segunda-feira, 19 de outubro de 2015

22/10/2015
FOGO PURIFICADOR TRAZIDO POR JESUS
OPÇÃO POR JESUS E SUAS CONSEQUÊNCIAS


Quinta-Feira da XXIX Semana Comum

Evangelho: Lc 12, 49-53

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 49 Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50 Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! 51 Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52 Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53 ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'
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Continuamos a ouvir atentamente para as ultimas e mais importantes lições e advertências de Jesus dadas aos discípulos durante o seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). E estamos ainda dentro do tema sobre a vigilância. A opção por Jesus e seus ensinamentos provoca a separação, pois quem quiser estar com Jesus deve estar do lado do bem.


Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?   Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.


Há duas atividades do fogo. Ele ilumina e aquece, por um lado. Mas também ele destrói e purifica, por outro lado. O termo grego pyr (fogo) e o latino purus provém da mesma raiz linguística: o fogo é puro e purificador.


A metáfora do “fogo” é muito usada em qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode significar purificação, renovação, amor etc.. Em toda a Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, o fogo é símbolo de Deus (o ser e o agir de Deus): na sarça ardente Deus se revelou a Moisés (Ex 3,1-15); no fogo ou raio da tempestade no Sinai (Ex 19,16-25); na figura de uma coluna de fogo Deus acompanhava o Povo eleito durante as noites que saiu da escravidão do Egito rumo à Terra prometida (Ex 13,21). Ao ser dada a Lei, apareceu o brilho da luz do Senhor “como um fogo consumidor no cimo da montanha” (Ex 24,17). Nos sacrifícios do Templo as vítimas passam pelo fogo. O fogo também é o símbolo do juízo final que purifica todas as coisas (Dt 32,22). Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que consome as impurezas.  Na linguagem bíblica e apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo (antigo) e o início do outro (novo). No Novo testamento lemos que o fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo, purifica e consome (cf. Lc 17,29-30; Hb 12,29; Ap 21,8). No dia de Deus (julgamento) os céus se converterão em fogo e os elementos se derreterão nas chamas (1Pd 3,12; 2Ts 1,7s). o Senhor apocalíptico terá olhos como de fogo (Ap 1,14).


Eu vim lançar fogo à terra”, disse Jesus. Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo. Jesus se compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e recolher o trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará no fogo (Mt 13,40). Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os samaritanos (Lc 9,54). A Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em Pentecostes (At 2,3). Esse fogo ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando escutavam o Ressuscitado sem conhecê-Lo (Lc 24,32).


Vir trazer fogo à terra significa que a presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do egoísmo, da desigualdade, da discriminação, da exclusão, da insensibilidade e assim por diante. e por isso, tem força de separar o bem do mal. Através da purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16,13; Mt 6,24).


O fogo de Jesus é o mesmo Reino de Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as impurezas dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que oprimem o homem por dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo. Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se encontra pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa divisão: ou opta pela verdade que Jesus que significa salvação ou manter-se na falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.


Jesus acendeu um fogo e nos convida a mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas inúteis, tanto organismos estéreis e paralisantes, tantas palavras vazias, tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é velho em nós para surgir o novo.


O que acontece quando esse fogo não fica aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade original que nos renova permanentemente; quando vivemos sem nos opor às estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada. Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem lhes interessam.


“Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.


A paz é um dos maiores benefícios que o homem deseja. Os hebreus se saúda dizendo “Shalom”. Jesus despede os pecadores e as pecadoras com esta frase cheia de sentido: Vá em paz (Lc 7,50; 8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz” para as casas onde entravam. Trata-se da paz nova que vem transtornar a paz deste mundo. Mas não é uma paz fácil, pois há que construí-la na dificuldade e com muito esforço e maturidade espiritual. A paz é fruto do amor que conclui perdão e reconciliação, resultado de uma comunhão fraterna que elimina as causas da divisão e da desunião (unir= salvar; desunir= perder-se/sem salvação). Quando se quer a paz deve se procurar as razões para querê-la e eliminar as causas da sua ausência na comunidade ou na convivência. Precisamos descobrir de onde vêm os males que causam a ausência da paz. Perguntar sobre a origem dos males significa mexer com certos privilégios de certas pessoas. Jesus estava muito consciente disso. Por isso, ele afirmou: ”Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão“.


Jesus traz a paz, dá a paz, mas não a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e sociais que não salvam: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. O Pai não pode compactuar com a maldade do filho e vice-versa. A mãe não pode participar da desonestidade da filha e vice-versa. Cada membro de uma família deve ficar do lado do bem, da honestidade, da verdade e assim por diante. Somente acontecerá tudo isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso coração. Por isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.


Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus. Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala é sua própria morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos homens, esquecendo-se de si próprio. Quem quiser seguir a Jesus fielmente, quem quiser viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus deve estar preparado para ser perseguido até ser morto (cf.2Tm 3,12). Mas trata-se de uma morte que termina na glorificação da vida em Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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