egoísmo, da
desigualdade, da discriminação, da exclusão, da insensibilidade e assim por
diante. e por isso, tem força de separar o bem do mal. Através da purificação
dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu esplendor. Por
isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da ilusória
convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc
16,13; Mt 6,24).
O fogo de Jesus é o mesmo Reino de Deus que
traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as impurezas
dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a
nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que oprimem o homem por
dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo.
Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão
fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se encontra
pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as
consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa
divisão: ou opta pela verdade que Jesus que significa salvação ou manter-se na
falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.
Jesus acendeu um fogo e nos convida a
mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas
inúteis, tanto organismos estéreis e paralisantes, tantas palavras vazias,
tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é
velho em nós para surgir o novo.
O que acontece quando esse fogo não fica
aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não fica
aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade
original que nos renova permanentemente; quando vivemos sem nos opor às
estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação
dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá
esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não
significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada.
Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com
repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem
lhes interessam.
“Julgais que vim trazer paz à terra?
Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.
A paz é um dos
maiores benefícios que o homem deseja. Os hebreus se saúda dizendo “Shalom”.
Jesus despede os pecadores e as pecadoras com esta frase cheia de sentido: Vá
em paz (Lc 7,50; 8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz” para as
casas onde entravam. Trata-se da paz nova que vem transtornar a paz deste
mundo. Mas não é uma paz fácil, pois há que construí-la na dificuldade e com
muito esforço e maturidade espiritual. A paz é fruto do amor que conclui perdão
e reconciliação, resultado de uma comunhão fraterna que elimina as causas da
divisão e da desunião (unir= salvar; desunir= perder-se/sem salvação). Quando se
quer a paz deve se procurar as razões para querê-la e eliminar as causas da sua
ausência na comunidade ou na convivência. Precisamos descobrir de onde vêm os
males que causam a ausência da paz. Perguntar sobre a origem dos males
significa mexer com certos privilégios de certas pessoas. Jesus estava muito
consciente disso. Por isso, ele afirmou: ”Julgais que vim trazer paz à terra? Não,
digo-vos, mas divisão“.
Jesus traz a paz, dá a paz, mas não a
qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com
freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e
sociais que não salvam: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas,
três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai
contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a
mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. O Pai não pode
compactuar com a maldade do filho e vice-versa. A mãe não pode participar da
desonestidade da filha e vice-versa. Cada membro de uma família deve ficar do
lado do bem, da honestidade, da verdade e assim por diante. Somente acontecerá
tudo isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso
coração. Por isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.
“Mas devo ser batizado num batismo; e
quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus. Jesus vive sua
vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala é sua própria
morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos homens,
esquecendo-se de si próprio. Quem quiser seguir a Jesus fielmente, quem quiser
viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus deve estar preparado para ser
perseguido até ser morto (cf.2Tm 3,12). Mas trata-se de uma morte que termina
na glorificação da vida em Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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